O ódio não vem do short ou da saia. Vem da pele que habita as mulheres, que em um contexto de biopoder são manipuladas pela força bruta daqueles que precisam jurar masculinidade. Em entrevista ao Jornal Meio Norte, em pleno 25 de janeiro, Dia Laranja, data fixada em todos os meses pela ONU para combater a violência de meninas e mulheres, a delegada Eugênia Villa explica porque o machismo tem um viés violento e cruel.
Vestida com a cor da data fixada pela ONU, a delegada conta que foi homenageada no mês passado pelo trabalho realizado no Piauí. “As pessoas precisam entender que nós, mulheres, não somos descartáveis. Existe um background, um som de fundo que está por trás de tudo isso. Não é apenas a roupa. É a ideia de um corpo descartável. As mulheres estão com um corpo destituído de significado. Não podemos ter vida social, vida política, direito histórico. Não somos vidas que podem ser vividas. Daí o assassinato de mulheres no Piauí”, aponta.
Para Eugênia Villa, as pessoas começam a classificar mulheres de forma simplista, apenas pela anatomia. “Instala-se um alfabeto violento. Do mesmo jeito que acontece com o feminicídio. Questionar a forma como uma mulher se veste é como se ela fosse uma vítima de sacrifício. É um algo para ser consumível. É um consumo canibalista que é um tributo que retroalimenta o mandato de masculinidade, aquela coisa de homem macho. A conquista da mulher vira um mero tributo”, acrescenta.
Diante de ódios disfarçados de opiniões, que por vezes são publicados em redes sociais e até mesmo na mídia tradicional, é preciso lembrar todos os dias de como é preciso proteger as mulheres do contexto absurdo imposto por machistas declarados. “A mulher é um ser biopolítico porque a biologia dela a torna um ser vulnerável. O biopoder controla nossos corpos. Até os homens estão indignados. O que vemos hoje em dia é uma masculinidade hegemônica em crise. Mas muitos homens jovens já estão aos poucos se conscientizando sobre a questão da fraternidade, isso está em crise. Por isso ainda vemos essas absurdos e ficamos admiradas com certos posicionamentos”, finaliza a delegada.