Uma pesquisa apresentada na última edição do congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco), trouxe revelações promissora para quem enfrenta o melanoma, um dos tipos mais agressivos de câncer de pele. Segundo os dados, adotar uma dieta rica em fibras, com ingestão de até 50 gramas por dia, pode potencializar os efeitos da imunoterapia em quem faz esse tratamento contra a doença.
De acordo com a pesquisa, que reuniu pesquisadores do mundo todo em Chicago, nos Estados Unidos, a medida pode contribuir para a redução do tamanho dos tumores, prolongando o tempo de sobrevida dos pacientes, e ainda aplacar os efeitos colaterais do tratamento.
Os voluntários foram acompanhados durante dez semanas com imunoterapia (inibidores de checkpoint imunológico), que ativa células imunes para combater o câncer. 28 pacientes foram divididos em dois grupos, seguiram uma dieta com aumento progressivo de fibras (de 30 g a 50 g/dia), enquanto outros 15 mantiveram uma ingestão de 20g/dia. Todas as refeições foram fornecidas pelos pesquisadores.
Durante os testes, apostou-se em refeições com ingredientes ricos em fibras típicos da culinária do Texas, nos EUA. Dentre os alimentos oferecidos estavam frango teriyaki com brócolis, muffin inglês, burrito de frango com feijão, brownie de feijão preto, laranja e uva.
Os efeitos adversos foram mais leves entre os que consumiram mais fibras
71,4% tiveram algum evento colateral, ante 93,3% no grupo controle. Somente 28,6% dos pacientes registraram casos mais graves foram registrados em apenas 28,6% dos pacientes da dieta rica em fibras, comparado a 40% entre os demais.
Imunoterapia e alimentação
Tratar o melanoma com cirurgia e quimioterapia oferecia resultados limitados em longo prazo. A imunoterapia, que estimula o sistema imune do próprio paciente a combater o tumor, representou um avanço. Agora, o desafio é tornar essa resposta ainda mais eficiente e é aí que a alimentação pode entrar.
O oncologista Gustavo Schvartsman, do Einstein Hospital Israelita avalia que embora os especialistas ainda não consigam determinar os mecanismos exatos envolvidos nessa correlação, experimentos anteriores já haviam deixado claro que uma microbiota diversa pode influenciar no bom funcionamento do sistema imune. “O consumo de fibras aumenta as bactérias presentes nos intestinos e estimula seu processo de fermentação natural, diversificando os compostos presentes nesses órgãos”, explica.
Para além da saúde intestinal, essa fermentação gera ácidos graxos que ajudam a reduz inflamações e fortalece o sistema imunológico na luta contra as células cancerígenas. “Como se trata de um estudo de fase 2, ele ainda não é conclusivo. Mas posso dizer que foi uma elegante prova de conceito da correlação entre a microbiota e o sistema imunológico e, como tal, já pode ser implementada como uma recomendação nas consultas médicas”, afirma o oncologista do Einstein.