Caminhada torna-se prática cultural nas ruas de Teresina

Mesmo sendo uma atividade física, a caminhada mudou a rotina do teresinense

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Caminhar é preciso! A paráfrase do clássico verso ?Viajar é preciso?, do poeta português Fernando Pessoa, tem o propósito de chamar a atenção para uma prática que tem se tornado muito popular entre os teresinenses, a caminhada. É possível ver os praticantes dessa modalidade de atividade física em vários cantos da capital piauiense.

Mas por que isso tem acontecido? Que benefícios essa prática pode gerar na vida das pessoas que a executam? É algo cultural? Essas são questões que repercutem no imaginário dos teresinenses e suas possíveis respostas dizem muito sobre os novos hábitos locais.

Segundo explica a antropóloga Daiany Caroline Santos Silva, que desenvolveu um estudo sobre as caminhadas na Avenida Raul Lopes (zona Leste), aquele lugar tem se tornado um espaço de convivência. ?Essa é a principal observação que pode ser feita.

Lá é um nicho muito específico, e isso fica claro quando as pessoas, ao invés de dizerem que vão caminhar, falam que vão para Raul Lopes?, comenta. Ela reforça que o ambiente criado na avenida é complexo e que é permeado por relações sociais.

Os praticantes de caminhadas, em geral, não querem se tornar atletas. Eles estão mais preocupados com a valorização da saúde. ?Essa é muito a geração saúde.

A formação de um movimento reacionário de pessoas que não querem mais ir ao McDonald?s, e, em vez disso, criar hábitos que sejam mais saudáveis. Muitos caminhantes dizem que vão ao local pela saúde mesmo?, revela a pesquisadora. Daiany diz ainda que, pelo fato de a Avenida Raul Lopes ser um espaço de convivência, esse não é o único motivo.

?Há também aquelas pessoas que se reúnem e combinam de caminhar por aquele espaço para colocarem a conversa em dia. Um local mesmo de reencontro, e de socialização enquanto praticam a atividade física?, pontua a antropóloga. Ela reitera ainda que esses encontros ganham outro espaço de combinação, as redes sociais.

?Esse é um movimento que também está se popularizando pelas redes sociais, onde as pessoas aproveitam para marcar a ida a Raul Lopes. É importante lembrar que o espaço é mais que uma calçada onde se pode caminhar, lá há outros ambientes, tanto para atividades físicas como outras práticas de lazer?, explica.

O engenheiro Alfredo Alencar é dessas pessoas que utilizam a caminhada como uma forma de manter contato com amigos e conhecidos. Ele explica que quando não vai para a academia, ele opta pela caminhada.

?Eu vou caminhar para compensar a falta na academia e também para encontrar os conhecidos que sempre estão por lá?, comenta. Ele reforça que tal ambiente é ideal para essa mescla de atividade física e social.

Pelo observado, é fato que a caminhada ganhou o status de prática cultural, além de atividade física. Mas é importante reforçar a questão da saúde, que conta muito e demanda alguns cuidados. A educadora física Denise Noleto relata que, mesmo tendo se popularizado por Teresina, ainda há poucos locais adequados para a prática de uma boa caminhada.

?Faltam os locais planos, para começar, sem avarias e longe do trânsito de preferência, além de segurança para os pedestres que executam as caminhadas. Além da Raul Lopes, a Nova Potycabana e o Parque Lagoas do Norte têm sido utilizados para a prática da caminhada. Mesmo assim, a profissional relata que ainda não atende as demandas da capital.

O estudante Felipe Almendra tem como hobby a caminhada na avenida. ?Tenho o privilégio de poder contar com um espaço adequado para caminhadas perto da minha casa. É muito bom?, disse o jovem. Amigo de Felipe, o piloto de avião Roberto Filho é mais um frequentador da avenida. ?Faço caminhadas para controlar o peso e manter a saúde?, disse.

Praticantes de caminhada se escaneiam

A questão cultural da caminhada revela outros hábitos que são comuns ao comportamento social. A antropóloga Daiany Santos aponta que sua pesquisa revelou algo peculiar entre os caminhantes da Avenida Raul Lopes.

A ação reforça um certo elitismo entre aqueles que escolhem este espaço para a prática de caminhar. "Há um escaneamento das pessoas entre elas mesmo e isso revela um certo elitismo", declara a estudiosa. Ela reforça que a região da avenida está localizada em uma área nobre, e que mesmo indo pessoas de todos os cantos da cidade, essa diferença ainda impera.

"As pessoas vão caminhar, mas isso não acontece de modo aleatório, e por ser um espaço para conviver, elas não vão de qualquer jeito. Existe uma produção para ir lá.

É o melhor tênis, uma garrafinha de água descolada, o uso dos aparelhos eletrônicos, tudo isso está envolvido", explica a antropóloga, reforçando que essas ações são consequência do ambiente de convivência social construído e constituído naquele ambiente.

O escaneamento seria a ação de observar o comportamento e o jeito das pessoas que frequentam o ambiente, ou seja, as pessoas ficam se olhando e comparando-as.

Quando o trabalho da pesquisadora foi realizado, as obras do novo Parque Potycabana ainda não haviam sido concluídas. Mas ela acredita que estas práticas também podem vir a se repetir neste novo ambiente, onde as caminhadas também são bem evidentes.

Caminhar requer orientação profissional

Mesmo que para olhar outras pessoas, conversar, rever amigos, ainda assim a prática de caminhada exige uma orientação profissional. Ao executar essa prática, se malfeita, pode ocasionar lesões. Por isso é importante o acompanhamento especializado e a preocupação com a boa prática de saúde.

A educadora física Denise Noleto pontua que "a prática sem orientação ou mal orientada (como acontece nos consultórios médicos) pode trazer muito mais prejuízos que benefícios, como dores nas articulações enfraquecidas pelo sedentarismo, ou musculares mesmo, pelos exageros cometidos na ansiedade de ter resultados rápidos".

A profissional de educação física explica que antes de tudo é preciso estar com a saúde em dia antes de iniciar a prática da caminhada. "Algumas patologias podem contraindicar totalmente a caminhada, e ao contrário do que se pensa, nesses casos outros tipos de exercícios mais localizados são melhores indicados. É o caso da musculação e o pilates", revela a profissional.

Com a saúde em dia, é preciso procurar orientação profissional sobre a prática da caminhada. As orientações vão desde um correto aquecimento, técnica mais indicada, hidratação, alimentação pré e pós-caminhada, o relaxamento (volta aos níveis de repouso), assim como as melhores vestimentas. A educadora física explica que essas medidas são cruciais para a execução de uma caminhada saudável e eficiente.

O engenheiro Alfredo Alencar procura seguir algumas dessas orientações. "Não vou caminhar sem antes comer algo para não correr o risco de hipoglicemia. E, além disso, faço alongamento antes do exercício pra diminuir o risco de lesão", conta o praticante de caminhada.



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