A ex-diretora dos museus Diego Rivera Anahuacalli e Frida Kahlo Casa Azul, Hilda Trujillo, denunciou publicamente o desaparecimento de ao menos dez obras atribuídas a Frida Kahlo (1907–1954), além da retirada de 12 páginas do diário original da artista mexicana. As acusações envolvem supostas práticas irregulares por parte de autoridades ligadas ao setor cultural do país.
MÁ GESTÃO
Em nota divulgada à imprensa, Trujillo afirmou que houve má gestão, contratações sem critério técnico, mau uso de recursos e transações que ferem os direitos autorais de artistas cuja obra é classificada como Monumento Artístico do México — uma designação legal que exige cuidados específicos com o acervo.
PEÇAS DESAPARECIDAS
Entre as peças desaparecidas, segundo a denúncia, estão dois quadros a óleo e oito desenhos de Kahlo. Ela também aponta o sumiço de páginas originais do diário da pintora, cuja guarda deveria ser responsabilidade dos museus. As obras fariam parte do acervo doado ao Estado mexicano por Diego Rivera em 1955.
Quadro Congresso dos Povos pela Paz | Foto: Reprodução
As pinturas “Frida em chamas” (1954) e “Congresso dos povos pela paz” (1952) aparecem entre as obras citadas por Trujillo. A primeira estaria atualmente em uma coleção particular nos Estados Unidos, enquanto a segunda foi vendida pela casa de leilões Sotheby’s à coleção Mary-Anne Martin por US$ 2,6 milhões.
Frida em Chamas, obra de 1954 | Foto: Museu Latino
A ex-diretora cobrou transparência na gestão do acervo, solicitando acesso ao contrato de fidúcia das obras mantidas sob responsabilidade do Instituto Nacional de Belas Artes e Literatura (INBAL), órgão encarregado de autorizar restaurações, exportações temporárias e reproduções comerciais das obras de Rivera e Kahlo.
Em resposta, o INBAL declarou que não autorizou nenhuma exportação definitiva de obras dos dois artistas e recomendou que denúncias sobre irregularidades sejam formalmente encaminhadas às autoridades competentes.
Hilda Trujillo, reconhecida por sua atuação à frente dos museus ligados ao casal Kahlo e Rivera, ganhou destaque internacional ao posicionar essas instituições entre as mais relevantes da América Latina. Sua saída da direção, em 2020, sem explicações oficiais, gerou surpresa entre gestores culturais do país.
As denúncias de Trujillo também reacendem o debate sobre a eficácia da legislação mexicana de proteção ao patrimônio artístico. A figura legal do “monumento artístico” exige que proprietários — públicos ou privados — informem o INBAL sobre a localização e estado de conservação das obras, criando um modelo de fiscalização considerado referência na América Latina.