Após o rompimento com o SBT motivado pelo convite feito ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ministro Alexandre de Moraes para o lançamento do SBTNews, Zezé di Camargo passou a ser alvo de críticas por adotar um discurso duro contra o chefe do Executivo. O tom político, no entanto, não se repete quando os recursos públicos entram em pauta.
Em São José do Egito, no Sertão de Pernambuco, a prefeitura fechou contrato com o cantor para uma apresentação marcada para janeiro de 2026. O cachê é de R$ 500 mil, valor que será pago com verbas federais, ou seja, provenientes da gestão Lula.
Cachês altos no interior
Para além da disputa ideológica, outro ponto chama atenção: os valores elevados pagos por municípios de pequeno porte. Entre 2024 e 2025, Zezé di Camargo acumulou ao menos R$ 2,21 milhões em contratos com prefeituras, a maioria para shows em cidades do interior do país — incluindo localidades com população inferior a 3 mil habitantes.
Custo por morador
Em Teresina de Goiás, onde vivem 2.701 pessoas, segundo o IBGE, o show em comemoração ao aniversário da cidade custou R$ 380 mil. Na prática, o gasto representa cerca de R$ 141 por habitante.
O valor equivale a mais da metade do total investido no Fundo Municipal de Assistência Social do município nos seis meses anteriores. De acordo com o Portal da Transparência, o fundo recebeu R$ 568.124,15 no período.
Comparações com áreas essenciais
Situação semelhante ocorreu em Nazário (GO), cidade com 8.189 moradores. O cachê estimado para a apresentação durante o rodeio local foi de R$ 400 mil, montante próximo ao que a prefeitura destinou, no último semestre, ao Fundo Municipal de Meio Ambiente, que somou R$ 508.448,11.
Em Ribeirão Branco (SP), com 18.627 habitantes, o show custou R$ 480 mil. Já em Inhapim (MG), município de 22.692 moradores, o contrato alcançou R$ 454,5 mil.
Maior valor
O maior cachê identificado foi pago por Jales (SP). Com 48.776 habitantes, a cidade desembolsou R$ 500 mil para garantir a apresentação do artista.
Legalidade e impacto
Todos os contratos foram firmados sem licitação, com base na inexigibilidade prevista em lei para artistas consagrados. Ainda que a prática seja legal, os números evidenciam o impacto desses cachês nas finanças de municípios pequenos, onde o custo de um único show se aproxima — ou até rivaliza — com investimentos destinados a áreas essenciais.