O corpo do Papa Francisco, falecido na última segunda-feira aos 88 anos, permanecerá exposto na Basílica de São Pedro até o funeral, marcado para o próximo sábado. Para tornar isso possível, o Vaticano recorreu a uma técnica antiga, mas ainda amplamente utilizada: a tanatopraxia, um método que retarda a decomposição e preserva a aparência do corpo por alguns dias.
De acordo com Pascual Pimpinella, professor de Medicina Legal e ex-legista do Poder Judiciário argentino, a tanatopraxia é diferente do embalsamamento tradicional ou da mumificação.
“Essa técnica visa preservar temporariamente o corpo, dando a impressão de que a morte ocorreu recentemente, com aparência tranquila e natural”, explicou ele em entrevista à Rádio Mitre.
Como funciona a técnica
O procedimento começa imediatamente após a morte e dura de três a cinco horas. O corpo é primeiro desinfetado com bactericidas, fungicidas e até hipoclorito. Em seguida, é desidratado e depois reidratado, para manter os tecidos com aspecto natural. As artérias carótidas são canalizadas para substituição do sangue por líquidos conservantes, o que garante a integridade da pele e dos músculos por até 14 dias.
Além disso, maquiagem e resinas especiais são aplicadas para reforçar a naturalidade da aparência.
“O resultado é uma restauração quase plástica, que o formaldeído não consegue alcançar, pois este escurece os tecidos”, destaca Pimpinella.
A técnica não interrompe completamente a decomposição, mas a retarda significativamente. Após o velório, o processo natural continua com o surgimento da chamada “mancha verde” e pode durar de dois a quatro anos até que o corpo seja consumido pelos ácaros.
Homenagens e procissão no Vaticano
Na quarta-feira, os restos mortais do Papa foram levados da Capela de Santa Marta para a Basílica de São Pedro, onde permanecem em um caixão aberto de madeira, permitindo a última despedida dos fiéis. A procissão foi liderada pelo cardeal Kevin Farrell, atual administrador interino do Vaticano.
Vestidos com túnicas cerimoniais, cardeais, bispos, padres e freiras participaram do cortejo, acompanhado por nuvens de incenso e o canto da Ladainha dos Santos. Cada grupo se aproximava do caixão para prestar sua homenagem, em um ritual marcado por reverência e silêncio.