O ano era 1985. O Brasil vivia um novo tempo. Com o fim da Ditadura Militar, o país começava a reencontrar sua voz, em meio ao processo de redemocratização. A comunicação ganhava fôlego, e a televisão já consolidada como principal meio de informação e entretenimento, onde expandia suas fronteiras com o surgimento de novas emissoras em diversos cantos do país.
NOVOS TEMPOS
Foi nesse cenário que nasceu a TV Timon, no dia 25 de abril de 1985, no município maranhense que inspirou o nome da emissora. A iniciativa foi fruto do esforço de três figuras políticas: os deputados federais José Teixeira e José Eloff, e o então prefeito de Timon, Napoleão Guimarães. A transmissão era ainda modesta, com sinal experimental, e retransmitia a programação da TV Bandeirantes.
TV Meio nasceu no Maranhão, com sede em Timon | Foto: Arquivo TV Meio
O primeiro estúdio foi montado no alto de um morro, na Avenida Belo Horizonte. Em agosto do mesmo ano, a emissora trocou de rede e passou a ser afiliada ao SBT (Sistema Brasileiro de Televisão).
Torre da TV Timon, no Maranhão, em 1986 | Foto: Arquivo TV Meio
NOMES QUE FIZERAM HISTÓRIA
Quem viveu tudo desde o começo foi o jornalista Amadeu Campos, que deu os primeiros passos na profissão como o primeiro repórter da TV Timon. Ele lembra bem da fase de formação da equipe.
“O Marcos Rezende, que era meu professor na Federal, foi chamado para implantar o departamento de jornalismo da TV Timon, que já estava no ar com a programação nacional da Bandeirantes, mas ainda não tinha outorga para conteúdo local. Ele convidou uma equipe para começar a montar o departamento e se preparar para quando a programação local fosse liberada. Estagiamos lá, nos preparamos, fazíamos um telejornal semanal enquanto aguardávamos o momento de entrar no ar. Foi ali que aprendi cada etapa: apresentação, reportagem, edição… depois fiquei só na reportagem, que acabou sendo meu caminho na profissão.”
A programação local só foi ao ar no ano seguinte, em 1986, com o Cidade 7, um telejornal exibido ao meio-dia e apresentado por J. Leite, jornalista paranaense. Aos poucos, a grade foi se ampliando, novos programas surgiram, e a TV Timon passou a retratar, de forma mais próxima, a realidade do Piauí e do Maranhão.
Foi também nesse período que Fátima Guimarães iniciou sua trajetória como produtora de televisão — mais um nome entre tantos que ajudaram a construir a história da emissora que mais tarde se transformaria na TV Meio.
Foi também nesse período de expansão da programação local que Fátima Guimarães iniciou sua trajetória na televisão. Ela entrou na emissora como recepcionista, mas não demorou muito para que novos desafios surgissem.
Fátima Guimarães compartilha com carinho diversos registros da sua época de produtora de TV | Foto: Helder Felipe
“Entrei como recepcionista e, acho que depois de uma semana, passei a ajudar como uma espécie de secretária de um programa chamado Comando do Meio-Dia. Era um programa grande, com muito assistencialismo, jornalismo mais ousado, que a gente fazia com três câmeras CCD — e uma delas era maravilhosa, nunca esqueci dela. Pouco tempo depois, acabei assumindo a produção. Passei a organizar os atendimentos dos apresentadores, separando tudo por assunto. Foi aí que me tornei produtora.”
Arquivo de fotos de Fátima Guimarães revelam seu amor pela emissora | Foto: Arquivo TV Meio
A rotina era intensa. O Comando do Meio-Dia movimentava a redação com pautas comunitárias, denúncias e um formato mais direto, voltado para os problemas do povo. Fátima foi uma das responsáveis por dar ordem ao caos que vinha das ruas para a TV, organizando a demanda, classificando os temas e garantindo que tudo virasse conteúdo no ar. Assim, foi se consolidando como uma das primeiras produtoras da emissora.
TV Meio passou a aperfeiçoar seu conteúdo no início dos anos 90 | Foto: Arquivo TV Meio
EM EVOLUÇÃO
A evolução tecnológica da TV Meio foi testemunhada de perto por Johnny Lopes. Há quase quatro décadas, ele estava lá, quando tudo ainda era novidade, desafio e sonho.
“Nós éramos um patinho feio, né? Estávamos do lado de Timon. As TVs de Teresina nos viam assim: como o pessoal que vinha do outro estado, do outro lado do rio. Mas nosso foco sempre foi Teresina, a grande Teresina. Até o PG assumir, os equipamentos eram muito ruins, deixavam a desejar. A gente fazia o que podia com o que tinha. Quando ele chegou, começou a investir, deu condições pra gente fazer uma televisão melhor. E foi o que aconteceu.”
No início dos anos 1990, a gestão da TV passa para as mãos de Paulo Guimarães, o PG, filho de Napoleão Guimarães. É quando a emissora começa a se transformar. O jeito direto, popular e mais próximo das pessoas logo conquistou o público. A TV Timon virava, aos poucos, a TV Meio.
Johnny acompanhou tudo. Hoje, aos 38 anos de casa, ele é Diretor Técnico e Operacional do grupo. Entrou ainda adolescente, como estagiário, no fim de 1985 — levado pela curiosidade durante um evento de debutantes da irmã, que seria apadrinhado por José Teixeira, então presidente da emissora. Pediu ao pai para conhecer os bastidores da TV e saiu de lá com um estágio.
Johnny Lopes ingressou na TV Meio na década de 90. Hoje, ele é Diretor Técnico Operacional do Grupo | Foto: Arquivo TV Meio
“Passei dois anos estagiando, aprendendo muito com pessoas maravilhosas, que me ensinaram o que sei até hoje. Depois, voltei como contratado, e fui assumindo mais funções. Era o único que tinha tempo e disponibilidade, acabou sobrando pra mim", brincou.
Johnny Lopes é hoje referência na operação técnica televisiva | Foto: Helder Felipe
Com o tempo, virou referência na operação técnica. Viveu momentos marcantes, como a queda da torre da emissora, em Timon, no ano de 1996. A solução, improvisada com micro-ondas da marca Ikegami, entrou para a história.
“Liguei pro Seu Vicente e disse: ‘Acabou-se tudo, caiu a torre’. E ele respondeu: ‘Cala a boca, Johnny, vai dar certo’. E deu. Em poucas horas, conseguimos colocar a TV no ar de novo.”
PIONEIRA
Johnny também participou de feitos pioneiros da emissora. Como a implantação do primeiro sistema de uplink digital da América Latina — em Teresina. “A equipe americana veio primeiro aqui, antes mesmo da TV Bahia”, conta, com orgulho.
Mesmo com os desafios que a televisão enfrenta hoje, especialmente diante da concorrência com o mundo digital, Johnny segue confiante. Vê os 40 anos da TV Meio como parte da própria trajetória. “Os 40 anos do grupo Meio são como 40 anos meus também. Estar aqui é ver que tudo valeu a pena.”
E essa sensação de pertencimento não é só dele. Muitos dos que ajudaram a construir a emissora compartilham desse mesmo vínculo. “A maioria dos colaboradores tem mais de 20 anos de casa. Porque gostam do que fazem, porque gostam de desafios e sabem o valor que isso aqui tem”, conclui Johnny.
Para o professor Fonseca Neto, historiador e militante social, a TV Timon surgiu como uma experiência de comunicação singular, principalmente por romper com o modelo engessado das emissoras da época e conquistar, mesmo sendo maranhense, um espaço importante no público de Teresina.
Fonseca Neto, historiador da Universidade Federal do Piauí (UFPI) celebra a história da emissora | Foto: Helder Felipe
“Lembro da chegada dessa televisão como algo muito diferente. Uma concessão de fora, de uma cidade vizinha, mas que rapidamente se integrou à capital e passou a dialogar com Teresina de uma maneira que nenhuma outra emissora local fazia”, observa Fonseca. “Era como se ela trouxesse algo novo, mais livre, menos preso às amarras tradicionais que impediam certos debates. Isso a fazia singular.”
Segundo o historiador, a emissora conquistou o público com uma linguagem mais solta, repórteres atuantes nas ruas e um jornalismo voltado à realidade das pessoas. “A TV Timon, com sua forma de fazer comunicação mais direta, abriu espaço para discussões públicas, movimentos sociais e debates universitários. Ela se insinuou no cotidiano da cidade e criou sua audiência no grande público da capital.”
Fonseca destaca que, naquele momento, essa forma de atuação era incomum e provocava uma espécie de reconfiguração da comunicação local. “Era uma televisão com sotaque próprio, sem algumas das amarras e circularidades que as teias locais impunham. Isso permitia uma presença mais viva, mais próxima das pessoas.”
Câmeras usadas ainda na década de 80 são guardadas em uma sala especial do Grupo Meio | Foto: Raíssa Morais
A mudança para Teresina, em 1996, também marcou o início de um salto tecnológico. Johnny Lopes, diretor técnico e operacional da Rede Meio, lembra com detalhes do esforço para modernizar a emissora e acompanhar as inovações do setor.
“No começo, trabalhávamos com equipamentos muito simples, quase improvisados, mas sempre com vontade de fazer acontecer. Com o tempo, fomos investindo em tecnologia, modernizando os estúdios, migrando para o digital, melhorando sinal e qualidade de imagem”, conta Johnny.
Televisões de tubo que antes ficavam nas salas de edições da TV Meio | Foto: Raíssa Morais
Ele lembra que, nos primeiros anos, muito do que se fazia era baseado em criatividade e adaptação. “Tinha que dar um jeito. A gente desmontava, remontava, inventava formas de captar som e imagem com o que tinha em mãos. Mas isso nos ensinou muito e criou um DNA de equipe comprometida, que carrega a Rede Meio até hoje.”
A evolução dos equipamentos e a capacitação técnica da equipe permitiram à TV ampliar sua cobertura, diversificar a programação e melhorar a experiência do telespectador. “Hoje temos uma estrutura robusta, com tecnologia de ponta e profissionais altamente capacitados. Chegar até aqui foi um desafio, mas também uma construção coletiva, feita com muita paixão pela comunicação”, finaliza.