O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, manifestou apoio à proposta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de transferir o controle da Faixa de Gaza para os EUA e realocar a população palestina. Segundo Netanyahu, a ideia é "revolucionária" e traria mais segurança para Israel. A declaração foi feita poucos dias após seu encontro com Trump na Casa Branca.
No início da semana, Trump sugeriu que os mais de 2 milhões de palestinos que vivem em Gaza fossem transferidos para países vizinhos, como Jordânia e Egito, para transformar a região na "Riviera do Oriente Médio". No entanto, a proposta gerou forte oposição de líderes árabes e da comunidade internacional, sendo considerada uma tentativa de limpeza étnica, o que é classificado como crime contra a Humanidade.
ALINHAMENTO COM TRUMP
Em discurso ao Gabinete, Netanyahu enfatizou que Israel e os Estados Unidos compartilham o objetivo de impedir que Gaza volte a representar uma ameaça:
"O presidente Trump veio com uma visão completamente diferente e muito melhor para Israel, uma abordagem revolucionária e criativa" — disse Netanyahu, acrescentando que o líder americano está "muito determinado a implementá-la" e que a visita a Washington garantiu "conquistas tremendas".
CESSAR-FOGO E NEGOCIAÇÕES EM RISCO
A declaração de Netanyahu ocorre no mesmo dia em que o Hamas anunciou a retirada das tropas israelenses do corredor Netzarim, uma via estratégica que dividia Gaza e impedia deslocados de retornarem ao norte do território. Essa movimentação faz parte do acordo de cessar-fogo firmado entre Israel e Hamas, antes da posse de Trump.
No sábado, três reféns israelenses foram libertados pelo Hamas, totalizando 16 das 33 pessoas previstas para serem soltas em intervalos escalonados. Diante disso, Netanyahu ordenou que negociadores retornem ao Catar para continuar as tratativas, embora tenha reafirmado sua intenção de derrotar o grupo palestino.
Fontes do governo israelense, contudo, indicam que Netanyahu pode estar tentando sabotar o acordo, enviando uma delegação sem autonomia para avançar nas negociações. Uma fonte anônima afirmou ao jornal Haaretz que o premiê não deseja dar continuidade à trégua, pois teme perder apoio entre eleitores de direita.
IMPACTO INTERNACIONAL
A proposta de Trump de realocar palestinos para outros países pode complicar ainda mais as negociações para um cessar-fogo duradouro. Em entrevista à Fox News, Netanyahu disse que a ideia de Trump "pode mudar tudo em Gaza" e é "a abordagem correta para o futuro do enclave".
O Egito, que se opõe à aceitação de refugiados palestinos, convocou uma cúpula árabe extraordinária para 27 de fevereiro, a fim de discutir os impactos da proposta americana. O ministro das Relações Exteriores egípcio, Badr Abdelatty, já viajou a Washington para consultas com autoridades do governo Trump e congressistas.
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, também se manifestou contra a proposta de deslocamento forçado:
"Ninguém tem o poder de remover o povo de Gaza de sua terra, onde estão há milhares de anos", declarou Erdogan em coletiva de imprensa.
CONFLITO SEGUE SEM SOLUÇÃO DEFINITIVA
A guerra entre Israel e Hamas já dura mais de 15 meses e é considerada a mais mortal e destrutiva entre as partes. Estima-se que entre 47 mil e 61 mil palestinos tenham morrido em bombardeios israelenses. O ataque inicial do Hamas, em 7 de outubro de 2023, deixou 1,2 mil mortos e resultou no sequestro de 250 pessoas, das quais cerca de 90 ainda estão em cativeiro.
Com os impactos da proposta de Trump sobre Gaza ainda em discussão, o futuro do cessar-fogo e a estabilidade na região permanecem incertos.
Com informações de O Globo