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Suspensão de exportações aos EUA pode derrubar preço da carne bovina no Brasil

Com tarifas americanas, parte da produção destinada ao mercado externo deve ficar no país, pressionando preços internos

Açougue com vendas de carnes. | Foto: Marcos Santos/ Secom
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A decisão do governo norte-americano de impor tarifas extras de 50% sobre a carne bovina brasileira começa a mostrar seus primeiros efeitos no mercado interno. Com frigoríficos de Mato Grosso do Sul já paralisando a produção destinada aos EUA, especialistas projetam uma queda nos preços para o consumidor brasileiro nas próximas semanas.

O vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul (Sincadems), Alberto Sérgio Capucci, explica que a produção que seria enviada aos Estados Unidos está sendo rapidamente redirecionada. "Aquela carne específica para o mercado americano agora está sendo direcionada para outros países e também para o mercado interno", afirmou.

Mercado em transformação

Segundo Aldo Barrigosse, especialista em comércio exterior, o aumento da oferta no mercado doméstico deve beneficiar momentaneamente os consumidores. "Vamos ter mais carne bovina disponível aqui, o que deve baratear tanto os cortes para churrasco quanto para panela", avalia. No entanto, ele ressalva que esse cenário favorável pode ser passageiro, já que a tendência é que os produtores busquem rapidamente novos mercados internacionais.

Fernando Henrique Iglesias, analista do Safras & Mercados, aponta que a indústria brasileira já está se movimentando para realocar os produtos. "Os frigoríficos vão tentar redirecionar essa produção para outros mercados internacionais para minimizar os impactos", explica. O Brasil conta com uma vantagem significativa: mais de 100 países importam carne bovina brasileira, com a China respondendo por cerca de 48% do total exportado.

Busca por novos mercados

O governo brasileiro já está trabalhando para abrir novas frentes de exportação. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, destacou recentemente a importância de fortalecer as relações com mercados do Oriente Médio, Sul Asiático e Sul Global. Neste mês, o Vietnã retomou as compras de carne brasileira, e negociações com Japão e Coreia do Sul estão sendo intensificadas.

Enquanto isso, cerca de 30 mil toneladas de carne bovina - no valor aproximado de US$ 160 milhões - já estão a caminho ou nos portos dos Estados Unidos, conforme revelou Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira de Carne Bovina (Abiec). "Com essa taxação, a exportação para os EUA se torna inviável", lamentou Perosa após reunião com o vice-presidente Geraldo Alckmin.

Efeito passageiro

Apesar da expectativa de queda nos preços internos, especialistas alertam que o alívio para os consumidores pode ser temporário. A capacidade do setor em encontrar rapidamente novos compradores internacionais e a possibilidade de negociações diplomáticas que revertam a medida americana são fatores que podem encurtar o período de preços mais baixos nos açougues brasileiros.

Enquanto aguardam a definição sobre as tarifas que devem entrar em vigor em agosto, produtores e governo trabalham em duas frentes: garantir novos mercados para a carne brasileira no exterior e monitorar os efeitos dessa mudança no abastecimento e nos preços do mercado interno. O desafio é equilibrar as necessidades da indústria exportadora com os interesses dos consumidores domésticos.

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