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Vazaram as fotos e nasceu uma lei: entenda o caso Carolina Dieckmann

Em 2012, um vazamento de fotos íntimas da atriz Carolina Dieckmann escancarou a falta de preparo do Brasil para lidar com crimes virtuais

Carol em 2012 | Foto: Philippe Lima e Roberto Filho/ AgNews

Em 2012, um vazamento de fotos íntimas da atriz Carolina Dieckmann escancarou a falta de preparo do Brasil para lidar com crimes virtuais. O caso, que mobilizou a opinião pública e atravessou mais de uma década na Justiça, deu origem à Lei 12.737/2012 — conhecida como Lei Carolina Dieckmann.

O crime veio à tona no dia 4 de maio daquele ano, quando 36 imagens pessoais da atriz começaram a circular na internet. As fotos, tiradas em momentos privados, foram divulgadas sem autorização em sites e fóruns, gerando repercussão imediata.

AS AMEAÇAS

Semanas antes do vazamento, a atriz passou a receber e-mails e ligações anônimas. Os criminosos diziam estar com as imagens e exigiam R$10 mil para não divulgá-las. Duas dessas fotos chegaram a ser enviadas ao empresário dela como forma de ameaça.

Abalada com a situação e preocupada com o filho, ela optou por não acionar a polícia naquele momento. Com a ajuda do ex-policial Rodrigo Pimentel, chegou a armar um encontro falso com os autores do crime, na tentativa de conseguir um flagrante. A estratégia, no entanto, falhou — e as fotos foram publicadas pouco depois.

O VAZAMENTO

No momento em que soube do vazamento, a atriz estava em São Paulo, ensaiando para um filme. A primeira atitude foi ligar para casa e pedir que desconectassem a internet, numa tentativa de proteger o filho. Em seguida, se refugiou na casa de uma amiga e precisou ser medicada. Mesmo fragilizada, decidiu que não cederia à chantagem.

Em poucos dias, as imagens já estavam disseminadas de forma descontrolada. Um levantamento feito por uma ONG identificou mais de 50 mil cópias em circulação, espalhadas entre 1,5 milhão de resultados em ferramentas de busca. A atriz acionou a Justiça, e sites como o Google foram notificados e colaboraram com a remoção do conteúdo. Ainda assim, os danos eram irreversíveis.

a investigação

As investigações inicialmente levantaram suspeitas sobre técnicos que haviam consertado o computador da atriz ou sobre uma ex-funcionária que teve acesso a um celular antigo dela. Nenhuma dessas hipóteses se confirmou. Uma semana após o vazamento, a Delegacia de Repressão a Crimes de Informática chegou aos verdadeiros responsáveis: quatro jovens de diferentes partes do país, que se conheceram apenas virtualmente, em fóruns de jogos e programação.

Segundo as investigações, o hacker Leonan Pereira Santos conseguiu acesso ao e-mail da atriz após ela clicar em um link malicioso. Ele repassou as imagens para Diego Fernando Cruz, que publicou o conteúdo em sites e compartilhou com o dono de uma página pornográfica. Um adolescente de Bauru (SP) ficou responsável pelas ligações e pelos e-mails com ameaças.

Pedro Henrique Mathias, o dono do site onde as imagens foram divulgadas, chegou a ser identificado, mas não foi denunciado por extorsão, por falta de provas diretas de envolvimento nas ameaças.

Outro ataque

O caso teve ainda um desdobramento preocupante. As mesmas fotos foram usadas em um ataque hacker aos sites da Cetesb e da Prefeitura de Carapicuíba, em São Paulo. Um adolescente de 17 anos foi apreendido, mas o desfecho judicial dessa etapa do caso não foi divulgado.

A primeira condenação só ocorreu em abril de 2023. Diego e Leonan foram sentenciados a seis anos e dois meses de prisão por tentativa de extorsão. A Justiça entendeu que, mesmo sem terem recebido dinheiro, os dois agiram de forma articulada para tentar obter vantagem financeira.

Justiça

Entre as provas, estava a presença do aplicativo Skype no computador de Diego, o mesmo usado nas ligações para o empresário da atriz. Embora não houvesse gravações das chamadas, esse indício foi considerado suficiente para manter a condenação.

Em dezembro de 2024, o Tribunal de Justiça confirmou a sentença, mas alterou o regime para semiaberto. No entanto, em fevereiro de 2025, uma reviravolta no processo mudou o rumo do caso: a defesa de Leonan entrou com um recurso e conseguiu extinguir a punibilidade do réu. Como ele tinha menos de 21 anos na época do crime, a lei previa um prazo menor para punição. Com a lentidão do processo, o Estado perdeu esse prazo legal.

Com isso, mesmo condenado, Leonan não cumprirá pena. O único efetivamente responsabilizado foi Diego Fernando Cruz, e apenas pela tentativa de extorsão — não pelo vazamento das imagens.

A LEI

Apesar de não ter recebido uma reparação plena da Justiça, o caso teve um desfecho simbólico importante. Foi a partir dele que nasceu a Lei 12.737/2012, que passou a criminalizar a invasão de dispositivos eletrônicos, o roubo de dados e a divulgação de informações pessoais sem consentimento.

Anos depois, a atriz declarou estar em paz com a situação e disse sentir orgulho por ter ajudado a inspirar uma legislação que protege milhares de brasileiros todos os dias.

*** As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.
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