Presídios do Piauí usam livros para recuperar presos

“Me sinto muito valorizado. É como se dissessem: você está preparado para conviver em sociedade. É bom saber que estou sendo visto […]

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“Me sinto muito valorizado. É como se dissessem: você está preparado para conviver em sociedade. É bom saber que estou sendo visto por coisas boas”, reflete, orgulhoso, o reeducando Joilson Ribeiro, com seus 12 certificados pela participação no Projeto Leitura Livre.

Joilson é um dos 232 detentos do sistema prisional do Piauí que fazem parte do Projeto Leitura Livre, lançado em 2015 pelo Ministério da Justiça, e potencializado em 2017 pela Secretaria da Justiça do Estado do Piauí, em parceria com a Secretaria da Educação, Tribunal de Justiça e a Corregedoria Geral de Justiça do Piauí.

Desenvolvido como um meio de proporcionar cultura, educação e conhecimento por meio da leitura e da produção de textos críticos, o Leitura Livre abrange, atualmente, 11 unidades penais do estado. A meta é contemplar, até o ano que vem, todos os 17 presídios do Piauí.

(Foto: Thanandro Fabrício)

No Projeto, os detentos leem obras da literatura piauiense, brasileira e estrangeira, e elaboram resumos, que são avaliados por uma comissão técnica. A cada livro lido, o reeducando recebe remição de quatro dias na sua pena.

A diretora de humanização da Sejus, e coordenadora do Leitura Livre, Dihna Miranda, ressalta que, antes de serem encaminhadas às unidades, as obras precisam passar por uma triagem, na qual são analisados alguns requisitos.

“Não podemos permitir que o reeducando leia qualquer livro. Tem que ser uma leitura leve, que faça bem a ele, como clássicos da literatura, romances, ficção, religiosos, autoajuda”, explica. Recentemente, a Defensoria Pública do Estado doou 157 títulos para as unidades prisionais do Piauí, em uma campanha do Projeto Baú de Ideias.

Ainda segundo Dihna, promover a leitura nas unidades prisionais ajuda no comportamento e ressocialização dos internos. “Os psicólogos e assistentes sociais, que coordenam o projeto nas unidades, já fazem o acompanhamento dos reeducandos e indicam o melhor livro para que eles possam lidar melhor com suas angústias. Muitos entram pensando só na remição, mas, ao longo dos ciclos, percebem o quão importante é a leitura”, diz.

O reeducando Marcelo Everton é um destes. Há dois anos no Leitura Livre, o interno conta que entrou no projeto pensando apenas em redimir sua pena, mas descobriu o poder transformador dos livros. “Eu era muito tímido e os livros me ajudaram a conversar e me comunicar melhor. Juntar a leitura com a escrita é muito bom, e, aqui, temos a oportunidade de escolher o livro com que mais nos identificamos”, ressalta.

Com 35 reeducandos inscritos, o Leitura Livre tem gerado ótimos resultados na Penitenciária Regional Irmão Guido, em Teresina. A assistente social e coordenadora do projeto na unidade, Yara Rodrigues, explica que a leitura melhora a qualidade de vida dos internos, proporcionando mudanças na forma de se comportar diante das mais diversas situações.

“É uma excelente ferramenta de ressocialização. Estamos inserindo cada vez mais reeducandos no projeto. Percebemos que eles querem combater a ociosidade, e o Leitura Livre fornece esse estímulo”, afirma.

Para o detento Joilson Ribeiro, o nosso personagem da fala inicial desta matéria, a leitura e o conhecimento libertam. “Temos estrutura para a ressocialização. A humanização, de fato, existe. As psicólogas e assistentes sociais nos tratam com respeito. Isso não tem preço. Conversamos e discutimos sobre o que estamos lendo e, assim, desenvolvemos nosso senso crítico”, conta.

Joilson relembra o livro que mais lhe marcou durante o Projeto. “Nunca Desista dos Seus Sonhos, do Augusto Cury. Ele fala de personagens da história que não desistiram dos seus sonhos, como Abraham Lincoln e Nelson Mandela. Cada livro tem um aprendizado e me torna uma pessoa melhor e mais forte”, diz.

Transformação por meio do conhecimento

Garantir a educação e a capacitação nas unidades penais é um dos focos da atual gestão da Secretaria da Justiça do Estado, e tem gerado resultados positivos. Nos últimos meses, a Sejus certificou 104 reeducandos em cursos profissionalizantes nas unidades de Teresina, Picos e Parnaíba. Dentre os cursos ofertados estão o de Panificação e Confeitaria, Auxiliar de Cozinha e Microempreendedor Individual (MEI).

No Piauí, já são mais 700 detentos participando de programas educacionais nos presídios do Estado. O percentual é de 40%, quase quatro vezes maior que o índice nacional, de aproximadamente 12,6%, segundo o Departamento Penitenciário Nacional (Depen).

Além disso, a Secretaria da Justiça inscreveu, esse ano, 522 detentos no Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade, de 2019 (Enem PPL). O número foi superior aos 354 de 2018, representando um aumento de 47,45% nas inscrições

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