Três postos de combustíveis que levam o nome e o escudo do Corinthians estão registrados na Agência Nacional do Petróleo (ANP) em nome de empresários investigados pela Operação Carbono Oculto, considerada a maior já realizada contra o Primeiro Comando da Capital (PCC). O clube, que não é citado formalmente na investigação, afirma que apenas licenciou o uso da marca e acompanha o caso de perto.
Os estabelecimentos, localizados na Zona Leste de São Paulo, operam como “Posto Corinthians” e pertencem oficialmente às empresas Auto Posto Mega Líder Ltda, Auto Posto Mega Líder 2 Sociedade Unipessoal Ltda e Auto Posto Rivelino Ltda. Todos são classificados como bandeira branca, ou seja, não vinculados a grandes distribuidoras de combustível.
Empresários ligados ao esquema
De acordo com os registros da ANP e da Receita Federal, os postos pertencem a Pedro Furtado Gouveia Neto, Himad Abdallah Mourad e Luiz Ernesto Franco Monegatto, todos investigados por integrar o grupo criminoso comandado por Mohamad Hussein Mourad, apontado pela Justiça como figura central do esquema de lavagem de dinheiro, fraudes tributárias e estelionato que movimentou cerca de R$ 8,4 bilhões.
Pedro Furtado é citado como representante da empresa GGX Global, tida pelos investigadores como parte da estrutura administrativa do grupo. Já Himad Mourad, primo de Mohamad, é descrito como um dos principais articuladores do núcleo empresarial da facção, figurando no quadro societário de mais de 100 postos de combustíveis. Monegatto, por sua vez, teria ligação com transações imobiliárias e comerciais usadas para blindagem patrimonial.
Corinthians nega envolvimento direto
O Sport Club Corinthians Paulista afirmou que não administra diretamente os postos e que o contrato firmado trata-se de licenciamento de marca, com vigência até novembro de 2025. Segundo o clube, a empresa licenciada é responsável por intermediar os acordos com os donos dos estabelecimentos.
Em nota, o Corinthians declarou:
“O clube acompanha com máxima atenção o andamento das investigações para, se necessário, tomar as medidas jurídicas cabíveis em relação aos contratos de licenciamento.”
O ex-presidente Duilio Monteiro Alves, que assinou aditivos ao contrato durante sua gestão, afirmou que os acordos foram firmados com empresas autorizadas por órgãos federais.
“Desconheço qualquer irregularidade até o fim da minha gestão. Os contratos possuem cláusulas que garantem ressarcimento ao clube em caso de dano à sua imagem”, disse Duilio.
Irregularidades e nova frente de apuração
A ANP confirmou que há divergências entre os registros dos postos na Receita Federal e os cadastros da própria agência, o que pode indicar irregularidade administrativa. Segundo o órgão, as empresas serão notificadas para corrigir os dados e, em caso de descumprimento, podem ter as autorizações de funcionamento revogadas.
Paralelamente, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) também investiga uma possível infiltração do PCC em gestões passadas do Corinthians. As apurações apontam que o clube teria alugado imóveis de pessoas associadas à facção, utilizados por jogadores, e realizado compras em postos de combustíveis ligados aos investigados.
Um caso que mancha a imagem
A relação entre a marca Corinthians e empresas suspeitas de envolvimento com o crime organizado acende o alerta sobre o uso comercial de marcas esportivas em redes privadas. Embora o clube negue qualquer responsabilidade direta, especialistas em governança apontam que episódios como este reforçam a necessidade de maior controle e transparência nos contratos de licenciamento.
Enquanto as investigações seguem, os três “Postos Corinthians” continuam funcionando na capital paulista, agora sob o olhar atento de autoridades, torcedores e de um clube que tenta proteger não apenas sua imagem, mas também o valor simbólico de uma das marcas mais poderosas do futebol brasileiro.