O cardeal Giovanni Angelo Becciu, condenado à prisão por envolvimento em um escândalo de corrupção no Vaticano, declarou que pretende participar do próximo Conclave, apesar de a Santa Sé tê-lo excluído da lista oficial de eleitores. A afirmação foi feita em entrevista ao jornal italiano L’Unione Sarda nesta terça-feira (22).
Becciu renunciou aos direitos ligados ao cardinalato em 2020, após se tornar alvo de uma investigação sobre a compra irregular de um imóvel de luxo em Londres. Na ocasião, o Vaticano anunciou que o papa Francisco havia aceitado sua renúncia. De acordo com as investigações, em 2014, o Vaticano gastou mais de US$ 200 milhões na aquisição do imóvel, sendo que parte desses recursos deveria ter sido destinada a ações de caridade, segundo a BBC.
O contrato foi assinado por Becciu, que na época atuava como chefe de gabinete do papa. Além disso, ele teria desviado recursos para a diocese de sua cidade natal, na Sardenha, beneficiando parentes.
Em dezembro de 2023, o Tribunal do Vaticano condenou Becciu a cinco anos e seis meses de prisão, além da inabilitação perpétua para exercer cargos públicos, pelos crimes de peculato e abuso de poder. Ele recorreu da decisão e segue em liberdade.
À publicação italiana, Becciu afirmou que já se deslocou para Roma e garantiu que participará do Conclave para eleger o sucessor de Francisco. Segundo ele, seus direitos permanecem válidos, já que foi convidado pelo papa para participar de um Consistório em 2022, mesmo após a renúncia.
“O papa reconheceu que minhas prerrogativas de cardeal seguem intactas, pois não houve nenhuma manifestação explícita de exclusão do Conclave, nem um pedido formal de renúncia por escrito”, afirmou.
Na ocasião, o Vaticano confirmou o convite feito por Francisco, mas esclareceu que os “direitos do cardinalato não incluem participação ativa na vida da Igreja”.
Becciu também contestou a validade da lista divulgada pelo Vaticano com os cardeais aptos a votar no Conclave, alegando que ela não possui valor legal e deveria ser ignorada.
Embora seu nome ainda conste como integrante do Colégio de Cardeais — grupo composto por 252 membros responsáveis por auxiliar na organização do Conclave —, ele não está entre os 135 cardeais com direito a voto. Dessa forma, poderia participar da preparação da eleição, mas não da escolha do novo papa.
Becciu já foi uma das figuras mais influentes do Vaticano. Considerado conselheiro próximo do papa Francisco, chegou a ser cotado como possível sucessor. Nomeado cardeal em 2018, perdeu prestígio após o escândalo vir a público.
O cardeal sempre negou as acusações e disse que o papa perdeu a confiança nele. “Foi uma dor imensa ver o papa mudar de opinião sobre mim de forma tão repentina. Uma dor que aceitei como um teste à minha fé”, desabafou ao L’Unione Sarda.