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Mecânico da Voepass relata problemas na manutenção do avião que caiu em 2024

Na última semana, a Anac suspendeu operações da empresa aérea, que ficou tristemente conhecida pelo acidente que matou 62 pessoas em SP

Mecânico da Voepass relata problemas na manutenção do avião que caiu em 2024 | Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
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Na terça-feira (11), a Anac suspendeu as operações da Voepass, empresa envolvida no trágico acidente de 9 de agosto de 2024, quando um avião ATR-72-500 caiu em Vinhedo, matando 62 pessoas. 

Um mês depois, o Cenipa divulgou relatório preliminar apontando que, no voo fatal, havia formação excessiva de gelo, o que comprometeu a estabilidade da aeronave, que não seguiu o procedimento recomendado para derreter o acúmulo, e os sistemas de expulsão de gelo das asas falharam.

A queda foi uma das raras na aviação comercial em que a aeronave perde altura enquanto gira, o chamado "parafuso chato". Para entender os problemas que levaram ao acidente e à suspensão dos voos da Voepass, o Fantástico entrevistou um mecânico da empresa, que já trabalhava lá antes e depois do incidente. 

O que diz o mecânico que trabalhou na Voepass

  • Repórter: Você já tinha trabalhado em várias outras empresas. O que a Voepass tinha de diferente?
  • Mecânico: A Voepass não dá suporte nenhum para a gente da manutenção. Não só de materiais, de componentes que vão ser postos nos aviões, colocados para manutenção, como ferramentas, tudo. Passei por grandes empresas, empresas boas, empresas excelentes, quando chegamos na Voepass, a gente sente uma diferença muito grande
  • Repórter: Quando vocês da manutenção souberam que o avião tinha caído em Vinhedo, como é que vocês reagiram?
  • Mecânico: Eu já sabia que ia acontecer isso com o Papa Bravo [apelido da aeronave por causa das duas últimas letras do prefixo, P e B]. Era o avião que dava mais problemas, era o avião que dava mais pane. A gente avisava que o avião estava ruim, a manutenção sabia que o avião estava ruim, a manutenção reportava, falava, avisava, e eles [ele se refere à alta chefia do centro de controle de manutenção da Voepass] queriam obrigar a gente a botar o avião para voar.
  • Repórter: Na parte da manutenção, o que mais chamou a tua atenção depois que aconteceu o acidente?
  • Mecânico: Aí se você me perguntar, poxa, mudou alguma coisa? Mudou em nada. Acho até que piorou.

Imagem: Reprodução/Fantástico 

Imagens obtidas pelo Fantástico em dezembro mostram aviões parados em um matagal em Ribeirão Preto, sede da Voepass. Segundo o mecânico, eles eram canibalizados, ou seja, desmontados para fornecer peças às aeronaves em operação. Embora essa prática não seja necessariamente um problema, o ex-funcionário afirma que na Voepass era feita de maneira irregular

  • Repórter: A gente recebeu umas imagens, tinha uns aviões envelopados com uma lona, que que é aquilo?
  • Mecânico: Aqueles aviões que estavam cobertos, aqueles eram os aviões que estavam no mato. Por que eles mandaram cobrir? Porque a ANAC ia fazer uma vistoria lá. Eles estavam escondendo da ANAC.

Mecânico da Voepass relata problemas na manutenção do avião que caiu em agosto de 2024 — Foto: Reprodução/Fantástico 

O que diz a Voepass

Em nota ao Fantástico, a Voepass afirma que pretende retomar suas atividades o mais rápido possível e que, durante seus 30 anos de operação, a segurança sempre foi prioridade máxima. Segundo a companhia, o relatório preliminar do Cenipa conformou que a aeronave do voo 2283 estava com certificação válida e todos os sistemas em funcionamento. 

Sobre a manutenção das aeronaves, a Voepass defende que a reutilização dos componentes entre aviões é legal quando há certificação e rastreabilidade adequadas. A empresa contesta denúncias de irregularidades, afirmando seguir todos os protocolos regulatórios. Sobre os aviões envelopados, diz que nunca burlou fiscalizações.

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