A Região Autônoma de Bougainville, atualmente parte de Papua Nova Guiné, está em fase final de negociações para se tornar um país soberano. O processo, previsto para ser concluído até 2027, decorre de um referendo realizado em 2019, quando 98% da população votou a favor da independência.
Com cerca de 300 mil habitantes, Bougainville está localizada em um arquipélago no Pacífico Sul e possui uma economia baseada principalmente na mineração de cobre e ouro, além da agricultura e da pesca.
História de conflitos e riquezas naturais
A trajetória rumo à autonomia foi marcada por décadas de tensão. Entre 1988 e 1998, Bougainville foi palco de uma guerra civil sangrenta, motivada principalmente pela exploração descontrolada de recursos minerais. A mina de Panguna, uma das maiores a céu aberto do mundo, operada por uma multinacional, gerou graves danos ambientais, com poluição de rios e destruição de florestas, além de conflitos sociais que marginalizaram a população local. O conflito armado resultou em cerca de 20 mil mortes.
O encerramento das atividades da mina, em 1989, marcou o início de uma intensa mobilização por autonomia, que culminou no acordo de paz de 2001 e, posteriormente, no referendo pela independência.
Desafios e oportunidades
Com a independência no horizonte, Bougainville se depara com uma série de desafios, mas também com importantes oportunidades. Entre os potenciais de crescimento, destacam-se a retomada da mineração com práticas sustentáveis, o desenvolvimento do turismo ecológico e o fortalecimento da cultura local.
No entanto, os riscos são consideráveis: a dependência econômica de Papua Nova Guiné, a necessidade de reconstrução da infraestrutura básica e a pressão de empresas mineradoras internacionais podem dificultar a consolidação da nova nação.
O que dizem os líderes locais?
Para o presidente de Bougainville, Ishmael Toroama, a busca pela soberania vai além de um ideal político. “Queremos construir um país justo, onde os recursos naturais beneficiem nosso povo, não apenas corporações estrangeiras. A independência é nosso direito, mas também nossa responsabilidade”, declarou.
Próximos passos
As negociações entre os governos de Bougainville e de Papua Nova Guiné ainda vão definir questões cruciais, como o cronograma para a transição, a divisão dos recursos naturais e o reconhecimento internacional. Caso o processo siga conforme planejado, Bougainville poderá se tornar o 194º país membro da ONU ainda nesta década.