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Obsessão e desejo: uma nova visão de “O Morro dos Ventos Uivantes”

A nova adaptação de ‘O Morro dos Ventos Uivantes’ provoca debate ao embranquecer Heathcliff, sexualizar a trama e reinterpretar personagens clássicos de Emily Brontë

Margot Robbie e Jacob Elordi como Catherine e Heathcliff | Foto: Divulgação

O clássico O Morro dos Ventos Uivantes, escrito por Emily Brontë, ganhará uma nova adaptação para os cinemas. Dirigido por Emerald Fenell (conhecida por Saltburn e Bela Vingança), o longa chegará às telonas no dia 14 de fevereiro de 2026, conhecido como o Dia dos Namorados em países como Estados Unidos. O filme também promete uma música original da cantora Charli XCX. 

A obra é conhecida como uma história ousada, envolvendo loucura, obsessão e vingança, além de ser protagonizado por um personagem não-branco. O romance de Brontë pode não ter sido a primeira obra com um protagonista não branco, porém é uma das primeiras a tratar um personagem não branco com tanta complexidade emocional e centralidade narrativa, o que é uma forma significativa de ousadia literária. Sua coragem ao escrever Heathcliff é realmente notável, especialmente considerando o contexto social e histórico da Inglaterra do início do século XIX. 

Infelizmente, mais uma vez a direção resolveu embranquecer o personagem. Em 1939, tivemos sua primeira adaptação, protagonizada por Laurence Oliver e Merle Oberon. A narrativa foi bastante alterada para o cinema da época: o filme enfatizou mais o romance trágico e menos a complexidade sombria e a intensidade da vingança de Heathcliff. O caráter “não branco” de Heathcliff, presente no livro, foi completamente apagado, e o personagem foi interpretado por um ator branco. Novamente ignoraram a descrição de Heathcliff como "escuro de pele", tendo em vista que no longa de 2026, o personagem será interpretado pelo ator Jacob Elordi. 

Jacob Elordi como Heathcliff Foto: Reprodução

Não foi apenas a escalação do ator que gerou polêmica na internet. No romance, Catherine é descrita como uma jovem impulsiva, travessa e com um temperamento selvagem, vivendo numa paisagem rural isolada. Todavia, a atriz Margot Robbie foi escalada para interpretar a personagem, gerando uma controvérsia entre os fãs. Sua polêmica está menos ligada à representatividade racial (como no caso de Heathcliff) e mais a questões de fidelidade ao espírito da personagem e estilo da atriz. Apesar disso, muitos acreditam que, com a direção de Fennell e o roteiro planejado, Robbie pode entregar uma interpretação intensa e emocionalmente convincente, mesmo com as preocupações dos fãs.

Margot Robbie como Catherine Foto: Reprodução

Além disso, de acordo com o teaser que saiu na última quarta-feira (3), o romance gótico recebeu um enfoque mais sensual e sexualizado. O trailer e as entrevistas indicam que o filme explora a paixão intensa e destrutiva entre Catherine e Heathcliff de forma mais explícita, com cenas de intimidade física mais visíveis. A música e a estética visual reforçam essa intensidade: a trilha sonora com Charli XCX e o clima atmosférico dos pântanos de Yorkshire criam um cenário que enfatiza desejo e tensão sexual.

Jacob Elordi e Margot Robbie como Heathcliff e Catherine Foto: Reprodução

Muitos fãs das obras de Emily Brontë criticaram a sexualização, alegando que o livro foca mais na obsessão emocional, vingança e tragédia psicológica do que no romance físico. Por outro lado, alguns críticos argumentam que a abordagem sensual é uma maneira de tornar a história mais moderna e visceral, refletindo o impacto psicológico da paixão entre os protagonistas.

Entretanto, conforme as cenas do trailer, o filme aparenta ser uma mistura de Anora e Bridgerton. A diretora pegou toda a densidade da obra e reduziu a uma frustração sexual. A história entre Catherine e Heathcliff vai muito além de um amor problemático, obsessivo e doentio. É sobre personagens desprezíveis, com complexidades da natureza humana. É sobre racismo, vingança, ódio e transformação social.

Reveja abaixo o teaser trailer da adaptação O Morro dos Ventos Uivantes: 

*** As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.
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