André Gonçalves: O jornalismo é fundamental, mas precisa se reinventar

Publicitário, escritor e fotógrafo, André Gonçalves chegou ao Piauí em 1989 e junto com o parceiro Wellington Soares vem ajudando a construir o cenário cultural dando destaques a pessoas e locais de Teresina

André Gonçalves é publicitário e um dos membros do conselho editorial da revista piauiense Revestrés, além de artista, fotógrafo e escritor. Nasceu no Rio de Janeiro, foi criado em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais e chegou ao Piauí em 1989.  Atuando como redator de publicidade  desde os 16 anos, tem três livros publicados (poesia/literatura), também faz artes visuais – em especial fotografia - com algumas exposições individuais e participação em coletivas no Brasil e em vários países.

A revista Revestrés é fruto da parceria de André Gonçalves e o professor Wellington Soares e, desde 2012, ajuda a construir o cenário cultural dando destaque não só para pessoas e locais de Teresina e do Piauí, como também para personagens e lugares de outros estados do Brasil, incluindo artes visuais, culinária, música, cinema e literatura.  Em seu processo de produção tem como foco a cultura com a sua importância para o Jornalismo Cultural.


O Piauí tem cultura, arte e sabedoria

Com 45 edições lançadas, a Revestrés veio para mostrar ao mundo que o Piauí tem cultura, arte, literatura, sabedoria e talento. Mas André Gonçalves ressalta que a Revestrés não é uma revista sobre a cultura local. É sobre cultura de toda parte. Sem fronteiras, mas com alma piauiense.

O publicitário possui ainda três cursos superiores incompletos – Direito, Comunicação e Filosofia – e um em andamento – Ciência Política, que espera conseguir concluir.  Em entrevista ao Jornal Meio Norte, o editor fala sobre o início da revista, assim como produção cultural e resistência política.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


“"O cenário do país é de desalento, em todas as áreas. Mas é possível reagir e resgatar o que foi perdido, reduzir desigualdades e ver a vida melhor para os brasileiros""
André Gonçalves

JMN: Como anda a produção em tempos de pandemia? O que tem feito diante o isolamento social?

AG: Sou funcionário de uma agência que segue trabalhando em regime remoto e devo cumprir prazos e metas. Mas, fora dessa obrigação óbvia, fico meio confuso com alguma cobrança de “produção”: morrem mais de mil pessoas no país todos os dias nessa pandemia e tudo deveria estar voltado para parar essa tragédia. Tenho planos, mas está tudo em suspenso. Quero, primeiro, sobreviver e que as pessoas que amo sobrevivam e que quem precisar de ajuda a receba. Qualquer plano só faz sentido quando isso acabar.


JMN: Qual seu posicionamento sobre os ataques que o jornalismo tradicional tem enfrentado? Isso também refletindo no jornalismo cultural?

AG: O que você chama “jornalismo tradicional” tem de fazer ele mesmo a tal “autocrítica”. O jornalismo é fundamental, mas precisa rever erros históricos e aprimorar o que faz de bom. Precisa se reinventar, agora que o conceito de “notícia” está abalado; tem de ressignificar o que chama de “imparcialidade”; e, tendo a concorrência do cidadão com smartphone nas mãos deve se recriar para fazer a diferença. O jornalismo cultural passa pelo mesmo processo, deve se reinventar, deve ressignificar ainda “cultura” e estabelecer novos modos de se relacionar com o público.


JMN: Você integra algum movimento de resistência para sobreviver a opressão da dominação, seja ela cultural ou política?

AG: Não participo de nenhum “movimento” organizado. Pelo menos, ainda. Apenas, ciente de meus privilégios e da desigualdade estrutural que atravessa as relações no país e no mundo, tento me posicionar. Nem sempre foi assim. Errei muito, vou errar mais, mas também aprendi muito nos últimos anos. É uma busca permanente. O cenário do país é de desalento, em todas as áreas. Mas é possível reagir e resgatar o que foi perdido, reduzir desigualdades e ver a vida melhor para os brasileiros. Mas não vai ser fácil.


JMN: O que costuma levar em consideração na hora de elaborar as pautas e a abordagem que será dada em cada edição?

AG: Não há uma regra. As pautas são dadas pela equipe. Os editores têm muito mais o papel de mediadores. De certo modo a equipe “edita” a Revestrés – ao menos, gostamos de pensar isso, é assim que a queremos. A abordagem é de curiosidade e de respeito à produção artística e intelectual, seja de que vertente for. Únicos limites claros são a valorização do humano e o posicionamento absolutamente contrário a qualquer forma de opressão e desrespeito à dignidade das pessoas.


JMN: A revista tem um foco cultural envolvendo diversos segmentos da arte. Como avalia o cenário cultural no Piauí atualmente?

AG: Não tenho possibilidade de ser um “avaliador” da produção cultural no Piauí, não pretendo ser e nem creio que nesse momento isso seja relevante. Mais importante é que artistas e produtores culturais sobrevivam – nos sentidos físico, material e artístico, criador. Avaliações e leituras sobre a produção cultural podem ser contribuições, aí sim, da Academia e de estudiosos para nos ajudar a compreender a complexidade cultural do estado, maior do que muita gente imagina.


Jornal Meio Norte: Como surgiu a ideia de criar a Revestrés?

André Gonçalves: A Revestrés surgiu com um convite do meu amigo e parceiro Wellington Soares, a ideia foi dele. Me convidou para criarmos uma publicação e prontamente concordei. O nome da revista é sinalização de seu propósito: remete à linguagem piauiense, mas tenta fazer as coisas meio de revestrés – ao contrário da corrente. Falar de arte, cultura e conhecimento hoje e pretender ser uma publicação periódica é ir na contramão do “viável”. No Piauí temos outros vários bons exemplos de gente que faz isso – e bem.


SEÇÕES