Bullying pode ter efeitos devastadores para autistas

Um estudo realizado pelo Instituto Universitário de Lisboa relata que pessoas com TEA possuem sete vezes mais probabilidades de ser alvo de bullying do que os seus colegas.

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O bullying descreve atos intencionais de violência física ou psicológica, praticados contra um indivíduo ou um grupo, que causam consequências negativas, como uma relação desigual entre essas pessoas. Pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), autismo, podem ser um alvo mais fácil, uma vez que esse  transtorno neurológico é caracterizado por um comprometimento da interação social, comunicação verbal e não-verbal. Devido suas ações não tão comuns entre os neurotípicos (não autistas), essas características, dentre outras diversidades, destacam-se e os autistas acabam sendo mais vulneráveis a essas condições. 

Um estudo realizado pelo Instituto Universitário de Lisboa relata que pessoas com TEA possuem sete vezes mais probabilidades de ser alvo de bullying do que os seus colegas. A psicóloga Katyussia Ludwig informa que esse problema mundial pode afetar de diferentes formas.

“Infelizmente, muitos autistas, em diversos graus, sofrem muito. Quando falamos em autismo leve ou Asperger, a gente percebe que nesses casos os efeitos devastadores da violência sobre essas crianças e adolescentes é muito comum encontramos problemas relacionados à baixa autoestima, ansiedade de desempenho e até quadros de depressão”, disse.

Segundo a psicóloga, principalmente na fase de desenvolvimento, visto que ninguém quer ser diferente, o meio social cobra um certo perfil de comportamento,  do qual a criança que tem essa condição não consegue assumir. Com o bullying, ela começa a desenvolver muitos transtornos emocionais relacionados a essa vivência, como dificuldades de ir à escola e frequentar ambientes com uma demanda social elevada. “Por conta dos  olhares, críticas, ou do bullying, isso é fruto de um conceito social, e isso tem seguido com muita força às nossas crianças”, falou.

Crédito: Gabriel Paulino

A dificuldade de tolerar e a empatia no sentido de entender o que se passa na vida dos outros é o que resulta nessa dificuldade de lidar com aspectos sociais diferentes, defende Katyussia, que ressalta a importância do acolhimento de qualquer ambiente. “Em uma sala de aula que tem uma criança com TEA ou qualquer outro transtorno, é importante não só para a criança, mas para a turma como um todo, trabalhar valores como cooperação, empatia e tolerância”, enfatiza.

A psicóloga relata que é um papel da escola tratar essas questões para evitar esse tipo de violência e trabalhar desde muito cedo com essas crianças.

Escola e família como rede de apoio

Os efeitos do bullying nas crianças autistas podem ser devastadores. “Pode, inclusive, manifestar uma depressão grave, crise de pânico, pensamentos suicidas, por conta de toda essa vivência social difícil, repleta de violência física ou  psicológica”, disse. 

É importante entender os primeiros sinais que a criança manifesta, como a recusa de ir à escola, um retraimento além do esperado, dadas as dificuldades de habilidades sociais, intensificação das crises de choro e verbalização de situações desagradáveis. 

“A prevenção é a melhor arma. No caso de crianças que já passam por esse processo, elas precisam de acompanhamento psicológico e é necessário que as famílias busquem apoio profissional para que a criança possa lidar com essas questões”, aconselha Katyussia Ludwig. Em geral, também é preciso que a escola saiba atuar na prevenção, tratando de assuntos relacionados à cooperação, empatia,  tolerância, diferença humana, dando ênfase no acolhimento da escola.

“Os pais e as famílias, não só das crianças atípicas,  precisam ter essa consciência de coletividade e cooperação com o outro. Muitas vezes, a família acaba promovendo bullying no sentido de querer isolar o filho  dessas crianças”, falou a psicóloga. 

Tratando na raiz

Nesses casos, atenção também deve ser dada para os agressores no aspecto ecológico da violência. Entender quem são eles, quem agridem e o que o ambiente faz é substancial para visualizar e desfazer o bullying.  

“As crianças não nascem más, mas elas se tornam muitas vezes más porque não conseguem entender essa diferença e agem de forma violenta. Em geral, por exemplo, o agressor que agride não só fisicamente, mas de forma verbal, é autoritário. É uma criança que tem esse perfil muitas vezes de liderança e que todas essas características, que poderiam ser utilizadas de maneira positiva, acabam sendo utilizadas de forma negativa devido a sua vivência, valores, e por não tolerar o diferente”, enfatiza. 

“Quando se começa a quebrar esses círculos, é possível ter um entendimento sobre os casos e ter adultos futuramente mais tolerantes”, afirma Katyussia. (A.S.)



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