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Saiba o que acontece com o corpo ao passar 8 horas por dia no celular

Uso excessivo do smartphone pode causar fadiga ocular, dores musculares, alterações no sono e problemas mentais; veja o que dizem os especialistas

Saiba o que acontece com o corpo ao passar 8 horas por dia no celular | Foto: Reprodução/ Internet
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Ficar horas com o celular em mãos já se tornou rotina para milhões de brasileiros. Entre mensagens, redes sociais, vídeos curtos e tarefas de trabalho, o tempo simplesmente desaparece.

Dados do relatório Digital 2023 da DataReportal, analisados pela plataforma Electronics Hub, mostram que os brasileiros passam, em média, nove horas por dia em frente às telas, o equivalente a mais da metade do tempo acordados. É o segundo maior índice do mundo, atrás apenas da África do Sul.

Apesar dessa longa exposição, muitas pessoas ainda não percebem o impacto do hábito. Passar oito horas ou mais por dia usando o celular pode afetar tanto o corpo quanto a mente, causando de fadiga ocular a dores musculares, além de distúrbios do sono e da concentração.

A seguir, veja o que realmente acontece com o organismo durante esse uso prolongado.

Excesso de telas (Foto: Reprodução/ Internet)

1. Você passa o dia todo no celular – e quase não nota

Quando se fala em oito horas de uso, parece muito à primeira vista. Mas basta somar o tempo de checar mensagens, assistir vídeos, estudar ou trabalhar no aparelho para perceber como esse número se acumula sem esforço.

Essa prática costuma ser fragmentada ao longo do dia, o que dá a falsa sensação de que “não foi tanto assim”. No entanto, o corpo reage a cada minuto, especialmente quando não há pausas.

Para a psiquiatra Karina Stryjer, especialista em saúde mental, essa rotina constante gera uma sobrecarga sensorial perigosa:

“O uso contínuo pode levar à estafa mental, além de dificultar o foco. Há ainda uma sensação de agitação constante, especialmente pela exposição repetitiva a conteúdos violentos ou depreciativos”, explica.

A pesquisa TIC Domicílios 2022 confirma que 92 milhões de brasileiros acessam a internet apenas pelo celular, sendo que a maioria faz isso todos os dias. Ou seja, passar horas conectado não é exceção, é realidade para grande parte da população.

Celular (Foto: Reprodução/ Internet)

2. O que o corpo sente após tantas horas de tela?

Os olhos são os primeiros a dar sinais. O tempo prolongado diante da tela provoca ressecamento, vermelhidão, visão embaçada e fadiga ocular digital, que se manifesta com dor, lacrimejamento e dificuldade para focar. O oftalmologista Lucas Ortolan, doutor em oftalmologia pela USP, alerta para os riscos, principalmente em crianças e jovens:

“O uso excessivo de dispositivos digitais pode agravar ou acelerar o desenvolvimento da miopia. Crianças e adolescentes, que passam muito tempo em atividades de perto, correm mais risco de ter alta miopia ou aumento do grau já existente.”

Uma pesquisa feita com universitários na Arábia Saudita mostrou que 66% deles relataram sintomas nos olhos após longos períodos no smartphone, como dor e sensação de secura. Além disso, a luz azul emitida pelas telas interfere na produção de melatonina e no ritmo biológico, dificultando o sono.

“A luz azul afeta o relógio interno do organismo, atrapalhando a liberação dos hormônios que induzem o descanso, como a melatonina”, reforça Ortolan.

Mas os impactos não param na visão. A postura inclinada para olhar o celular sobrecarrega a região cervical e pode causar o chamado text neck, dores nos ombros e até inflamações nos punhos.

Excesso de telas (Foto: Reprodução/ Internet)

A fisioterapeuta Débora Botte, especialista em coluna, detalha:

“Manter a cabeça projetada para frente aumenta a pressão sobre a musculatura do pescoço e da parte superior da coluna. Com o tempo, essa tensão pode gerar dores crônicas.”

Os movimentos repetitivos, como digitar e deslizar na tela, também contribuem para problemas como tendinites no polegar e punho, popularmente conhecidos como “dedo de celular”. O sedentarismo é outro agravante. Ficar parado por horas reduz a circulação sanguínea e aumenta o risco de inchaço nas pernas e problemas vasculares.

De acordo com o educador físico Erik Rodrigues Botte, a longo prazo, essa falta de movimento pode causar: “Má postura, dores nas articulações, fadiga precoce, perda de força muscular e até favorecer quadros depressivos ou doenças crônicas.”

Teste oftalmológico (Foto: Reprodução/ Internet)

3. Usar direto ou aos poucos: há diferença?

Muita gente acredita que usar o celular em blocos curtos ao longo do dia é menos prejudicial. De fato, intercalar o uso com pausas e mudanças de posição ajuda a aliviar o corpo. Alternar posturas, caminhar por alguns minutos e olhar para longe são estratégias que reduzem a sobrecarga física.

Para preservar a visão, o ideal é seguir a regra 20-20-20: a cada 20 minutos de tela, olhar para um ponto a 6 metros de distância por 20 segundos.

Mas, mesmo com pausas, o impacto mental continua. Isso porque o cérebro recebe estímulos constantes e fragmentados, exigindo mudanças rápidas de foco e aumentando os níveis de estresse.

Segundo a psiquiatra Karina Stryjer, esse excesso de estímulos curtos atrapalha o descanso cerebral:

“O cérebro não consegue se desligar por completo. Isso afeta o sono, a qualidade do repouso e ainda gera irritabilidade e alterações de humor.”

Além disso, a atenção sustentada se perde, dificultando a execução de tarefas mais complexas e gerando sensação de frustração.

4. O que os especialistas apontam como riscos a longo prazo

O oftalmologista Lucas Ortolan lembra que a miopia tem aumentado em todo o mundo por conta do uso de telas. Ele cita estudos que mostram que, se essa tendência continuar, quase 50% da população será míope até 2050.

Já a fisioterapeuta Débora Botte reforça que permanecer muito tempo na mesma posição pode até comprimir discos intervertebrais e levar a lesões como hérnia de disco.

Do lado mental, Karina Stryjer alerta para a sobrecarga sensorial: muitas pessoas sentem a necessidade de responder a todos os estímulos o tempo todo, o que dificulta desconectar mesmo fora do expediente.

E o educador físico Erik Botte lembra que o sedentarismo é silencioso, mas tem efeitos graduais: menos mobilidade, piora na circulação, dores, sensação de peso nas pernas e até risco de trombose em casos mais graves.

Bons hábitos (Foto: Reprodução/ Internet)

5. Como reduzir os impactos sem abandonar o celular?

O celular é uma ferramenta indispensável para trabalho e lazer, mas usá-lo de forma equilibrada é essencial para preservar a saúde física e mental. Os especialistas afirmam que não é necessário abrir mão do smartphone, mas sim adotar hábitos mais conscientes. Entre as recomendações:

  • Fazer pausas regulares;
  • Usar a técnica Pomodoro (25 minutos de uso, 5 de descanso);
  • Seguir a regra 20-20-20 para proteger os olhos;
  • Ajustar o brilho da tela e ativar o modo noturno;
  • Limitar notificações para evitar distrações;
  • Apoiar o celular em suportes para não forçar o pescoço;
  • Alternar posições ao longo do dia e alongar o corpo;
  • Usar recursos de áudio, como podcasts, para descansar a visão.
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