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Escavação revela método que deu longevidade ao concreto romano em Pompeia

Canteiro de obras preservado pela erupção do Vesúvio mostra que romanos usavam “mistura quente”, técnica que explica a durabilidade e a capacidade autorregenerativa do material

Ruínas de Pompeia com o Monte Vesúvio ao fundo | Foto: Pixabay
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Escavações em Pompeia revelaram um canteiro de obras mantido intacto desde a erupção do Vesúvio, no ano 79 d.C., permitindo aos cientistas identificar como os romanos produziam o concreto que sustentou algumas das estruturas mais duráveis da Antiguidade. Pesquisadores encontraram paredes inacabadas, materiais pré-misturados e ferramentas de medição exatamente como estavam no momento da tragédia, oferecendo um registro inédito do processo construtivo.

Durante a análise, os especialistas identificaram detalhes que ajudam a compreender por que o concreto romano resistiu por séculos, incluindo impactos do clima, terremotos e até imersão em água, característica essencial para portos, aquedutos e grandes edifícios da época.

Técnica milenar

Segundo o pesquisador Admir Masic, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), o estudo permitiu observar práticas de construção de forma quase direta.

“Estudar isso realmente fez com que eu me sentisse como se tivesse viajado no tempo e estivesse ao lado dos trabalhadores enquanto eles misturavam e aplicavam o concreto”, afirmou.

A equipe constatou que os romanos utilizavam a chamada “mistura quente”: cal viva, calcário aquecido previamente, era combinada com água, rochas e cinzas vulcânicas, provocando uma reação que elevava a temperatura da massa. Essa técnica difere do processo descrito um século antes por Vitrúvio, que mencionava o uso de cal extinta.

Evidências preservadas

O local estudado reúne áreas domésticas e uma padaria em operação, com fornos e espaços para armazenamento. Para Masic, a preservação do canteiro oferece uma oportunidade rara de entender a execução das obras.

“Pompeia preserva edifícios, materiais e até trabalhos em andamento exatamente no estado em que estavam quando ocorreu a erupção”, disse. “Para o estudo de tecnologias antigas, simplesmente não há paralelo.”

As evidências mostram que a técnica descrita por Vitrúvio já poderia estar ultrapassada no século I d.C. “Imagine o que 100 anos de diferença podem representar para a tecnologia da construção”, afirmou o pesquisador, comparando o avanço ao salto entre telefones de disco e smartphones modernos.

Concreto autorregenerativo

O concreto romano apresenta propriedades autorregenerativas devido à presença de resíduos de cal conhecidos como “fragmentos de cal”. Esses elementos podem dissolver-se e recristalizar quando expostos à água, preenchendo fissuras formadas ao longo do tempo e aumentando a vida útil das estruturas.

Esse mecanismo natural explica por que obras como o Panteão, portos e grandes templos resistiram por quase dois milênios, mesmo diante de intempéries e uso intensivo.

Aplicações atuais

O concreto passou a ser industrializado pelos romanos entre os séculos I a.C. e I d.C., permitindo a construção de estruturas monolíticas, cúpulas e portos que se consolidaram como marcos da engenharia antiga. Para Masic, os princípios revelados em Pompeia podem influenciar o desenvolvimento de novos materiais.

“Os concretos modernos geralmente não possuem capacidade intrínseca de autorregeneração”, explicou.

Segundo ele, embora o método romano não substitua diretamente os padrões da engenharia contemporânea, os achados podem orientar soluções de baixo carbono e maior durabilidade para obras futuras.

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