Uma cena vista na TV mudou a postura de Donald Trump sobre a crise humanitária em Gaza. O presidente dos Estados Unidos, que antes ignorava pedidos de ajuda de grupos humanitários, afirmou que as imagens de crianças desnutridas exibidas na televisão o levaram a defender o envio de auxílio.
“Isso é fome real. Eu vejo e não se pode fingir isso”, declarou no fim de julho, ao comentar declarações do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, de que não havia fome no território palestino.
Conhecido por evitar leituras e análises formais, Trump sempre foi influenciado pelo que vê na tela. Dan Kennedy, professor de jornalismo na Universidade Northeastern, lembra que o republicano “tem a reputação de não ler nada” e de preferir formar opinião a partir de imagens.
Desde sua posse, Trump participou de apenas 22 sessões de inteligência. Durante seu primeiro mandato, reportagens mostraram que ele passava horas diante da TV, com predileção pela Fox News, mas também assistindo CNN, NBC e ABC.
Estratégia de impacto visual
Ex-apresentador de 14 temporadas do reality O Aprendiz, Trump domina o uso das imagens para criar momentos de impacto. Ele descreveu a morte do líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, como “incrível de assistir”, comparando a operação a um filme.
O presidente também utiliza vídeos para constranger líderes estrangeiros. Em maio, exibiu no Salão Oval uma montagem com erros para o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, como parte de uma acusação de “genocídio” contra agricultores brancos. Pouco depois, impôs tarifas de 30% ao país.
Influência constante
Apesar de investir em podcasters e influenciadores em sua campanha, Trump continua a se informar principalmente pela televisão. Ele mesmo reconhece isso. “Assisti à CNN outra noite (...). Provavelmente sou a única pessoa que assiste a esse canal”, disse à CNBC.
Para críticos e aliados, a predileção pela TV não é apenas um hábito, mas um fator que pode moldar diretamente as ações diplomáticas dos Estados Unidos.