Passageiro do voo da TAM que passou por uma forte turbulência na madrugada desta segunda-feira (2), o advogado paulista Fábio de Sá Cesnik, 38, descreveu o episódio como "um show de horrores". "As pessoas gritavam, parecia que a aeronave estava caindo em queda livre", definiu.
Segundo o advogado, sócio de um escritório de advocacia na capital paulista, o susto maior que ele diz ter tomado veio minutos depois dos safanões que deixaram 12 passageiros e três tripulantes feridos na aeronave, segundo a TAM.
Quando a turbulência parou e consegui ligar o monitor para ver onde a gente estava, fiquei muito assustado: vi que era perto de onde caiu o AF 447, da Air France, anos atrás. Só consegui pensar: "Essa área aqui é maldita", desliguei o monitor e tentei ficar calmo", contou.
O modelo da aeronave em que Cesnik viajou, por sinal, era um Airbus --o mesmo tipo usado no voo da companhia francesa, em 2009.
O passageiro chegou no final da manhã a São Paulo.
Leia, abaixo, o relato dele
"Eu já tinha passado por outras turbulências, mas claro que nada tão forte.
A sensação é que a aeronave começa a cair em queda livre. Foram minutos que pareceram horas. Quando as turbulências começaram, vi pessoas voando para o teto e caindo no chão. O avião deu como que uma embicada e o soco na parte de trás foi muito grande.
Um senhor ao meu lado bateu a cabeça ?você via as cabeçadas dos outros passageiros, por essa razão, o teto do avião ficou inteiro quebrado. Várias máscaras caíram, deu uma sensação de Bagdá, de guerra, mesmo.
Muita gente rezava o Pai-Nosso, outros tantos choravam e também tinha passageiros bravos, nervosos com tudo aquilo. Tinha sido uma sensação muito ruim, né?
Mas preciso dizer que o trabalho da tripulação foi muito bom. As comissárias deram um gás para ajudar quem precisava e prestaram um baita serviço ?instalou-se mesmo uma espécie de coalisão de solidariedade entre elas, uma médica e um bombeiro que estavam a bordo. Pois muita gente passava mal.
Essa médica, por exemplo, colocou de volta o ombro deslocado uma passageira que urrava de dor.
Quando a turbulência parou e consegui ligar o monitor para ver onde a gente estava, fiquei muito assustado: vi que estava perto de onde caiu o Air France. Só consegui pensar: "Essa área aqui é maldita", desliguei o monitor e tentei ficar calmo.
Depois dos trancos, o avião entrou novamente em rota e ainda teve mais de uma hora de viagem. O ruim até parar é que muita gente estava passando mal.
Quando a aeronave finalmente aterrissou em Fortaleza, muitos aplaudiram. Já alguns preferiram reclamar porque tinham perdido reuniões. Eu mesmo perdi uma reunião no Rio, mas o que é uma reunião perto disso?
Já em solo, o comandante comentou que o avião tinha condições de chegar a São Paulo, pois não tinha sofrido danos na estrutura. Só que a empresa não autorizou e redirecionou o pouso para Fortaleza.
Esperei apenas 15 minutos para embarcar de volta a São Paulo [a maioria dos passageiros só retornou às 13h50, em novo voo]. Pretendo continuar voando, porque, mesmo de carro, a gente corre risco: de repente você atravessa um semáforo e um louco bate em você.
Mas não quero entrar para a história. Não quero de novo ter a sensação de "dessa a gente não sai".
Voo saiu de Madri
Conforme a Infraero, o voo JJ 8065 partiu de Madri às 23h10 (horário local) com destino a Guarulhos, onde deveria chegar às 4h55. Durante o trajeto, foi informado que a aeronave, um Airbus A330, teria de fazer um pouso técnico, o que ocorreu à 1h43. O modelo é semelhante ao da aeronave do voo AF 447, da Air France, que caiu no oceano Atlântico em junho de 2009 quando ia do Rio de Janeiro a Paris.
Ainda de acordo com a Infraero, a companhia aérea solicitou atendimento médico a passageiros e tripulantes. "O pessoal da própria Infraero fez o primeiro atendimento, e os passageiros que necessitaram de atendimento em hospitais foram encaminhados pelo pessoal do Samu", informou a assessoria de imprensa da Infraero.
Dos passageiros feridos, nove foram encaminhados para o IJF (Instituto José Frota) --maior posto público de saúde de atendimento de emergência de Fortaleza. Outros passageiros foram levados para hospitais particulares, segundo informou a Infraero.
O IJF informou que sete pacientes que precisaram ser internados já foram liberados, e que dois seguem internados --a colombiana Tatiana Indira Velandia e a peruana Graciela Anadeia Aguiar Di Carlier.
Tanto a colombiana quanto a peruana sofreram trauma cervical e fizeram raio-x e tomografia durante a manhã. O hospital informou que elas estão conscientes e que o quadro de ambas é considerado estável.
Em nota, a TAM confirmou que o pouso ocorreu por conta de "uma turbulência que provocou ferimentos em alguns passageiros e tripulantes." A empresa não informou o número de passageiros e tripulantes no voo.
"A aeronave aterrissou em segurança, e os feridos foram encaminhados para atendimento médico. Todos já foram liberados, com exceção de dois passageiros que permaneciam em observação no hospital para exames complementares. A companhia lamenta o ocorrido e está prestando a assistência necessária a seus passageiros e funcionários", informou.