José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

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Ou o mundo muda de rumo, ou as democracias serão varridas

Está na cara que o mundo pede transformações sociais, econômicas, étnicas, culturais e civilizatórias urgentes

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Pessoas de todas as partes do planeta estão assustadas diante da onda da extrema direita que avança sobre as democracias, em um mundo que parece ter perdido o rumo, em que se vê um aumento brutal das desigualdades sociais, graças a políticas ditadas pelas grandes potências, centradas exclusivamente no ganho econômico para alguns poucos e na distribuição da miséria e da desesperança por massas de humanos. As chamadas grandes Democracias têm trabalhado essencialmente em favor do capital. As consequências dessa cegueira estão chegando. O que espanta, de fato, é a velocidade com que estão se processando.

EXTREMISMO NA EUROPA

Neste fim-de-semana, mais uma onda de extremismo de direita sacudiu a Europa, avançando de maneira vigorosa nas eleições para o Parlamento Europeu, colocando países como a França, Alemanha, Holanda, Áustria e Itália no canto da parede, ante uma evolução significativa de partidos ultraconservadores, populistas, xenófobos e de extrema direita. Embora as forças de centro-direita ainda se mantenham no poder, a extrema direita conquistou uma impressionante quantidade de vagas, como a anunciar “na próxima o poder será nosso.”

O impacto foi de tal forma assustador, que o presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou a dissolução da Assembleia Nacional e a realização de novas eleições locais. No rastro desse avanço dos extremistas de direita, registram-se grandes perdedores. Os liberais, por exemplo, sofreram uma dura derrota, saindo de 102 assentos para apenas 80 lugares no Parlamento. Outro grande revés é o que sofreram os ecologistas, que perderam 18 lugares, ficando somente com 52 vagas, mesmo numa quadra da vida mundial em que as questões ambientais são as mais graves de toda a história.

O que acontece agora nas eleições para o Parlamento Europeu, já vem acontecendo, nacionalmente, em vários países da Europa e fora dela, como é o caso recente da Argentina. Espanha, Itália, Portugal e vários países do Leste Europeu têm dado conta desse crescimento espantoso do extremismo de direita.

E uma certeza precisa ocupar a cabeça dos atuais governantes do mundo: o capitalismo, na forma como se mantém há muito tempo, está na UTI, à beira da morte, e é ele, com seus métodos, que está fazendo o neofascismo tomar da Europa, sobretudo, de maneira triunfante. O nazismo, está ficando claro, é o botão de emergência do capitalismo brutal que faz o mundo ficar cada dia mais desigual e injusto, sem perspectivas para a maioria dos seus oito bilhões de habitantes.

CRISE MIGRATÓRIA 

O que se vê, diante do aumento da população mundial, é o crescimento inaceitável da miséria, com mais de 735 milhões de seres humanos passando fome, levas crescentes de imigrantes espalhados pelo mundo afora, desempregados e sem rumo, gerando-se contra eles, nas comunidades locais, uma onda espantosa de xenofobia, hostilidade e ódio. Os imigrantes são frutos das guerras que as grandes potências mundiais (Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, Portugal, Espanha, entre outros), geraram, financiaram, sustentaram, ao longo da história, especialmente em países miseráveis da África.  

Quando esteve no Brasil em 2017, para a conferência “Olhar o Presente, Criar o Futuro”, no Fórum a Universidade do Século XXI, em Caxias do Sul, o extraordinário sociólogo italiano Domenico de Masi autor da notável obra “O Ócio Criativo”, já fazia o alerta de que era urgente que se criassem nova perspectiva para a humanidade, face ao desgaste do neoliberalismo, que se expõe no aumento da desigualdade entre ricos e pobres, na degradação ambiental, nas tragédias consequentes desse desequilíbrio, na supressão dos empregos, nas migrações em massa decorrentes de imensas áreas de conflito, no crescimento do fundamentalismo religioso, no recrudescimento do extremismo político. Domenico, há sete anos passados, chamava a atenção para o fato de que, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, “o ideário neofacista obteve representação no Parlamento, conquistando 89(13%) das 631 cadeiras.”

Está na cara que o mundo pede transformações sociais, econômicas, étnicas, culturais e civilizatórias urgentes. O modelo neoliberal, implantado e movimentado por essa forma de capitalismo que privilegia poucos e exclui grandes massas humanas, está fazendo um mundo cada dia mais infeliz e desesperançoso. Portanto, não se sustenta.

Ou o mundo muda de rumo, ou as Democracias serão varridas.

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