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PIX faz 5 anos: saiba como o sistema evoluiu e os próximos desafios

A internacionalização do PIX segue na agenda do BC, com expectativa de permitir que o sistema seja utilizado em operações para outros países.

PIX completa cinco anos promovendo uma revolução no sistema de pagamentos no Brasil. | Foto: Agência Brasil
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O PIX, plataforma de pagamentos instantâneos criada pelo Banco Central (BC), chega ao seu quinto aniversário neste domingo (16) consolidado como uma das principais ferramentas financeiras do país. Em meio bilhão de usuários e cerca de 890 milhões de chaves cadastradas, o sistema já movimentou R$ 85,5 trilhões entre novembro de 2020 e setembro de 2025, tornando-se parte da rotina de mais de 170 milhões de brasileiros.

Ao longo desse período, o ecossistema foi ampliado: além das transferências imediatas, surgiram funcionalidades como PIX por aproximação, agendamentos, pagamentos automáticos e soluções voltadas ao comércio e a serviços.

O avanço também aparece nos montantes transacionados: somente em 2024, o sistema movimentou R$ 26 trilhões — valor superior ao PIB do país em mais de duas vezes.


🔹 Inclusão financeira e mudanças de comportamento

Para o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do BC, Renato Gomes, o PIX tinha como missão inicial atender pagamentos entre pessoas, mas superou expectativas pela capilaridade adquirida.

“Acho que a surpresa vem do fato de que ele permitiu novos modelos de negócio e possibilitou que as pessoas empreendessem de maneiras que antes não estavam no radar”,
diz o diretor, ressaltando o impacto na inclusão financeira.

A disseminação da ferramenta ajudou pequenos vendedores, especialmente em transações feitas por aplicativos de mensagem e redes sociais, que passaram a operar com comprovantes instantâneos enviados pelos clientes.

A economista Carla Beni, da FGV e do Corecon-SP, reforça o efeito democratizador do sistema:

“Ele é usado por todas as faixas etárias, níveis de instrução e condições financeiras.”

Dados do Banco Central mostram que adultos entre 20 e 49 anos concentram a maior parte das operações. Regionalmente, o Sudeste lidera em volume, seguido pelo Nordeste.

Outro reflexo da popularização é a redução no uso de dinheiro físico: desde 2020, os saques diminuíram 35%, enquanto a preferência pelo PIX aumentou pela agilidade e pelo menor custo. Para o comércio, aceitar a ferramenta pode sair a um quarto do custo de operações via cartão.

No 2º trimestre de 2025, o BC registrou:

  • 19,3 bilhões de operações via PIX;

  • número 53,5% maior que todas as transações com cartões;

  • e 335% acima dos pagamentos por boleto e débito automático.


🔹 Evolução e novas funcionalidades

O uso comercial cresceu à medida que o sistema ganhou ferramentas voltadas a empresas, como:

  • PIX Cobrança, alternativa ao boleto com conciliação automática;

  • PIX Saque e PIX Troco, permitindo retirada de dinheiro em estabelecimentos autorizados;

  • PIX Agendado, que atende pagamentos e transferências regulares;

  • PIX por Aproximação, disponível inicialmente para Android;

  • PIX Automático, destinado a pagamentos recorrentes;

  • integração com o Open Finance, ampliando a captura de pagamentos em plataformas digitais.

Esses recursos diversificaram o uso e estimularam o avanço do sistema no varejo e no ambiente corporativo.


🔹 Golpes, fraudes e resposta do Banco Central

O crescimento acelerado também trouxe problemas. Em 2024, o BC registrou R$ 6,5 bilhões em perdas por fraudes, aumento de 80% em relação ao ano anterior. Em 2025, o Brasil enfrentou o maior ataque hacker já registrado, com o desvio de R$ 800 milhões de instituições ligadas ao PIX.

O Banco Central intensificou sua estratégia de combate às fraudes. Uma das principais medidas foi a coincidência cadastral, que exige compatibilidade entre os dados das chaves e as informações da Receita Federal, dificultando o uso de identidades falsas.

Renato Gomes explica:

“O manual de penalidades também foi reforçado, tornando mais severas as sanções para instituições que não seguem as regras de segurança. Intermediários tecnológicos passaram a operar com limites restritos até cumprirem todas as exigências de credenciamento, e novos mecanismos de alerta para transações suspeitas estão em desenvolvimento.”

Outro instrumento é o Mecanismo Especial de Devolução (MED), responsável por recuperar valores enviados em golpes, sequestros-relâmpago e erros institucionais. Em 2024, mais de 1,13 milhão de devoluções foram concluídas, somando quase R$ 400 milhões.

⚠️ O MED permite que o banco bloqueie o valor suspeito e tenha até sete dias para analisar a situação e devolver o dinheiro à vítima, quando cabível.

A Febraban afirma que o setor financeiro investe cerca de R$ 5 bilhões por ano em segurança digital.

Ainda em novembro, o BC deve lançar o MED 2.0, que acompanhará o dinheiro por todas as contas até seu destino final, permitindo reconstruir toda a trajetória dos valores e bloquear fraudes mais rapidamente.

Gomes reforça:

“O botão do MED, já presente nos aplicativos, continuará como porta de entrada para o pedido. Mas ainda é essencial que o usuário entenda que se trata de uma ferramenta exclusiva para casos de fraude — e não para disputas comerciais.”


🔹 O que vem por aí

O Banco Central prepara o bloqueio de chaves, recurso que impedirá que novas chaves sejam registradas para um CPF sem autorização do titular.

Outra frente será a definição padronizada dos critérios de suspeição para fraudes, o que deve uniformizar a atuação das instituições financeiras.

Entre as novidades mais aguardadas está o PIX Parcelado, que permite que o recebedor receba o valor total na hora, enquanto o pagador divide a compra. Hoje, cada instituição oferece o serviço com regras próprias; a regulamentação do BC deve sair ainda em novembro.

Também está em estudo o PIX Duplicata, com foco na liquidação de duplicatas eletrônicas, que pode reduzir a dependência dos boletos no ambiente empresarial.

A internacionalização do PIX segue na agenda do BC, com expectativa de permitir que o sistema seja utilizado em operações para outros países. Algumas instituições já dispõem de soluções próprias, mas ainda não há regulamentação unificada.

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