Estudante consegue comprar casa própria antes de se formar

Do bolso, saem as estratégias para enfrentar o aperto

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O brasileiro e o dinheiro: uma relação que vive no limite. "Eu tenho medo de perder a casa por causa disso. Dever em banco é perigoso", diz a secretária Lucinéia da Costa.

Dívidas trazem noites sem dormir, mas anda tão fácil gastar mais do que se tem. "Quem nunca passou por isso?", questiona a nutricionista Milaine Felix

Do bolso, saem as estratégias para enfrentar o aperto. "É tudo na ponta do lápis", avisa o empresário Gilberto Fonseca.

"Quanto mais eu quiser por em ordem a minha vida financeira mais eu tenho que trabalhar", explica a psicóloga Renata Brito. Organização, disciplina quem consegue se dar bem em um emaranhado de contas?

Os tombos ensinam, as lições ficam e o dinheiro passa a ter "outro valor" nas mãos de quem todos os dias se preocupa em não gastar mais do que ganha. Mas mesmo com todo esse sufoco, o brasileiro não deixa de sonhar sempre um pouquinho mais alto.

É o sonho de ter a casa própria, de dar estudo aos filhos, de ter um vida com mais conforto. E para construir tudo isso é preciso muito trabalho, muito planejamento e também uma boa dose de coragem, porque o bom mesmo é dar um passo do tamanho da perna e saber gastar muito bem o seu dinheiro.

É território bruto o da construção civil: muito trabalho pesado onde quase não se vê mulher.

"Em várias entrevistas, eu sabia que era melhor que as outras pessoas na parte técnica. Mas muita gente não acreditou pelo fato de eu ser mulher", conta a estudante de engenharia Diana Moreira da Silva.

É com doçura e muita determinação que essa baiana está superando uma barreira atrás da outra. Há quatro anos, Diana deixou a família no interior da Bahia e foi sozinha para São Paulo, com o objetivo de fazer render o principal investimento que fez na vida: o investimento em sua própria educação.

"Eu estudei bastante, fiz o Enem e tirei uma boa nota. Me inscrevi lá da Bahia no ProUni para uma vaga em São Paulo. Aí, consegui a bolsa integral. Quando eu comecei, a mensalidade custava R$ 955. Agora está R$ 1,2 mil", diz Diana.

Mesmo sem pagar nada, graças a seu bom desempenho, Diana precisava trabalhar e bastava olhar em volta para ver que emprego tinha. De 2007 para cá os empregos com carteira assinada na construção civil cresceram 27%. Hoje são mais de 2 milhões de empregados no setor. Para garantir o dela, além da faculdade, Diana fez um curso técnico para aprender a desenhar plantas. Hoje faz quase de tudo na obra.

"Eu faço todo o cronograma de obras, suprimentos, pedidos de material, vistoria, contratação de empreiteiros, funcionários. Em época de obra, chego a chefiar 70 pessoas", explica a estudante.

Para encarar um grande desafio, o ideal é ter um bom preparo. Mas se existe determinação, cada degrau vai sendo vencido, mesmo que aos pouquinhos. E nada melhor que aquele momento em que você para e vê como chegou longe.

E Diana chegou longe mesmo. Aos 22 anos, ainda como estagiária de engenharia, ela não perdeu a chance: comprou um dos apartamentos que ajudou a construir e vai pagar em 25 anos.

"Eu dei uma entrada de R$ 5,5 mil. Tinha a metade. Meu namorado me ajudou, minha tia me ajudou, fui juntando e aí deu. Eu fico emocionada em lembrar a assinatura da documentação. Sei que meu pai deve estar muito satisfeito também. Eu sei que esse é o sonho de muita gente. Sou muito nova para ter conquistado tudo que consegui. Foi um conquista muito importante", lembra Diana.

Por ter ainda muito a conquistar, Diana segue na batalha. E que batalha. Como desistiu de comprar um carro para investir primeiro no apartamento, anda muito de ônibus. E ele demora. É assim para ir de casa para o trabalho; do trabalho para a faculdade. Não é mole. Quando finalmente chega à faculdade, é preciso renovar as forças.

"Foi demorado para chegar. Levo uma hora no ônibus. Eu chego cansada", diz a estudante.

Em uma faculdade particular na Zona Leste de São Paulo, cursa o quarto ano de engenharia civil. Ela faz parte dos quase 5 milhões de universitários do país, número que cresceu 61% em seis anos, de acordo com o último censo da educação superior. Na classe de Diana, quem ficou se considera vencedor. Metade da turma desistiu. Ela atribui a desistência tanto à dificuldade do curso quanto à dificuldade financeira.

Ninguém nasceu em berço de ouro. Todos estudaram em escola pública. O que faltou aprender na escola pesa no bolso, porque muita gente acaba não conseguindo bolsas e descontos.

"Dependendo da sua pontuação no vestibular, você tem um percentual de bolsa. O problema é que o segundo grau público não dá base para a turma conseguir atingir isso", explica o estudante de engenharia Cláudio Jardim.

"O curso exige muito. Se o pessoal não correr atrás e não estudar mesmo, é muito difícil", declara a estudante de engenharia Érica Santos.

O esforço às vezes precisa ser grande como o objetivo que se quer alcançar. Quem se esforça mais tem melhores chances de ser recompensado. Pesquisas mostram que cada ano de escola pode render 15% a mais no salário.

O estudante de engenharia Alex dos Santos Alves já foi pedreiro, chegou até onde os pais não puderam ir.

"Meu pai tem o colegial completo. Minha mãe fez até a 8ª série. Os dois estão orgulhosos de mim, principalmente pela correria que é. Quem fez sabe que muitos domingos ficávamos enclausurados estudando. Mas valeu a pena", conta Alex.

Todos os alunos já estão trabalhando com engenharia.

"Valeu muito", diz o estudante de engenharia José Alves, o primeiro universitário da família, do interior do Ceará. "Dá muito orgulho".

José, Michele, Érica, Cláudio, Rodrigo, Alex e Diana são futuros engenheiros. Brasileiros que investiram no sonho de chegar longe travando a batalha da educação.



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