Os líderes militares do governo de transição exigiram reformas de seus colegas civis e pediram a substituição do gabinete do primeiro-ministro. A manobra foi considerada um golpe por líderes civis.
Houve vários golpes fracassados desde 2019, o mais recente deles no mês passado. A principal figura civil, o primeiro-ministro Abdallah Hamdok, ligou o movimento a seguidores leais a Bashir - muitos dos quais dizem estar inseridos nas forças armadas, nos serviços de segurança e em outras instituições do Estado.
Nas últimas semanas, manifestantes pró-exército invadiram a capital, Cartum. Por outro lado, também houve grandes protestos espontâneos em apoio ao primeiro-ministro. Os manifestantes pró-militares acusaram o governo de não conseguir solucionar os problemas do país.
Hamdok tinha implantado algumas medidas impopulares para tentar reformar a economia, como uma redução de subsídios aos combustíveis. A fragilidade política do Sudão tem um longo precedente, no entanto.
Nas décadas anteriores, a fragmentação dos partidos políticos e sua incapacidade de construir consenso pavimentaram o caminho para tentativas de tomada do poder por meio de golpes militares. As tentativas de ruptura tinham como pretexto a "restauração da ordem", como escreve o analista regional Magdi Abdelhadi.
Hoje, no Sudão, existem pelo menos 80 partidos políticos. Este amplo partidarismo conturbou o Conselho Soberano: divisões internas entre os campos militares e civis travaram qualquer consenso político.