Isabel Cardoso
Para o Mais
A chegada do mês de outubro traz consigo o destaque para o câncer de mama, a importância do autoexame e dos tratamentos preventivos. Em 2020, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), foram registrados 66.280 mil novos casos de câncer de mama no Brasil, correspondendo a quase 30% das incidências de câncer em mulheres brasileiras. Para as mulheres que já são pacientes oncológicas, uma rede de apoio tanto informacional quanto emocional é imprescindível.
Fundado por Flavia Flores em 2015, o Instituto Quimioterapia e Beleza (IQeB) tem um papel fundamental no acolhimento de milhares de mulheres em tratamento. Desde o auxílio na recuperação da autoestima à divulgação de informações de saúde, o Instituto oferece uma rede de apoio que incentiva pacientes a alcançarem seus objetivos e passarem pelo tratamento de forma mais leve. Além disso, o IQeB mantém o maior banco de lenços do Brasil, e as ações de doação já entregaram mais de 30 mil lenços para pacientes de todo o país.
Já Deborah Duarte é bióloga e empresária da moda, presidente e sócia-fundadora do Instituto Quimioterapia e Beleza, especialista em marketing e projetos de impacto social.
Na entrevista ao Meio Norte, Flávia Flores fala de sua experiência após receber o diagnóstico de câncer de mama e conta como a página "Quimioterapia e Beleza" se tornou referência entre as mulheres que fazem tratamento de câncer.
Meio Norte: O que levou você a criar o Instituto?
Flavia Flores: Em outubro de 2012, após o diagnóstico de câncer de mama, criei a página “Quimioterapia e Beleza”, que se tornou referência para mulheres que enfrentam o diagnóstico e o tratamento de câncer. Na página do facebook ainda é possível encontrar informações sobre beleza, autoestima e bem-estar.
Sempre estive ligada ao mundo da moda e da beleza e trabalhei em grandes empresas, em diversas áreas do mercado de moda nacional e internacional, como modelo, produtora, representante e gerente de marketing, entre outros. Assim, a partir do diagnóstico e da passagem pelo tratamento, trouxe essa bagagem profissional e fundei o Banco de Lenços Flavia Flores, unidade de ação do Instituto Quimioterapia e Beleza, em que recebemos lenços e, depois de preparados, doamos com muito carinho às pacientes oncológicas. Elas podem solicitar pelo nosso site.
Em 2013, lancei meu livro Quimioterapia e Beleza, que se tornou best seller no Brasil, e em 2014 houve o lançamento também em Portugal.
MN: Qual a proposta do Instituto?
Flavia Flores: O Instituto Quimioterapia e Beleza foi fundado em 2015 e é uma Instituição composta por diretoria voluntária e profissionais cuja visão é fazer mais feliz e significativa a vida de todas as pessoas que passam pelo câncer. Como principal frente, mantemos nosso maior projeto, o Banco de Lenços Flavia Flores, a partir do qual já doamos mais de 30 mil lenços para pacientes de todo o Brasil. Além desse gesto de carinho e acolhimento, feito por meio dos lenços, oferecemos suporte psicológico e jurídico, compartilhamos informações sobre saúde, engajamos voluntários e promovemos oficinas de beleza para autoestima - lenços e automaquiagem. Além disso, desenvolvemos pesquisas junto às pacientes, com a nossa diretoria científica e também estamos em atenção à mulher pós-câncer.
MN: Quantas mulheres são atendidas no Instituto, por ano?
Deborah Duarte: Em 2020, num ano atípico, conseguimos atender cerca de 15 mil mulheres de todo Brasil, seja com atendimento psicológico, com as Oficinas de lenços ou de automaquiagem, com as doações de lenços, pesquisa e voluntariado.
MN: Assistência, informação, beleza, quais as principais demandas do Instituto?
Deborah Duarte: Hoje, estamos focados em dois novos projetos: O Manual de Direitos dos Pacientes Oncológicos e no Abre Portas. O Manual será lançado agora em Outubro, impresso e digital, e distribuído gratuitamente em 20 hospitais do Brasil, com o objetivo de esclarecer as dúvidas mais frequentes relacionadas aos direitos dos pacientes oncológicos, os quais já passam por momentos tão difíceis com o diagnóstico e o tratamento e que não precisam ser agravados pela inobservância dos seus direitos. São abordados temas como FGTS, CNH, exames, medicamentos, planos de saúde e há a indicação do órgão que se deve recorrer para garantir esses direitos.
O Projeto Abre Portas surgiu da demanda das pacientes e seu retorno à carreira profissional. Muitas tiveram carreiras interrompidas pela doença ou foram dispensadas durante o tratamento. E como fazer a retomada? Currículo, entrevista, como se preparar para voltar a um mercado preconceituoso. Com esse projeto pretendemos orientar, capacitar e oferecer oportunidades nas Empresas e suas vagas e, por meio de uma plataforma digital, fazer a conexão entre pacientes e empresas. O projeto está desenhado e tem parcerias fechadas com Sebrae e FGV. Estamos apenas aguardando patrocínio para implementar a plataforma.
MN: Sabemos que uma das grandes dificuldades dos pacientes passa pelo atendimento hábil. O Congresso Nacional discute o Direito da Pessoa que sofre com a enfermidade. Como é a legislação e prática brasileira para o atendimento adequado ao paciente?
Deborah Duarte: Estamos aguardando a aprovação de um Estatuto que vai facilitar e consolidar uma legislação nacional única para tratar do assunto. Hoje, na prática são legislações esparsas, cada lei trata de um assunto específico. Existem muitas leis municipais ou estaduais, por exemplo, de transporte coletivo, que é diferente em cada município, ou ainda, a questão do IPTU. Não é que o Estatuto vá abranger temas tão específicos, mas só de existir uma referência nacional, genérica, já ajuda bastante.
MN: Quais orientações são repassadas para que essa enfermidade seja evitada?
Flavia Flores: Prevenção e autocuidado. Manter uma alimentação balanceada, atividades físicas diárias e fazer os exames anualmente são pontos para uma prevenção mais adequada que a mulher pode fazer. O autoexame também deve ser feito mensalmente e a qualquer sinal diferente, deve-se investigar. Após os 40 anos, as mulheres devem fazer a mamografia, anualmente, pois este exame permite uma detecção de tumores mínimos, em estágios iniciais, que podem ser curados em 95% dos casos.
MN: O Instituto tem alcance nacional? Tem diálogo com outras entidades?
Deborah Duarte: Sim, com a pandemia, pudemos falar com mais pacientes, ampliando os atendimentos para o universo virtual. Prestamos apoio a pacientes em todo o Brasil, seja com o envio dos lenços, como também suporte jurídico e psicológico que sempre teve a opção de ser realizado via skype. As Oficinas de automaquiagem são em parceria com outra Instituição e estão sendo realizadas on-line também, permitindo a participação de mulheres de todo o Brasil. Temos várias entidades parceiras que interagimos com o projeto que faz doação de perucas. Cada peruca é acompanhada de um lenço do Instituto Quimioterapia e Beleza. Também temos parceria com outro projeto que realiza visita às pacientes nos leitos de hospitais para entregar os lenços em mãos e ampliar o carinho. Também temos parcerias com hospitais públicos e filantrópicos na doação de grandes lotes de lenços e manuais em todo o país.