Dezenas de agricultores franceses realizaram um protesto nesta sexta-feira (19) em frente à casa de praia do presidente Emmanuel Macron, na cidade de Le Touquet, no norte da França. A manifestação teve como foco a oposição ao acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul e outras reivindicações do setor agrícola. Os manifestantes despejaram esterco, lixo e pneus no local como forma de pressão política, mesmo após o anúncio do adiamento da assinatura do tratado para janeiro.
Durante o ato, os agricultores descarregaram sacos de esterco, pneus, repolhos e galhos em frente à residência de tijolos vermelhos de Emmanuel Macron e de sua esposa, Brigitte Macron. Um caixão simbólico com a inscrição “Não ao Mercosul” foi colocado diante da casa, que estava sob forte vigilância policial.
O protesto ocorreu um dia após uma grande mobilização de agricultores europeus em Bruxelas, contra o mesmo acordo comercial, que terminou com registros de confrontos e episódios de violência.
CRÍTICAS AO ACORDO E À POLÍTICA AGRÍCOLA
O acordo entre a União Europeia e o Mercosul prevê a redução ou eliminação de tarifas de importação e exportação entre os dois blocos. Após os protestos, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, informou aos líderes europeus, na quinta-feira (18), que a assinatura do tratado, prevista para este sábado (20), foi adiada.
Mesmo com o adiamento, os agricultores mantiveram o protesto. Segundo Benoît Hédin, do sindicato agrícola FDSEA, o ato teve caráter simbólico e representa a insatisfação com as políticas atuais. “Estamos retrocedendo”, afirmou, ao citar o acordo com o Mercosul e a reforma da Política Agrícola Comum da União Europeia, que pode resultar em redução de benefícios aos produtores no próximo ano.
Marc Delaporte, outro agricultor presente no protesto, também criticou o impacto do acordo. “Os produtos são importados sem qualquer restrição regulatória e competem conosco a preços impossíveis de igualar”, disse. “Estamos protestando há dois anos e nada muda.”
ADIAMENTO DA ASSINATURA DO TRATADO
A Comissão Europeia concluiu o acordo comercial em dezembro de 2024 com Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. A assinatura estava prevista para ocorrer durante a cúpula do Mercosul, em Foz do Iguaçu, no sábado (20), mas foi adiada após pressão da França, com apoio recente da Itália.
O FNSEA, principal sindicato agrícola francês, classificou o anúncio do adiamento como insuficiente. “O Mercosul continua sendo um NÃO! Portanto, para dar xeque-mate no Mercosul, vamos nos manter mobilizados”, escreveu a entidade nas redes sociais.
Os agricultores franceses afirmam temer o impacto da entrada em larga escala de produtos sul-americanos, como carne, arroz, mel e soja, no mercado europeu. Segundo o setor, esses produtos seguem regras de produção menos rígidas, o que os tornaria mais competitivos em relação à produção local.