
O diretor Kleber Mendonça Filho volta a representar o Brasil na competição oficial do Festival de Cannes, na França, com o filme O Agente Secreto. É a terceira vez que o cineasta disputa a Palma de Ouro, a mais importante premiação do evento, considerado um dos mais prestigiados do cinema mundial. Com esse retorno, o Brasil reafirma sua presença em Cannes, onde já conquistou pelo menos seis prêmios nas categorias principais, além de reconhecimentos em mostras paralelas.
Primeiras conquistas e o histórico da Palma
A trajetória brasileira em Cannes começou em 1953, com a vitória de O Cangaceiro, de Lima Barreto, na extinta categoria de Melhor Filme de Aventura. O título, que também teve o diretor no elenco, foi o primeiro longa brasileiro a receber um prêmio internacional.
Mas foi em 1962 que o Brasil alcançou o feito mais notável: a Palma de Ouro para O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte. O filme retrata a peregrinação de Zé do Burro, interpretado por Leonardo Vilar, que carrega uma cruz do interior da Bahia até Salvador para cumprir uma promessa.
Indicações frequentes e outras premiações principais
Desde então, o país acumulou 18 indicações às categorias principais do festival ao longo de suas 75 edições. Em 1969, Glauber Rocha dividiu o prêmio de Melhor Diretor com o tcheco Vojtěch Jasný, pelo icônico O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, ambientado no sertão baiano e protagonizado por personagens como jagunços e cangaceiros.
Em 1986, a atriz Fernanda Torres recebeu o prêmio de Melhor Atriz por sua atuação em Eu Sei Que Vou Te Amar, de Arnaldo Jabor. Ela dividiu a conquista com a alemã Barbara Sukowa. A vitória foi um marco que antecipava uma carreira de destaque — Fernanda é, inclusive, indicada ao Oscar em 2025.
Mais de duas décadas depois, em 2008, Sandra Corveloni repetiu o feito ao vencer a mesma categoria pela performance em Linha de Passe, de Walter Salles. O diretor, aliás, compartilha com Kleber Mendonça o posto de brasileiro mais indicado à Palma de Ouro, com três participações cada um.
Reconhecimento da formação brasileira em atuação
A atriz e diretora Mariana Loureiro, que trabalhou com Salles em Abril Despedaçado, destacou a preparação da atriz estreante no cinema.
“Isso mostra a força da equipe e da formação consistente em dramaturgia em um prêmio. Sandra já vinha do teatro, mais de 22 anos, mas foi a estreia dela no cinema. Lembro que ela falou que foi muito importante a preparação de elenco para se adequar à linguagem, imprimir força, intensidade, mas ao mesmo tempo delicadeza que o audiovisual pede”, afirmou.
Retorno ao pódio com Bacurau
Em 2019, o Brasil voltou a ser premiado em uma das categorias principais com o longa Bacurau, dirigido por Mendonça Filho em parceria com Juliano Dornelles. A produção conquistou o Prêmio do Júri, empatando com Les Misérables, de Ladj Ly. A distinção marcou o retorno do país ao palco principal do festival depois de mais de uma década.
Expectativa para 2025: Wagner Moura pode fazer história
Este ano, o Brasil retorna com força à disputa pela Palma de Ouro com O Agente Secreto, estrelado por Wagner Moura. Ambientado na década de 1970, o thriller político se passa durante o período da ditadura militar brasileira. A performance do ator é apontada como um dos grandes trunfos da produção.
“Pode ser que esse ano tenhamos o primeiro prêmio de Melhor Ator para o Brasil esse ano. O próprio Kleber disse acreditar que essa é a melhor atuação do Wagner no cinema, e olha que ele já fez personagens incríveis. Acho que tem uma grande expectativa aí”, projeta Mariana Loureiro, que também contracenou com o ator em Abril Despedaçado.
Categorias ainda sem vitória e dados do levantamento
Apesar do histórico vitorioso, o país nunca venceu nas categorias de Melhor Ator, Melhor Roteiro, Melhor Primeiro Filme ou Grand Prix, este último reservado para o longa mais original segundo o júri.
Os dados apresentados foram apurados pela empresa de inteligência Oddspedia, com base nos registros oficiais do festival e no banco de dados do IMDb, considerando apenas as competições da mostra principal de Cannes.