O Nepal enfrenta uma nova onda de instabilidade política após a renúncia do primeiro-ministro K.P. Sharma Oli, ocorrida na última terça-feira (9). A decisão veio em meio a protestos massivos contra a corrupção, impulsionados pela proibição de redes sociais, que já resultaram em pelo menos 25 mortes e mais de 600 feridos, segundo o Ministério da Saúde do país.
As manifestações, organizadas principalmente por jovens da chamada Geração Z, rapidamente tomaram conta das ruas. Indignados com a repressão, os protestos se intensificaram, resultando na destruição de prédios públicos e no incêndio da Suprema Corte e do Parlamento.
Exército pede diálogo
O Exército do Nepal fez um apelo aos manifestantes para que participem de negociações. No entanto, como não há uma liderança centralizada entre os jovens, as autoridades não sabem com quem dialogar diretamente.
“A Geração Z deve formar uma equipe de negociação”, afirmou o ex-juiz da Suprema Corte, Balaram K.C., destacando que o presidente precisará conversar com essa equipe, membros da sociedade civil e representantes militares para tentar uma saída pacífica.
De acordo com a Constituição de 2015, a sucessão do cargo de primeiro-ministro deve ser conduzida pelo partido com maioria no Parlamento. Caso nenhum partido consiga esse posto, o presidente pode nomear outro membro capaz de formar maioria, que deve obter um voto de confiança em até 30 dias.
Se nenhuma alternativa funcionar, o Parlamento pode ser dissolvido e novas eleições convocadas. O problema é que, atualmente, os principais líderes políticos enfrentam descrédito popular e até mesmo estão escondidos da pressão dos manifestantes.
Governo interino é cogitado
Apesar de a Constituição não prever um governo interino, especialistas acreditam que a saída pode ser a criação de uma gestão provisória, com ampla representatividade, capaz de responder às demandas da Geração Z.
“Esse governo poderia implementar mudanças exigidas pelos jovens e realizar eleições dentro de seis meses”, avaliou o constitucionalista Bipin Adhikari.
Entre os favoritos da juventude estão Balendra Shah, rapper e compositor de 35 anos, eleito prefeito de Katmandu em 2022 e bastante popular por iniciativas de limpeza urbana. Outro nome em ascensão é Rabi Lamichhane, ex-jornalista e fundador do Partido Rastriya Swatantra. Preso sob acusação de desvio de fundos, ele chegou a ser retirado da prisão pelos manifestantes no dia da renúncia do premiê.
Possível mudança constitucional
Além da queda do governo, os protestos reacenderam o debate sobre a necessidade de uma nova constituição. O Nepal aboliu a monarquia em 2008 e aprovou sua atual carta em 2015, apesar das críticas.
Agora, setores da população defendem sua reformulação. Embora a Constituição permita emendas, qualquer mudança precisa passar pelo Parlamento, justamente a instituição que hoje é vista com desconfiança e alvo da fúria popular.