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Diabetes e saúde bucal: o alerta que muita gente ignora

A maior parte das orientações sobre diabetes costuma priorizar órgãos como coração, rins, olhos e fígado.

Quando a glicose afeta o sorriso: os riscos bucais do diabetes | Foto: Freepik
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Imagine tentar saborear sua comida preferida e, de repente, perceber que mastigar incomoda, suas gengivas estão sensíveis e a boca parece sempre seca. Para quem convive com diabetes, esses sintomas podem fazer parte do dia a dia, embora raramente recebam a atenção necessária.

A maior parte das orientações sobre diabetes costuma priorizar órgãos como coração, rins, olhos e fígado. A saúde bucal, porém, fica à margem — mesmo sendo profundamente influenciada pelo controle da glicose e, ao mesmo tempo, impactando a saúde geral do paciente.

Atualmente, uma em cada nove pessoas adultas no mundo vive com diabetes, e mais de 40% sequer sabem que têm a doença. As projeções globais indicam que, até 2050, um em cada oito adultos será afetado, chegando a 853 milhões de indivíduos — um salto de 46%.

A RELAÇÃO ENTRE BOCA E DIABETES: UM CICLO QUE SE RETROALIMENTA

Controlar a glicemia é fundamental não apenas para o funcionamento do organismo como um todo, mas também para a saúde da boca. Ao mesmo tempo, problemas bucais podem dificultar o controle do diabetes, criando um ciclo de agravamento.

Quando a glicose permanece alta por longos períodos, o corpo perde capacidade de combater infecções, vasos sanguíneos sofrem danos e a cicatrização fica mais lenta. Isso torna a cavidade bucal — formada por tecidos delicados e uma grande diversidade de microrganismos — ainda mais vulnerável.

Entre os problemas mais frequentes estão: boca seca, cáries, doença gengival com perda óssea, infecções como candidíase, feridas orais, dificuldade com dentaduras, alterações no paladar e, em casos extremos, perda de dentes. Essas condições podem prejudicar a alimentação, a autoestima e até o controle da glicose.

Um estudo recente conduzido por mim revelou uma associação importante entre diabetes tipo 2 e cáries severas. A combinação de glicose elevada e mudanças na qualidade da saliva tende a agravar o quadro.

A falta de informação contribui para que sintomas como boca seca e cáries avancem sem diagnóstico, mesmo sendo preveníveis com orientação adequada e cuidados odontológicos regulares.

DOENÇA GENGIVAL: QUANDO O AÇÚCAR ALIMENTA UM PROBLEMA SILENCIOSO

Pessoas com diabetes apresentam risco aumentado de desenvolver doença gengival. E essa relação funciona em mão dupla: a gengivite e a periodontite também tornam mais difícil controlar a glicemia.

Com mais açúcar circulando na saliva, as bactérias da boca encontram um ambiente propício. Elas produzem ácidos que irritam e inflamam as gengivas. Se a infecção progride, o osso que sustenta os dentes começa a se deteriorar, causando mobilidade dentária e até perda dental.

Manter a glicose estável e reforçar os cuidados de higiene bucal é a principal estratégia para evitar esse avanço.

BOCA SECA E CÁRIES: UM ALERTA NECESSÁRIO

A boca seca é outro sintoma comum entre pessoas com diabetes. Embora afete cerca de 20% da população geral, a prevalência é ainda maior entre diabéticos, idosos e mulheres. Medicações frequentes — como as usadas para pressão alta, depressão e dores neuropáticas — podem piorar o quadro.

Sem saliva suficiente, a boca perde sua proteção natural. Ela não consegue remover resíduos de alimentos nem neutralizar ácidos, aumentando o risco de cáries e infecções.

Dentistas podem ajudar com tratamentos preventivos, como flúor de alta concentração, enxaguantes específicos e orientações personalizadas.

Para quem usa dentadura, a saliva é indispensável: evita atrito, melhora a adaptação e reduz feridas. Quando há secura, é comum surgirem úlceras e candidíase.

O cuidado diário — retirar a prótese à noite, higienizá-la adequadamente, escovar gengivas e língua e fazer consultas periódicas — é fundamental para conforto e bem-estar.

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