Desafetos tentam interferir no conclave que vai escolher sucessor de Francisco

Campanhas virtuais, edição de verbetes e dossiês apócrifos são usados para influenciar decisão dos cardeais antes do encontro na Capela Sistina

Camerlengo em frente ao caixão do Papa Francisco na Basílica de São Pedro | Foto: Andrew Medichini/POOL/AFP
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A morte do Papa Francisco, aos 88 anos, abriu o caminho para um novo conclave, cerimônia centenária em que os cardeais se reúnem a portas fechadas, na Capela Sistina, para eleger o novo Pontífice. Mas, segundo o jornal italiano Corriere della Sera, antes mesmo do início formal do processo, opositores de Francisco já articulam nos bastidores para influenciar a escolha.

Nos cerca de 15 a 20 dias entre a morte do Papa e o início do conclave, há espaço para boatos, ataques virtuais e tentativas de manipular a opinião pública religiosa. De acordo com o jornal, movimentos conservadores ligados à Igreja nos Estados Unidos lideram essas ações, que envolvem desde a edição de perfis de cardeais na Wikipédia até a disseminação de dossiês com acusações infundadas.

De boatos antigos a ataques planejados

Esse tipo de movimentação não é novidade. Em 2013, quando Francisco ainda era apenas um dos cotados para suceder Bento XVI, espalhou-se o boato de que ele teria apenas um pulmão. Durante o conclave, ele precisou explicar que havia perdido apenas parte de um lobo pulmonar na juventude, sem prejuízo à saúde.

Hoje, porém, a internet tornou esse tipo de manobra mais sofisticada e difícil de rastrear. Segundo o Corriere, um grupo autointitulado “por uma melhor governança da Igreja” chegou a montar o Red Hat Report, uma operação com orçamento de 1 milhão de dólares para produzir dossiês negativos sobre cardeais eleitores, mirando acusações de abuso, corrupção e outros escândalos.

Resistência conservadora e temor de hackers

O livro Como a América quis mudar o Papa, do jornalista Nicolas Senèze, já denunciava desde 2019 a existência dessa articulação da direita católica americana para minar a liderança de Francisco. Parte da estratégia, segundo a obra, era editar verbetes na Wikipédia e espalhar documentos falsos, como os elaborados pelo ex-arcebispo Carlo Maria Viganò, hoje excomungado por cisma após chamar o papa de “servo de Satanás”.

Nos últimos anos, o Vaticano passou a reforçar seus canais oficiais, como os sites Vatican.va e Vatican News, na tentativa de frear a disseminação de desinformação. O Corriere ainda alerta que há receio de ataques hackers nos dias que antecedem o conclave, quando os cardeais ainda estão conectados ao mundo externo.

A eleição em si continua blindada por um rígido sistema de isolamento. Ao entrarem na Capela Sistina, os cardeais ouvem o tradicional “extra omnes” — todos para fora — e são privados de qualquer contato com o exterior até a escolha do novo líder da Igreja Católica. Mas o jogo de influência já está em campo e bem antes da fumaça branca.

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