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Escolas livres de celular: o exemplo da Espanha que desafia professores, famílias e governos

Com a proibição quase total de dispositivos eletrônicos, Espanha busca devolver foco às aulas, reduzir distrações e combater problemas como cyberbullying e queda no rendimento escolar.

Foto: Freepik |

Com o início do ano letivo de 2025-2026, a Espanha deu um passo ousado e polêmico na educação: a proibição quase total do uso de celulares, tablets e até relógios inteligentes em escolas públicas e privadas de diversas regiões. A medida, que já vinha sendo discutida nos últimos anos, ganhou força em comunidades autônomas como Madrid e Catalunha e agora se consolida como uma tendência nacional.

O objetivo é claro: devolver à sala de aula o protagonismo da aprendizagem, reduzir distrações e combater problemas crescentes como o cyberbullying, a dependência digital e a queda de rendimento escolar.

A decisão espanhola

Na Comunidade de Madrid, mais de dois mil centros de Educação Infantil e Primária que atendem cerca de meio milhão de alunos já estão proibidos de permitir o uso de celulares e tablets durante a jornada escolar. Até mesmo programas digitais individuais, comuns nos últimos anos, deverão ser substituídos gradualmente até agosto de 2026.

A Catalunha foi ainda mais longe: proibiu completamente os dispositivos eletrônicos no ensino secundário e determinou a retirada progressiva de telas em etapas iniciais, como a Educação Infantil. Computadores pessoais só serão introduzidos a partir do sexto ano do ensino fundamental.

O Ministério da Educação e o Conselho Escolar do Estado apoiam a iniciativa, incentivando que todas as regiões sigam o mesmo caminho. O consenso é de que os benefícios para a convivência e a saúde mental superam eventuais dificuldades de adaptação.

Por que banir os celulares?

As autoridades espanholas apontam múltiplas razões para justificar a medida:

    •    Mais foco e rendimento acadêmico: estudos internacionais mostram que a simples presença do celular já é suficiente para reduzir a atenção dos alunos e prejudicar o aprendizado.

    •    Combate ao cyberbullying: a proibição dificulta a disseminação de fotos, vídeos e mensagens ofensivas durante o período escolar.

    •    Saúde mental e bem-estar: a redução do tempo de tela é vista como uma medida preventiva contra ansiedade, dependência digital e outros problemas emocionais.

    •    Ambiente escolar mais tranquilo: professores relatam menos interrupções em sala de aula e maior participação nas atividades coletivas.

As críticas e os desafios

Nem todos concordam. Parte dos professores e gestores argumenta que a medida pode limitar projetos pedagógicos baseados em tecnologia e que cada escola deveria ter autonomia para decidir. Famílias também levantam dúvidas sobre a comunicação com os filhos e pedem alternativas em casos de necessidade.

Outro desafio é garantir que a proibição não aumente desigualdades: estudantes que dependem da tecnologia para necessidades especiais ou que contam com programas digitais como parte do currículo precisam de soluções específicas.

Reflexo para o Brasil

No Brasil, onde o uso de celulares em sala de aula ainda é tema de debate em secretarias de educação, o exemplo espanhol levanta uma questão urgente: até que ponto a tecnologia deve estar presente no processo de ensino?

Medidas semelhantes poderiam trazer ganhos de concentração, combater o bullying digital e estimular um uso mais responsável da tecnologia. Por outro lado, também exigiriam políticas públicas de compensação, para não penalizar estudantes que dependem de ferramentas digitais para aprender.

Um exemplo para o mundo

A decisão da Espanha não é apenas uma regra disciplinar, mas um posicionamento sobre o futuro da educação. Em um mundo cada vez mais conectado, o país escolheu proteger a escola como espaço de convivência e aprendizagem focada.

Para países como o Brasil, o movimento espanhol serve de inspiração e alerta: a tecnologia é poderosa, mas deve ser usada com equilíbrio, sob pena de comprometer aquilo que a educação mais precisa atenção, convivência e desenvolvimento humano.

*** As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.
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