A Fundação Wellington promoveu, em Madrid, o colóquio “A Digitalização da Nossa Vida”, um encontro que reuniu especialistas de renome para refletir sobre como a tecnologia está moldando, acelerando e transformando a sociedade contemporânea. O evento, que atraiu mais de 270 participantes dos setores empresarial, jurídico, universitário e científico, destacou-se pelo debate profundo e multifacetado sobre as oportunidades e riscos do avanço digital.
A presidente da Fundação Wellington, Cristina Moratiel, abriu a sessão sublinhando a urgência de compreender o impacto das tecnologias emergentes no cotidiano. “A tecnologia está redefinindo como trabalhamos, como nos relacionamos e como nos informamos. O nosso dever é garantir que ninguém fique para trás”, afirmou, defendendo a criação de espaços de diálogo ponderado para interpretar um mundo cada vez mais complexo.
Sob a moderação da jornalista Ana Samboal, o debate ganhou ritmo a partir de uma pergunta provocadora: “Controlamos as ferramentas digitais ou são elas que começam a nos controlar?” A questão serviu de ponto de partida para uma análise crítica da dependência tecnológica e das consequências sociais e cognitivas dessa transformação.
A ex-presidente da Microsoft e Siemens Espanha, Rosa García, ofereceu uma perspetiva otimista, ainda que cautelosa. Para ela, a digitalização e a inteligência artificial representam uma oportunidade histórica para impulsionar a produtividade e liberar tempo para atividades mais criativas e humanas. Contudo, alertou para a necessidade urgente de reforçar a cibersegurança e formar profissionais preparados. “Teremos uma tecnologia quase perfeita num mundo em que o propósito deve ser humano”, afirmou.
Já o presidente do Conselho Geral de Gestores Administrativos de Espanha, Fernando Santiago, trouxe uma visão mais crítica. Segundo ele, a digitalização institucional não eliminou a burocracia, apenas a transferiu para o ambiente digital. “Digitalizamos o papel, mas não a burocracia”, lamentou, defendendo uma modernização focada no cidadão. Santiago advertiu ainda para o risco de crescente desigualdade: “A eficiência não pode substituir a compreensão.”
O neuropsiquiatra forense José Miguel Gaona acrescentou ao debate a dimensão humana e mental da digitalização. Alertou para o impacto do uso excessivo de aplicações digitais na saúde mental e para a possibilidade de a inteligência artificial vir a moldar culturalmente a forma como pensamos. “A IA pode sintetizar dados, mas não sente o que nós sentimos”, destacou, sublinhando o perigo de uma sociedade cada vez mais dependente cognitivamente da tecnologia.
Na reta final, a moderadora convidou os especialistas a refletirem sobre a exclusão digital. Todos concordaram que a digitalização é um fenómeno irreversível, mas cujo rumo ainda pode e deve ser definido por princípios éticos, formação adequada e pensamento crítico. “A tecnologia é um reflexo da sociedade que temos. A responsabilidade é nossa”, concluiu Rosa García.
Encerrado o debate, os participantes prolongaram a discussão num cocktail-jantar, onde continuaram a explorar ideias, partilhar experiências e vislumbrar caminhos possíveis para um futuro digital inclusivo, seguro e verdadeiramente humano.