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Sem assinatura: entenda o adiamento do acordo entre Mercosul e União Europeia

Pressão de países europeus, especialmente França e Itália, levou bloco a postergar decisão para 2026

Bandeiras do Mercosul e da União Europeia | Foto: Reprodução
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A assinatura do acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, prevista para este sábado (20), foi adiada para janeiro após pressão de países europeus que pedem mais garantias para seus setores agrícolas. França e Itália lideraram o movimento que levou a Comissão Europeia a postergar a conclusão formal de um tratado negociado há quase 25 anos.

A Comissão Europeia planejava oficializar o acordo neste fim de semana, o que criaria a maior zona de livre comércio do mundo. No entanto, a Itália se alinhou à França e solicitou mais tempo para discutir salvaguardas ao agronegócio, alterando o cronograma. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, confirmou o adiamento ao afirmar que houve consenso com os países do Mercosul para postergar a assinatura.

Segundo diplomatas ouvidos por agências internacionais, a nova previsão é que o acordo seja assinado no dia 12 de janeiro, no Paraguai. Até lá, seguem as negociações políticas dentro da União Europeia para garantir apoio suficiente no Conselho Europeu.

Entenda o adiamento do acordo entre Mercosul e União Europeia - Foto: Reprodução

Resistência ao acordo

A França é hoje o principal foco de oposição ao tratado dentro do bloco europeu. O presidente Emmanuel Macron afirmou que o país não apoiará o acordo sem novas proteções aos agricultores franceses. Segundo ele, o texto atual não garante equilíbrio entre os padrões ambientais e produtivos europeus e os praticados pelos países do Mercosul.

“Este acordo não pode ser assinado”, declarou Macron, ao reforçar que a França se oporá a qualquer tentativa de acelerar a ratificação sem ajustes. Entre produtores franceses, há temor de concorrência com produtos sul-americanos mais baratos, especialmente carnes e grãos.

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, afirmou que o país pode apoiar o acordo, desde que as preocupações do setor agrícola italiano sejam atendidas. Segundo ela, a decisão depende de medidas adicionais por parte da Comissão Europeia, que poderiam ser resolvidas em curto prazo.

Primeira-Ministra da Itália, Giorgia Meloni - Foto: Reuters 

O posicionamento italiano foi determinante para o adiamento, já que, somado à França e a outros países reticentes, cria um cenário de incerteza no Conselho Europeu, onde é exigida maioria qualificada para autorizar a ratificação do tratado.

Em sentido oposto, Alemanha e Espanha defendem o avanço do acordo. O chanceler alemão, Friedrich Merz, e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, avaliam que o tratado pode ajudar a União Europeia a reduzir a dependência da China e compensar os efeitos de tarifas impostas pelos Estados Unidos.

Além disso, países favoráveis destacam que o acordo não se limita ao agronegócio, abrangendo também indústria, serviços, investimentos e acesso a insumos estratégicos, como minerais críticos.

Como funciona a aprovação

A decisão final passa pelo Conselho Europeu, que exige maioria qualificada: apoio de pelo menos 15 dos 27 países-membros, representando 65% da população da União Europeia. É nessa etapa que se concentra o maior risco político de bloqueio do acordo.

Caso avance no Conselho, a Comissão Europeia poderá ratificar formalmente o tratado, dando início aos processos de aprovação nos parlamentos nacionais e no Parlamento Europeu.

Posição do Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que conversou com Giorgia Meloni antes do adiamento. Segundo Lula, a premiê italiana disse não ser contrária ao acordo, mas enfrenta pressão política interna de agricultores. O presidente brasileiro afirmou que a Itália deve aderir ao tratado após um curto período de diálogo interno.

Presidente Lula - Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo 

Com o adiamento, a expectativa é que a assinatura do acordo entre Mercosul e União Europeia fique para 2026, mantendo em aberto um dos mais ambiciosos tratados comerciais do cenário global.

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