A possível adoção de uma camisa vermelha como segundo uniforme da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 2026 acendeu um debate acalorado no Congresso Nacional e não apenas entre oposição e governo. A polêmica, que começou com uma especulação divulgada pelo site alemão Footy Headlines, chegou ao parlamento e racha até mesmo a base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na esteira da controvérsia, o deputado federal Zé Trovão (PL-SC) apresentou nesta terça-feira (29) um projeto de lei que obriga todas as entidades públicas ou privadas que representem oficialmente o Brasil a utilizar apenas as cores da bandeira nacional, verde, amarelo, azul e branco, em seus materiais visuais, incluindo uniformes. Na prática, a proposta impediria que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) adotasse o vermelho como cor oficial de qualquer peça do uniforme da Seleção.
Sanções e justificativas
Segundo o texto, a medida se aplicaria a instituições que atuem com chancela, delegação ou financiamento público, incluindo delegações esportivas, diplomáticas, culturais ou científicas. O projeto prevê punições para quem descumprir a norma, como suspensão de repasses públicos e impedimento de representar oficialmente o país por até dois anos. O Poder Executivo teria 90 dias para regulamentar a lei, caso ela seja aprovada.
Para Zé Trovão, a mudança no uniforme seria um desrespeito à identidade nacional.
“A bandeira nacional é o maior símbolo da nossa identidade. Suas cores carregam história, valores e a união do povo brasileiro. É essencial que, em todas as representações oficiais, essa simbologia esteja presente de forma visível e respeitosa”, argumentou o parlamentar.
Divisão dentro da base do governo
A polêmica também dividiu parlamentares do PT. O senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), líder do governo no Congresso, foi taxativo:
“As cores da nossa seleção não são uma ‘identidade ideológica’; elas representam o que nos distingue no mundo. Qualquer cor diferente do verde, amarelo, branco e azul não se justifica”.
Por outro lado, a deputada Natália Bonavides (PT-RN) reagiu com bom humor à possível mudança e postou uma foto vestindo uma camisa vermelha com a legenda: “acho que gostei dessa história da camisa vermelha da seleção”. O deputado Rogério Correia (PT-MG) também entrou na onda e publicou uma imagem gerada por IA mostrando Lula prestes a marcar um gol, usando o uniforme vermelho.
Críticas inflamadas da oposição
Do lado da oposição, o tom foi ainda mais duro. Senadores e deputados do PL, PP e Novo viram na proposta da CBF uma tentativa de “ideologizar” a Seleção Brasileira “Esse vermelho não tem nenhuma conexão com a pátria”, afirmou a vereadora Janaina Paschoal (PP-SP). Já o senador Ciro Nogueira (PP-PI) disse que a medida “coloca a seleção numa polarização que jamais deveria entrar”.
O senador Jorge Seif (PL-SC) foi ainda mais enfático:
“Mudar a cor da camisa do Brasil, eternamente amarela, é como querer trocar as cores da nossa bandeira. Nossa bandeira jamais será vermelha”.
Acusações de manipulação e "cortina de fumaça"
Alguns parlamentares associaram a camisa a uma suposta tentativa de manipulação política. O ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, Fábio Wajngarten, questionou: “Quem foi o gênio que propôs isso?”. Já o deputado Mario Frias (PL-SP) disse que a ideia é uma “cortina de fumaça” para desviar o foco de mudanças na Lei Aldir Blanc, que, segundo ele, estariam sendo usadas para financiar militância política.
Para o deputado Maurício Marcon (Podemos-RS), a motivação da nova camisa é claramente política. Ele chegou a protocolar um projeto de lei semelhante ao de Zé Trovão, com o objetivo de impedir o uso de cores que não estejam na bandeira nacional por seleções esportivas que representem o Brasil.
CBF e Nike ainda não confirmam mudança
A CBF e a fornecedora Nike ainda não confirmaram oficialmente a camisa vermelha, que vem sendo chamada por alguns de “pau-brasil”, em referência à tonalidade do interior da árvore que batizou o país. Ainda assim, a simples especulação já foi suficiente para transformar o uniforme da Seleção em campo de disputa política e cultural e o jogo está longe de acabar.