“A gente já sabia que tinha ataque de tubarão”, diz jovem que sobreviveu

A mancha de sangue se formou no mar a apenas 50 metros de distância da areia. Foi a primeira vez que ataque em Boa Viagem foi registrado pelas câmeras

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Quanto chamego. Daniele enche a avó de carinho. Esta sertaneja, de 83 anos, fugiu da seca com nove filhos pra tentar a vida longe da miséria e sempre perto dos santos. É uma mulher de muita fé.

A viagem ao Recife foi ideia da Daniele que pretendia levar Dona Amélia pra matar a saudade dos irmãos em Pernambuco. As passagens já estavam compradas quando outra neta insistiu para viajar com elas.

?A Bruna era muito contente, ficou muito alegre porque ela não ia nem ir. Mas depois ela telefonou pra Daniele tirar a passagem dela?, conta Dona Amélia.

Cerca de 2.700 quilômetros separam este sítio, em Embu Guaçu, São Paulo, onde a Daniele mora, do Recife, onde vive boa parte dos parentes dela. O sonho de reencontrar a família uniu as duas primas. E Daniele e Bruna seguiram a viagem assim: juntas e felizes.

O que elas jamais poderiam imaginar é que viveriam um pesadelo com um desfecho trágico na Praia de Boa Viagem.

Na segunda-feira, 22 de julho, dois dias antes da data de voltar pra casa, Bruna acordou mais cedo. Ansiosa, ela convocou os primos pra irem até a praia mais famosa do Recife.

?Pra você ter uma ideia, nós botamos o celular pra despertar às 6 horas da manhã. Ela disse: ?tá na hora de levantar, vamos todo mundo acordar?. Eu dormi no mesmo colchão que ela, na mesma cama. ?E ela: Dani, Dani, levanta, vamos se arrumar pra gente poder ir para a praia??, conta Daniele.

As fotos mostram a alegria no começo do passeio. Tudo foi registrado. Tudo mesmo.

No caminho, as placas avisam sobre o perigo de ataque de tubarão. Elas estão espalhadas por toda a orla de Boa Viagem.

?A gente já sabia que tinha ataque de tubarão, mas a gente imaginava que era bem meio mar, né? Não tão próximo da areia quanto foi?, diz Daniele.

A Daniele e a Bruna entraram no mar num trecho da praia que é muito perigoso para os banhistas. A bandeirola serve de alerta. Ali a correnteza é muito forte e, além disso, existe um canal que forma um imenso buraco, uma armadilha para os banhistas.

Elas não sabiam nadar e foram arrastadas pela correnteza. Era o começo do drama das duas jovens.

?Nós estávamos se afogando. Foi um desespero muito grande a gente ficar num canal como se fosse uma tubulação. A gente não tinha como botar mais os pés na areia. Foi onda sobre onda. Eu falei: meu Deus, eu não vou conseguir sair daqui. E a Bruna já em desespero. Nossa, foi uma agonia muito grande?, afirma Daniele.

O pior ainda estava por acontecer. Os salva-vidas já se aproximavam na moto aquática para socorrer as duas quando houve o ataque de tubarão.

A profundidade era de dois metros e meio. A mancha de sangue se formou no mar a apenas 50 metros de distância da areia. Foi a primeira vez que um ataque em Boa Viagem foi registrado pelas câmeras. Os especialistas não identificaram a espécie, mas sabem que era um animal agressivo. Provavelmente um tubarão tigre ou cabeça-chata, responsáveis por 24 mortes, nos últimos 21 anos, no litoral de Pernambuco.

?Eu acreditei que ali eu ia ser a vítima de um ataque de tubarão e não ela. Porque ela tava muito próxima, tinha como ela sair. Só que devido ao apavoramento dela, aquela agonia dela sair da água, acho que ela não conseguiu. Acho que naquele momento ela bloqueou o sistema dela e ali a perna permaneceu imóvel. Mesmo que ela tava se batendo, ela não tinha força pra poder ganhar impulso pra poder nadar. Ali ela se estabilizou ficou imóvel?, conta Daniele.

Bruna foi mordida na perna e morreu no hospital. Daniele escapou por muito pouco.

Globo Repórter: Naquele momento ali no mar as duas corriam o mesmo risco?

Márcio Felipe Siqueira, piloto da moto aquática: As duas corriam o mesmo risco.

Globo Repórter: Podia ser uma ou outra?

Márcio Felipe Siqueira: Uma ou outra. A maré enchendo. A lua cheia. A visibilidade da água estava ruim. Então estava tudo propício pra acontecer um ataque.

Anderson Figueiredo, bombeiro: Poderia ter ocorrido outro ataque ali, com qualquer um da gente, qualquer um de nós que estávamos ali na área ou a equipe de bombeiros ou até a prima dela, que graças a Deus saiu ilesa.

Daniele: Com certeza, com certeza, eu me considero uma sobrevivente. Eu praticamente nasci de novo.

A família jamais esquecerá a tragédia que matou Bruna.

?Só de pensar me destrói. Uma parte de mim também foi junto e ainda poderia ter sido muito pior, né??, diz a mãe da Daniele, Maria das Graças Nascimento.

?A gente fica com aquele pesar dentro da mente e nunca esquece, nunca esquece?, conta Dona Amélia.

Globo Repórter: Que lembrança vai ficar da Bruna pra você?

Daniele: Ah, só as melhores. As nossas fotos que nós saímos do aeroporto de Guarulhos vindo pra Recife, todas as lembranças, nossas festas de casa, nossos churrascos, telefonema. Só as melhores. Só quero ver ela bem, sorrindo.



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