SEÇÕES

Irlanda tenta identificar corpos de quase 800 bebês em cova coletiva

Restos foram encontrados em lar para mães solteiras gerido por freiras católicas; escavações devem durar até dois anos

Memorial na cova coletiva de Tuam, na Irlanda. | Foto: Clodagh Kilcoyne/Reuters
Siga-nos no

Uma equipe internacional de arqueólogos e peritos forenses iniciou, nesta semana, a escavação de uma cova coletiva com restos mortais de quase 800 bebês e crianças pequenas em Tuam, no oeste da Irlanda. Os corpos foram descobertos em uma antiga instituição administrada por freiras da Igreja Católica, o Lar de Mães e Bebês da ordem Bon Secours, onde funcionou um abrigo para mães solteiras entre as décadas de 1920 e 1960.

O local será mantido sob controle forense durante todo o processo. Segundo Daniel MacSweeney, responsável pela operação, familiares e sobreviventes poderão acompanhar os trabalhos. “É uma escavação incrivelmente complexa”, explicou, destacando a dificuldade em separar os corpos, identificar os sexos e realizar exames de DNA devido ao tempo e às condições em que os restos foram encontrados.

Uma história marcada por negligência e ocultação

O caso veio à tona em 2014, quando a historiadora Catherine Corless descobriu registros de óbito de 796 crianças ligadas ao lar de Tuam, mas apenas um sepultamento oficial constava nos arquivos. A investigação revelou que os corpos estavam enterrados de forma precária em uma antiga estrutura de esgoto, sem qualquer dignidade ou registro formal.

A maioria das crianças morreu por infecções e condições evitáveis, como pneumonia e gastroenterite. O lar foi fechado em 1961, mas durante décadas funcionou como uma instituição para esconder jovens grávidas, consideradas “vergonha” para suas famílias e para a sociedade irlandesa conservadora da época.

A busca por justiça e dignidade

A escavação atual faz parte de um esforço do governo irlandês para reparar os danos causados por essas instituições, que receberam duras críticas após a divulgação de um relatório oficial em 2021. O documento revelou que cerca de 9 mil crianças morreram em 18 lares similares pelo país. Especialistas de países como Reino Unido, Canadá, Colômbia, Austrália, Espanha e EUA participam da investigação em Tuam.

Os restos que forem identificados serão entregues às famílias que desejarem recuperá-los. Já os que não puderem ser reconhecidos serão sepultados com honra e respeito. A expectativa é de que os trabalhos se estendam por até dois anos.

Igreja pede desculpas públicas

A ordem Bon Secours, que administrava o lar, ofereceu um “profundo pedido de desculpas” pelas falhas graves cometidas. As freiras reconheceram que não protegeram “a dignidade inerente” das mães e crianças que viveram na instituição. O primeiro-ministro irlandês, Micheál Martin, classificou o episódio como “muito angustiante” e prometeu acompanhamento contínuo dos trabalhos em busca de justiça histórica.

Tópicos
Carregue mais
Veja Também