Em um mundo ainda marcado pelos traços de prancheta e a máquina de datilografia, nascia, há seis décadas, a profissão que se tornaria a espinha dorsal da racionalidade nas organizações brasileiras. A Lei nº 4.769, de 9 de setembro de 1965, não apenas regulamentou uma carreira; ela institucionalizou uma ciência social aplicada, erguendo a administração à condição de farol para a tomada de decisões em meio à complexidade. De um Brasil que engatinhava na industrialização à era da inteligência artificial, a profissão de administrador trilhou um caminho de lutas por reconhecimento, transformações de identidade e uma busca incessante por evidenciar seu impacto na saúde das organizações e, por consequência, da sociedade.
#PARATODOSVEREM A imagem tem fundo azul-escuro e está dividida em duas partes. À esquerda, aparece o logotipo do site meionews.com. A palavra “meio” está em letras grandes, brancas e arredondadas, e abaixo dela, em menor tamanho, está escrito “news.com” também em branco. Ao lado do texto, há um símbolo geométrico formado por quatro losangos azul-escuro, unidos pelas pontas, lembrando uma seta dupla ou um mosaico simétrico.À direita, sobre um círculo azul-claro, em letras maiúsculas brancas, lê-se o título: “A GÊNESE DE UMA CIÊNCIA NACIONAL”. FIM DA DESCRIÇÃO.
As raízes do ensino administrativo no Brasil são profundas e estão intrinsecamente ligadas ao projeto de modernização do Estado e da economia. Enquanto os Estados Unidos já formavam cerca de 50 mil bacharéis em Administração por ano na década de 1950, o Brasil dava seus primeiros passos acadêmicos. O espírito modernizante, que ganhava força a partir do governo Getúlio Vargas, exigia mão de obra qualificada para planejar, controlar e analisar as atividades empresariais e estatais em um país que passava aceleradamente de um estágio agrário para a industrialização.
USP está entre as pioneiras no ensino da administração no Brasil (Foto: Arquivo USP)
#PARATODOSVEREM imagem em preto e branco mostra um prédio imponente de estilo neoclássico, com dois andares principais e um nível superior mais recuado, ornamentado por janelas altas e arcos bem definidos. A fachada é marcada por linhas retas, colunas e grandes vãos envidraçados, transmitindo solidez e imponência. À esquerda, uma edificação menor, integrada ao conjunto, exibe três arcos na parte inferior e duas janelas no andar superior. À direita, vê-se uma extensão mais baixa, também conectada ao edifício central. Em frente ao prédio, há uma calçada larga onde circulam algumas pessoas e carroças puxadas por cavalos, sugerindo um registro fotográfico do início do século XX. O conjunto arquitetônico retratado é o histórico prédio da Universidade de São Paulo (USP), em sua configuração original. FIM DA DESCRIÇÃO.
Foi nesse caldo de cultura que duas instituições se tornaram pilares fundadores: a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a Universidade de São Paulo (USP). A FGV, visionariamente, criou a Escola Brasileira de Administração Pública (EBAP) no Rio de Janeiro, em 1952, e, dois anos depois, a Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP). Estas não eram meras faculdades; eram projetos estratégicos, muitas vezes erguidos com apoio internacional, para formar uma nova elite intelectual e técnica capaz de conduzir as transformações econômicas do país. O modelo, fortemente inspirado nas experiências norte-americanas, moldou os primeiros currículos e forjou os administradores que começariam a ocupar espaços nas nascentes burocracias estatais e privadas.
#PARATODOSVEREM A imagem tem fundo azul-escuro e segue o mesmo padrão visual da anterior, dividida em duas partes. À esquerda, está o logotipo do site meionews.com. A palavra “meio” aparece em letras brancas grandes e arredondadas, enquanto abaixo, em menor tamanho, lê-se “news.com”, também em branco. Ao lado do texto, há um símbolo geométrico formado por quatro losangos azul-escuro unidos pelas pontas, criando uma figura simétrica que lembra duas setas opostas - a figura representa a administração. À direita, sobre um círculo azul-claro, está o título em letras maiúsculas brancas: “DO ‘TÉCNICO’ AO ‘ADMINISTRADOR’: UMA BATALHA POR IDENTIDADE”. FIM DA DESCRIÇÃO.
A regulamentação de 1965, no entanto, trouxe consigo uma nomenclatura que por anos seria uma fonte de ambiguidade: "Técnico em Administração". O termo, embora referente a um bacharel, carregava uma carga que muitas vezes confundia a sociedade e o próprio mercado.
A Administração lutou pela mudança na denominação (Foto: Shutterstock)
#PARATODOSVEREM A imagem mostra um conjunto de arquivos metálicos de escritório, dispostos lado a lado em várias colunas. As gavetas estão parcialmente abertas, revelando pastas suspensas organizadas em seu interior. As pastas são de cor amarela com abas brancas, onde normalmente se colocam etiquetas de identificação. O mobiliário é de tom cinza e transmite a ideia de organização e armazenamento sistemático de documentos, típico de ambientes administrativos, jurídicos ou de bibliotecas e arquivos históricos. FIM DA DESCRIÇÃO.
"Era uma formação de nível superior, porém, com a denominação de técnico em administração. E com o passar do tempo, nós estávamos sentindo que o pessoal pensava que nós éramos pessoal de nível médio", relembra Cristovam Areia Leão, presidente do Conselho Regional de Administração do Piauí (CRA-PI), com quase 50 anos de formado. "Então, o que aconteceu? Já no governo José Sarney, houve a mudança para administrador. Então, com essa mudança já foi um grande avanço, porque de repente, a sociedade começou a conhecer o profissional da administração."
Esta mudança, consolidada pela Lei nº 7.321 de 1986, foi mais do que semântica. Foi um marco na luta por visibilidade e respeito. "Não é só o nome, mas houve muitas mudanças. Por quê? Começamos a ocupar vários espaços na gestão pública e na administração privada. Começamos realmente a mostrar a importância do administrador", complementa Areia Leão, testemunha ocular dessa evolução.
#PARATODOSVEREM A imagem tem fundo azul-escuro e está dividida em duas partes. À esquerda, aparece o logotipo do site meionews.com: a palavra “meio” em letras brancas grandes e arredondadas, e abaixo, em menor tamanho, o texto “news.com”, também em branco. Ao lado, há um símbolo geométrico formado por quatro losangos azul-escuro unidos pelas pontas, criando uma figura simétrica que lembra duas setas opostas. À direita, sobre um círculo azul-claro, está o título em letras maiúsculas brancas: “O ADMINISTRADOR COMO CIENTISTA DAS ORGANIZAÇÕES”. FIM DA DESCRIÇÃO.
Enquanto a profissão consolidava sua identidade, sua essência era cada vez mais afirmada como uma ciência. Em artigo fundamental, o administrador e ex-presidente do Conselho Federal de Administração (CFA), Mauro Kreuz, defendeu que a administração é o pilar para decisões racionais. "Para quem ainda não sabe, a Administração também é uma ciência e, ao lado da Economia e da Contabilidade, forma o tripé das Ciências Sociais Aplicadas", escreveu.
A profissão de administrador evolui com o passar dos anos, mas não perde sua importância e essencialidade (Foto: Shutterstock)
#PARATODOSVEREM Na imagem, vemos um homem jovem, de pele clara e cabelos castanhos, sentado em uma mesa de um ambiente que parece ser um café moderno, com grandes janelas de vidro que permitem a entrada de bastante luz natural. Ele veste um terno cinza com camisa branca e usa óculos de grau. Com um semblante concentrado e leve sorriso, segura um celular na mão direita enquanto escreve em um caderno com a mão esquerda. À sua frente, sobre a mesa de madeira clara, estão abertos um notebook prateado, o próprio caderno, uma pasta preta e um lápis alaranjado. Ao lado do computador, há ainda uma xícara branca de café sobre um pires. O fundo mostra o reflexo da rua e de prédios do lado de fora, sugerindo que ele trabalha ou estuda em um espaço público, aproveitando o clima agradável. A cena transmite a ideia de produtividade, organização e equilíbrio entre tecnologia e escrita manual. FIM DA DESCRIÇÃO.
A comparação com outras profissões tradicionais é inevitável para destacar seu papel social. "O médico cuida da saúde humana; o engenheiro garante a segurança de uma obra; o advogado zela para que os direitos e garantias fundamentais sejam respeitados. E o Administrador? Este profissional é essencial para garantir a saúde das organizações de forma sustentável e viável", afirma Kreuz.
Os números do Sebrae, citados no artigo, dão concretude à tese: a falta de gestão profissional é uma das causas centrais para que 24,6% das empresas fechem as portas em seus dois primeiros anos de vida. O administrador, portanto, surge como o antídoto contra o "achismo" e o amadorismo.
Inauguração da atual sede do CFA (Foto: Arquivo CFA)
#PARATODOSVEREM Na imagem, registrada à noite, observa-se a inauguração do prédio do Conselho Federal de Administração (CFA). O local tem fachada moderna, com grandes colunas escuras e painéis de vidro refletindo a iluminação externa. No alto da entrada, uma placa iluminada exibe o nome da instituição. Em frente ao prédio, uma multidão se reúne para a solenidade. Homens e mulheres, muitos em trajes formais, ocupam todo o espaço disponível, conversando e acompanhando a cerimônia. As pessoas estão voltadas para a área principal do evento, onde alguns convidados se destacam, posicionados em frente à entrada. O ambiente é iluminado por refletores fortes, que criam pontos de luz intensa em contraste com o céu escuro. FIM DA DESCRIÇÃO.
Kreuz defendeu:
O administrador é o cientista da organização: ele analisa dados e confronta cenários para tomar decisões mais assertivas. Sem uma estratégia, ele fica refém do achismo.
#PARATODOSVEREM A imagem tem fundo azul-escuro e é composta por três elementos principais. À esquerda, aparece o logotipo do portal meionews.com, escrito em letras brancas, com “meio” em negrito e “news.com” em tipografia mais fina. No centro, há um símbolo geométrico em azul, formado por dois losangos maiores nas extremidades e dois menores no meio, compondo um desenho simétrico. À direita, em um círculo azul-claro, está o título em letras maiúsculas brancas: “O SURGIMENTO DO CRA PIAUÍ: AUTONOMIA E FORTALECIMENTO REGIONAL”. FIM DA DESCRIÇÃO.
A expansão da profissão pelo território nacional demandou uma estrutura de fiscalização e representação igualmente capilar. Os Conselhos Regionais (CRAs) foram criados para serem as antenas do Sistema CFA/CRAs em cada estado. No Piauí, a conquista da autonomia foi um capítulo recente e significativo na história da categoria.
Sede do CRA Piauí, localizada na zona Leste de Teresina. O Conselho está completando 22 anos (Foto: CRA Piauí)
#PARATODOSVEREM Na imagem, vemos a fachada iluminada do prédio do Conselho Regional de Administração do Piauí (CRA-PI), fotografada ao entardecer, com o céu em tons de azul profundo. A construção apresenta linhas modernas, com paredes em tom azul-escuro e uma parte central revestida em branco, onde está o logotipo da instituição — formado por figuras geométricas — acompanhado da inscrição em letras grandes: CRA-PI e, logo abaixo, “Conselho Regional de Administração”. Na entrada principal, há uma marquise branca e um espaço envidraçado que permite ver o interior claro e iluminado. Uma pessoa, em pé na porta de vidro, parece estar ao telefone ou conversando, transmitindo movimento ao ambiente. À direita, próximo ao prédio, ergue-se um edifício alto e contemporâneo, de muitos andares, reforçando o contraste entre a sede regional e o cenário urbano moderno de Teresina. FIM DA DESCRIÇÃO.
"Aqui no Piauí, nós tínhamos a terceira região, que era Ceará, Piauí e Maranhão, e nós éramos vinculados ao Ceará. Nós tínhamos uma delegacia aqui em Teresina", recorda o presidente Cristovam Areia Leão. A luta pela emancipação foi coroada com sucesso em 2003.
Nós buscamos a nossa independência. Aqui no Piauí, nós estamos também comemorando os 22 anos de emancipação. Somos conselho há 22 anos. De repente, nós começamos a ganhar o nosso espaço.
Desde então, o CRA-PI tem atuado na dupla frente da fiscalização e da promoção da profissão. "Os conselhos de classe existem para fiscalizar. Então, o CRA Piauí fiscaliza tanto empresas que atuam na área quanto profissionais, sejam consultores ou autônomos. Só este ano, já dobramos o número de registros", comemora. Para ele, a mensagem é clara: "Eu sempre digo: se você contrata um administrador, com certeza terá resultados."
#PARATODOSVEREM A imagem apresenta fundo azul-escuro e está dividida em três partes principais. À esquerda, aparece o logotipo do portal meionews.com, escrito em letras brancas, com “meio” em negrito e “news.com” em tipografia mais fina. No centro, há um símbolo geométrico em azul, formado por losangos que se conectam de maneira simétrica, lembrando uma seta dupla apontando para dentro. À direita, em um círculo azul-claro, está a chamada em letras maiúsculas brancas: “O FUTURO JÁ CHEGOU: A TRÍPLICE INTELIGÊNCIA DO ADMINISTRADOR”. FIM DA DESCRIÇÃO.
Se o passado foi de consolidação e o presente é de afirmação, o futuro reserva desafios exponenciais, centrados na relação entre o humano e o tecnológico. A Inteligência Artificial (IA) não é mais uma promessa distante, mas uma ferramenta presente que redefine processos e exige novas competências.
Para o presidente do CRA-PI, a resposta do administrador deve ser holística. "Antes de eu começar com IA, eu começo com II: a inteligência infinita. Todos nós temos. Depois vem a IE: a inteligência emocional. O administrador é aquele profissional que domina tanto a inteligência infinita quanto a emocional, porque busca o equilíbrio", filosofa Area Leão.
A IA, inteligência artificial, é importantíssima em todos os segmentos da sociedade. Ela auxilia e agiliza processos, mas se você não tiver o humano para corrigir, corre-se um grande risco. Então, é fundamental trabalharmos II, IE e IA juntos.
Esta visão é corroborada por estudos recentes. A Pesquisa Nacional Perfil dos Profissionais de Administração CFA 2023 revelou que 71,2% dos administradores consideram crucial se atualizar sobre inovações tecnológicas para manter a empregabilidade.
O administrador Alexandre de Cássio Rodrigues, vencedor do Prêmio Belmiro Siqueira 2024 com um artigo sobre Inteligências Artificiais Generativas, alerta: "Embora aumentem a produtividade, essas tecnologias trazem desafios éticos e exigem uma adaptação constante de profissionais e organizações." Seu trabalho destaca a necessidade urgente de desenvolver competências digitais, analíticas e socioemocionais.
#PARATODOSVEREM A imagem tem fundo azul-escuro e é organizada em três partes. À esquerda, está o logotipo meionews.com, em letras brancas, com “meio” em negrito e “news.com” em estilo mais fino. No centro, aparece um símbolo geométrico em azul, formado por losangos conectados que criam uma figura simétrica, lembrando setas voltadas para dentro. À direita, em um círculo azul-claro, está a frase em letras maiúsculas brancas: “A ADMINISTRAÇÃO DO PRESENTE, PREPARADA PARA O AMANHÔ. FIM DA DESCRIÇÃO.
Diante desse cenário dinâmico, a formação e a atitude do profissional devem ser de permanente evolução. "O administrador do futuro é a administração do presente se preparando para o amanhã", define Cristovam Area Leão. "As mudanças acontecem muito rápido. O que vale hoje pode não valer amanhã. Por isso, o administrador precisa se adaptar e estudar continuamente."
As habilidades exigidas vão além do domínio técnico. "O administrador precisa de habilidade conceitual, técnica e humana. A conceitual ajuda a absorver informações; a técnica, a aplicar conhecimentos específicos; e a humana, a se relacionar bem com a sociedade em geral", elenca o presidente do CRA-PI, destacando o empreendedorismo como uma competência agora essencial.
Com mais de 1.800 cursos de graduação no país e sendo uma das áreas com maior número de alunos, a Administração se massificou. O desafio, agora, é manter a qualidade e a relevância. O Sistema CFA/CRAs, que em 2025 celebrará o Jubileu de Diamante da profissão, projeta-se para esse futuro. Como destacado no Encontro Regional da Região Sul, a meta é potencializar a missão da categoria com o uso das tecnologias, sem abrir mão da fiscalização que protege a sociedade e defende as prerrogativas dos bons profissionais.
#PARATODOSVEREM A imagem tem fundo azul-escuro e está dividida em três partes. À esquerda, está o logotipo meionews.com, escrito em branco, com a palavra “meio” em negrito e “news.com” em letras mais finas. No centro, aparece um símbolo geométrico azul formado por quatro losangos conectados, que criam uma figura simétrica, semelhante a duas setas apontando uma para a outra. À direita, em um círculo azul-claro, destaca-se a frase em letras maiúsculas: “UM LEGADO QUE SE RENOVA”. FIM DA DESCRIÇÃO.
Seis décadas após a sua regulamentação, a profissão de administrador no Brasil completou a transição da prancheta analítica para a dashboard digital. Deixou para trás a sombra do "técnico" para se afirmar como o "cientista da organização". Superou a desconfiança inicial para se tornar peça-chave na governança pública e privada.
No artigo 'Decida-se pela Ciência da Administração', Kreuz elencou a importância de entender a administração como ciência (Foto: CFA)
#PARATODOSVEREM A fotografia mostra Kreuz, um homem de meia-idade, sentado em uma cadeira de couro preta, posando de forma formal. Ele veste um terno escuro com gravata preta de bolinhas brancas e camisa branca. Usa óculos de armação fina e tem barba e bigode aparados. O homem sorri levemente para a câmera, transmitindo simpatia e sobriedade. Ao fundo, vê-se parte de uma parede clara, duas bandeiras posicionadas atrás — uma delas com as cores do Brasil — e um painel decorativo metálico fixado na parede. O ambiente sugere um gabinete ou escritório institucional. FIM DA DESCRIÇÃO.
A jornada, narrada por pioneiros como Cristovam Areia Leão e fundamentada por cientistas como Mauro Kreuz, é a de uma ciência que aprendeu a valorizar a sua própria essência. "Administradores profissionais e competentes são recursos sociais importantes", sentencia o artigo do CFA.
Em um mundo de incertezas e disrupções, essa constatação nunca foi tão verdadeira. O futuro, com suas IAs e complexidades, não reserva a obsolescência do administrador, mas consagra a sua indispensabilidade – desde que ele nunca se esqueça de que sua maior competência reside na sabedoria de equilibrar a fria lógica dos dados com a quente inteligência das relações humanas.






