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Frangos sacrificados e ovos destruídos: Brasil tenta conter gripe aviária no RS

Após surto em granja de Montenegro, governo isola a região e busca evitar impacto nas exportações; Japão adota restrição regional, mas outros países suspenderam compra total

Escavadeira abre espaço para enterrar aves abatidas em granja de Montenegro, no Rio Grande do Sul, por causa do foco de gripe aviária identificado ali | Foto: Silvio Avila/AFP
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Pela primeira vez, o Brasil registrou um foco de gripe aviária (H5N1) em uma granja comercial. O caso ocorreu em Montenegro, no interior do Rio Grande do Sul, e acendeu um alerta nacional e internacional. Antes disso, o vírus havia sido detectado apenas em aves silvestres ou de criação doméstica.

A reação foi imediata: cinco países e a União Europeia suspenderam preventivamente a importação de carne e derivados de aves brasileiros. A medida tem como objetivo conter riscos sanitários, mas acende o sinal de alerta para os impactos econômicos nas exportações do setor.

Isolamento e sacrifício

Para conter a disseminação do vírus, o Ministério da Agricultura e autoridades estaduais decretaram emergência zoossanitária no município afetado e instalaram um cinturão de isolamento de 10 km ao redor da granja. Também foram criadas sete barreiras de desinfecção em estradas da região do Vale do Caí, que abriga mais de 500 granjas.

Cerca de 17 mil aves foram sacrificadas e enterradas por equipes protegidas com trajes especiais. Os ovos da granja, que não são destinados ao consumo humano, mas sim a incubatórios de RS, MG e PR, foram rastreáveis e orientados a serem destruídos, mesmo sem confirmação de contaminação.

Medidas preventivas

O caso levou o governo federal a adotar uma série de medidas para garantir que o vírus não se espalhe. A expectativa é convencer países importadores a limitar a suspensão apenas à região afetada, como fez o Japão, que restringiu a importação apenas aos produtos oriundos de Montenegro.

Outros países, como Argentina, Uruguai, China, Chile, México e a União Europeia, adotaram uma suspensão total, independentemente da origem do frango no Brasil. Já Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita podem seguir o exemplo japonês e limitar a suspensão apenas ao estado do Rio Grande do Sul, graças a acordos comerciais que preveem regionalização sanitária.

Surto investigado

Além do caso na granja, um foco isolado foi identificado no zoológico de Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana de Porto Alegre. O local foi fechado para visitação. Pesquisadores ainda avaliam se há ligação entre os dois casos ou se são ocorrências distintas, considerando que a região é rota de aves migratórias, potenciais vetores do vírus.

Risco à saúde humana

Segundo as autoridades de saúde, o contágio de humanos pelo vírus H5N1 é raro, mas pode ocorrer em quem tem contato direto com animais infectados. Em abril, o México confirmou a morte de uma criança por gripe aviária, mas nenhum dos contatos testou positivo.

Mesmo assim, a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) reforçou que o consumo de carne de frango e ovos segue seguro, não havendo risco para a população.

Exportações em jogo

De janeiro a abril de 2025, o Brasil exportou US$ 3,7 bilhões em carnes de aves e miúdos, com China, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos entre os maiores compradores.

No caso do México, que também suspendeu as importações, o país havia adquirido entre 2024 e 2025 cerca de 252 mil toneladas de carne de ave, além de 12,3 mil toneladas de ovos férteis e outros derivados. O Brasil foi responsável por 14% dessas compras, enquanto os Estados Unidos forneceram a maior parte.

O Brasil agora tenta evitar uma crise maior no setor avícola, adotando transparência e rigor nas medidas sanitárias para recuperar a confiança do mercado internacional.

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