Policial vítima de homofobia de colegas é retirado de batalhão

Soldado gravou um vídeo após 'temer pela vida'

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O soldado da Polícia Militar Adriell Rodrigues Alves Costa, de 35 anos, que denunciou tortura, assédio e homofobia no 39º Batalhão da Polícia Militar, em São Vicente, no litoral de São Paulo, foi retirado da unidade. Após depoimento na Corregedoria, ele se apresenta nesta terça-feira (5) ao comando do policiamento.

Um vídeo gravado pelo soldado no último fim de semana repercutiu na internet. "Se algo acontecer com a minha vida, com a minha integridade física, a responsabilidade é do comandante do batalhão, da Polícia Militar e do estado, que nada fizeram para apurar as minhas denúncias", afirmou na gravação.

Na segunda-feira (4), ele prestou depoimento na Corregedoria da PM, em São Paulo. Ao sair de lá, o policial foi informado de que deveria se apresentar novamente no 39º Batalhão, onde está lotado há pouco mais de um ano. "Eles me disseram que não tinham o poder de me tirar de lá, mesmo eu argumentando".

Horas depois, porém, Adriell recebeu uma notificação de que, em vez de voltar ao batalhão que é alvo das denúncias, deveria se apresentar na sede do 6º Comando do Policiamento do Interior, em Santos, responsável pelas regiões da Baixada Santista e Vale do Ribeira. "Agora, começo a ver luz no fim do túnel".

Apesar da mudança, o soldado, que é policial há nove anos, ainda teme pelo que pode acontecer. "Eu venho registrando denúncias há mais de um ano, e só agora, depois que eu fiz o vídeo, eles pararam para me escutar. Eu ainda não sei qual vai ser o meu futuro, não sei se serei preso, temo pela minha segurança".

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou, por meio da assessoria de imprensa, que o policial prestou depoimento na Corregedoria da Polícia Militar para tratar das denúncias citadas no vídeo. Entretanto, não detalhou se o soldado será transferido em definitivo do 39º Batalhão, localizado em São Vicente.

Denúncias

Soldado Costa afirma ser vítima de assédio moral, tortura física e psicológica e homofobia do comando, de oficiais e de colegas lotados no 39º Batalhão. Ele afirmou que, ao longo de um ano, remeteu denúncias aos superiores, à Ouvidoria da PM e até à Corregedoria que, segundo o policial, foram sempre ignoradas.

Após prestar concurso, passou a trabalhar no 24º Batalhão, em Diadema, e depois em Mauá, ambos na Região Metropolitana de São Paulo. Em 2011, ele foi atropelado enquanto trabalhava, teve as mãos lesionadas e, desde então, passou a atuar em funções administrativas nas unidades de polícia.

Em 2016, ele pediu transferência a São Vicente, já que mora no litoral. "Fui mal recepcionado pelo comandante do batalhão. Ele me disse que eu era um peso morto, que não servia para a unidade, porque já vinha com restrições". O problema se agravou quando o médico do CPI o liberou para todas as funções.

Na unidade, ainda conforme o soldado, ele foi obrigado a trabalhar em obras, carregar latas e madeira, além de entulho. As atividades ocasionavam dor e o forçavam a procurar o pronto-socorro rotineiramente. "Eu recebia atestados, mas não eram aceitos na unidade. Por isso, eu respondi por vários procedimentos".

Se não bastasse, Costa diz ainda ser vítima de preconceito e perseguição por ser homossexual. "Eu escutei de um cabo que eu tinha que 'virar homem'. Ele me disse: 'Você não é homem. Você não está agindo como um homem'. Decididamente, um inferno começou na minha vida quando vim para a Baixada [Santista]".

"Eu temo, a qualquer momento, que possam dizer que eu cometi um crime ou fiz algo errado. É um sistema no qual o poder está concentrado na pessoa que eu acuso. Se juntarem dois ou três, e eles falarem que eu fiz algo, é a palavra deles contra a minha. Por isso, a gravação do vídeo, foi meu último recurso".



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