Após restrição de crédito, preço de imóveis não sofre alteração

Com as novas regras para financiamento de imóveis

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O técnico em refrigeração automotiva, Cássio Carneiro Lemos, 25 anos, casado e pai de duas filhas, estava destinado a sair do aluguel e comprar a casa própria, mas foi surpreendido pela alta nas taxas de juros do banco e teve que adiar o sonho. Desde o dia 4 de maio, o valor total financiado para imóveis usados caiu de 80% para 50% no Sistema Financeiro de Habitação (SFH), que usam recursos da poupança e do FGTS. As taxas de juros também aumentaram e a compra de um imóvel ficou mais difícil, contudo os preços não devem sofrer alterações favoráveis aos compradores.

De acordo com Nogueira Neto, presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis do Piauí (CRECI), o preço dos imóveis usados devem ser mantidos por conta da oferta e demanda. Segundo ele, a medida traz pontos negativos para o mercado local, já que a maioria das pessoas, ao adquirir um imóvel novo, coloca à venda sua propriedade antiga. Com as novas regras, o processo de venda vai ficar mais demorado.

“Os preços dos imóveis usados devem ser mantidos, mas deve haver uma queda nas vendas. Existe uma demora de comercialização dessas propriedades devido aos preços, já que o valor estabelecido pelo proprietário é muito alto.

Acredito que é gerada uma expectativa muito grande e esses ficam em estoque e não conseguem ser vendidos. Mas, quando aquele imóvel é colocado à venda no valor de mercado, consegue ser comercializado. Já os imóveis novos devem ter uma leve baixa, nada muito significativo”, declarou.

Cássio Lemos disse que os apartamentos e residências que já tinha feito simulação ficaram com a entrada muito acima da sua capacidade de comprometimento de renda. “Eu não tive mais como fechar negócio. A entrada e as parcelas ficaram muito altas; agora vou ter que aguardar mais um pouco para adquirir minha casa”, declarou.

O presidente do CRECI explica que essa não é a primeira vez que o Governo Federal realiza políticas econômicas de aumento da taxa de juros no Brasil. O especialista afirma que essas são medidas sazonais, mas até lá o mercado local deve acompanhar o que é colocado pelo Governo.

“Nós temos a expectativa que essa medida vai cair por terra e as taxas devem voltar ao normal. Acredito que o mercado imobiliário só não tem espaço para os imóveis caros. Eles sempre tiveram dificuldade de venda, porque esses imóveis passaram da capacidade de aquisição da sociedade, sobretudo da classe média, que é um nicho que está adquirindo muito mais imóveis, e se for caro, as famílias não terão capacidade de financiar e adquirir os mesmos”, esclareceu.

O corretor recomenda que o consumidor faça uma pesquisa e procure orientação de especialistas para ajudá-lo no momento da compra, já que esse imóvel deve atender uma série de requisitos compatíveis ao comprador, como a sua capacidade de aquisição.

Cautela é necessária para evitar comprometer renda familiar

O economista traz como alternativa a utilização de bancos privados que podem oferecer melhores condições nas taxas cobradas para financiar casas com valor até R$ 400 mil.

Mas os compradores deverão ter cautela e realizar um planejamento sobre o valor do imóvel que será adquirido para não comprometer a renda familiar. Ele recomenda, ainda, que sejam feitos cortes de gastos supérfluos para poder cumprir com a prestação do imóvel.

“O comprador deve avaliar se vale a pena financiar o imóvel por um banco privado. Existem alguns que você consegue fazer financiamento com taxas de juros que são compensadoras, mas a nossa recomendação é para que o brasileiro, ao fazer o seu financiamento, deixe a prestação dentro de no mínimo 30% da sua renda. Isso somado entre os cônjuges, juntando as duas rendas, deve chegar a esse valor da prestação, até isso o seu orçamento doméstico é suportável. O que o brasileiro deve fazer é ter cautela e não fazer determinados investimentos que atrapalhem no seu orçamento doméstico e que ele possa diminuir suas despesas”, aconselhou.

Aumento das taxas de juros é legal

Para o advogado Apoena Machado, especialista em Direito Imobiliário, a Justiça compreende que o aumento das taxas de juros é legal e decorre dos ciclos econômicos. Mas o consumidor precisa estar atento às repercussões que o aumento das taxas de juros haverá de imprimir nos custos da Taxa Administrativa e dos Seguros, que irá refletir num aumento no custo efetivo total do financiamento.

“O consumidor deve observar duas circunstâncias de possível ilegalidade: a primeira se refere aos contratos assinados antes do aumento das taxas, para os quais não poderá haver reajustes, devendo as parcelas e o saldo devedor acompanharem as taxas já contratadas. O segundo aspecto diz respeito aos imóveis financiados pela Caixa, que tenham estipulação de cláusulas de reajuste das prestações e do saldo devedor pelo Plano de Equivalência Salarial, casos em que será irrelevante o aumento das taxas de juros, pois o critério de correção contratual será pelos índices de reajustes dos salários do mutuário, e não do mercado”, orientou.

O advogado solicitou, ainda, que o consumidor deve observar o reajuste ilegal. Ele sugeriu que os clientes procurem diretamente os bancos, mas, se não houver solução, o consumidor tem que se antecipar ao dar entrada em uma ação para a revisão dos critérios contratuais e, “o mais importante, consignar ou depositar judicialmente as parcelas, para evitar a perda do imóvel”, destacou.

Vendas baixas podem provocar desemprego

Para o economista Valmir Falcão Sobrinho, o objetivo da mudança da política econômica por parte do Governo Federal é uma tentativa de diminuir a expansão da linha de crédito, uma vez que a inflação opera em alta (8,62%), valor acima da taxa limite do Banco Central (6,5%), afetando, assim, os juros para financiamento de imóveis. Ele acredita ainda que a medida deverá gerar desemprego na construção civil, já que a política gera uma situação antagônica, pois enquanto aumenta a taxa de juros, cresce o desemprego. “Controla-se a inflação, mas gera-se a falta de emprego por conta do desaquecimento das vendas dos imóveis pelos agentes financiadores”, ponderou o especialista.

“O Brasil está passando por um processo que nós, economistas, chamamos de estagflação, que é um aumento da inflação com um crescimento muito pequeno da economia. Então, para não chegarmos em uma estagflação generalizada, o governo tomou essa decisão, que é o aumento na taxa de juros que, por consequência, traz aumento na taxa de imóveis. Como a política econômica do governo era a moradia para diminuir o déficit habitacional que existe no país, o governo deu uma segurada este ano com relação aos investimentos tanto para casas populares quanto para financiamento”, explicou.

“Creio que essa seja uma medida temporária, porque isso é meio cíclico, essa questão da habitação depende muito da iniciativa do Governo Federal em relação ao financiamento dos imóveis, depende muito da situação econômica do país. Como nós estamos passando por um período de pré-crise econômica, o governo está se retraindo com essas medidas, como o aumento da taxa de juros, taxa Selic, que por consequência traz um aumento dos agentes financiadores dos imóveis”, pontuou.



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