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Protestos da geração Z podem ser o início de uma ‘primavera asiática’?

Jovens lideram manifestações em países como Nepal, Bangladesh e Indonésia contra corrupção e autoritarismo, levantando comparações com a Primavera Árabe.

Jovens tiram selfie com o palácio do governo do Nepal em chamas ao fundo, em 9 de setembro de 2025 | Foto: AP Photo/Niranjan Shrestha
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De invasões a palácios a quedas de chefes de Estado, a Ásia tem assistido a uma onda de manifestações políticas impulsionadas pela geração Z, formada por jovens nascidos entre 1997 e 2012. Com amplo domínio digital, eles vêm usando as ruas e as redes sociais para desafiar corrupção, autoritarismo e desigualdade econômica.

No Nepal, protestos contra a proibição das redes sociais e denúncias de corrupção derrubaram o governo do primeiro-ministro Khadga Prasad Oli. Em meio às manifestações, prédios públicos foram incendiados e o Parlamento dissolvido.

A Indonésia também foi palco de revoltas recentes, motivadas por regalias concedidas a congressistas. O governo do presidente Prabowo Subianto se viu obrigado a demitir ministros e revogar benefícios.

Em Bangladesh, protestos estudantis forçaram a primeira-ministra Sheikh Hasina a deixar o poder após 15 anos de governo. Ela fugiu para a Índia em agosto de 2024. Já no Sri Lanka, a turbulência econômica de 2022 levou à queda do então presidente Gotabaya Rajapaksa.

Comparações históricas

Especialistas apontam semelhanças com a Primavera Árabe, série de protestos no Oriente Médio e Norte da África que derrubou governos entre 2010 e 2011. Apesar das diferenças regionais, os gatilhos são os mesmos: descontentamento popular, crises econômicas e corrupção sistêmica.

Annisa R. Beta, professora da Universidade de Melbourne, destacou o impacto das redes sociais no movimento: 

"As gerações mais jovens não estão interessadas em ser lideradas por apenas uma figura carismática. Elas se identificam mais com um movimento descentralizado, focado em objetivos claros."

Ishrat Hossain, pesquisadora do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais, acrescenta que:

"As plataformas digitais amplificaram o impacto dos protestos e abriram espaço para líderes não tradicionais, como rappers e hackers.”

Vozes da mudança

Entre os jovens ativistas, o músico nepalês Rajat Das Shrestha acredita que há um padrão comum de revolta: 

"A corrupção e a mentalidade autoritária dos governos não são problemas apenas do Nepal ou de Bangladesh. Elas existem em toda a região."

Segundo ele, a mensagem é clara: "Governos podem cair quando os jovens se levantam. Se continuarem a ignorar os sonhos e frustrações da juventude, eventos semelhantes vão acontecer em outros países."

Caminhos distintos

Apesar de semelhanças, cada país segue um rumo próprio. O Sri Lanka mostra sinais de recuperação econômica após anos de crise. A Indonésia manteve seu sistema político sem rupturas profundas. Já Bangladesh vive incertezas, dividida entre reformas e risco de instabilidade ainda maior.

Para Hossain, o futuro dependerá da capacidade de transformar as demandas em políticas efetivas:

"Sem a institucionalização das pautas, as vitórias de hoje podem se tornar a nostalgia de amanhã."

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