Professora transforma dificuldades em oportunidades em Teresina

Maria Eloíza conseguiu diploma superior aos 38 anos

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Quando as inúmeras dificuldades não são capazes de acabar com os sonhos de alguém, elas se tornam um motivo a mais para seguir em frente. É justamente esta a lição dada por Maria Eloíza. 

Ela teve todos os motivos para fazer parte do grupo de analfabetos do país, mas com muita força de vontade lutou de maneira corajosa em busca de estudo. Aos 20 anos de idade, Eloíza concluiu o ensino fundamental e, aos 38, conseguiu diploma de curso superior.

Com 49 anos, Eloíza hoje é pedagoga. Ela esforçou desde cedo para descobrir novos rumos para sua vida por meio da educação. Natural da comunidade Pequizeiro, zona rural do município de Campo Maior, ela foi abandonada pelo pai quando tinha oito anos de idade. Nesta época, já havia sido alfabetizada, mas teve que parar por aí.

Eloíza, junto com seus cinco irmãos ficaram sob os cuidados da mãe, que foi obrigada a dividir os filhos com parentes próximos para garantir a eles sobrevivência.

“Quando meu pai foi embora a coisa mudou de figura. Minha mãe era analfabeta e encontrou essa saída para seguirmos em frente”, conta a professora, que, nesta época, foi morar com sua tia em Teresina, no bairro Primavera, zona Norte da cidade.

“Aqui, estudei o ensino fundamental menor na escola Murilo Braga, depois não deu mais certo e tive que retornar para Pequizeiro”, acrescenta Eloíza. Com a situação ainda complicada, sua mãe estava morando na casa do seu pai, avô de Eloíza, com os dois irmãos menores. 

Ela então foi mandada para a casa de uma professora na cidade de Campo Maior, onde ajudava a cuidar dos filhos da dona da casa, que trabalhava durante dois turnos. cuidava dos filhos da Sem poder estudar durante o dia, Eloíza se matriculou no antigo Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA).

Enquanto boa parte dos jovens aos 20 anos já está na universidade, ela conseguiu concluir o ensino fundamental. “No CEJA eu pegava os livros e estudava em casa, ia na escola somente para fazer as provas. 

Mas mesmo assim era difícil, porque a escola era longe da casa e eu não tinha uma prática sistemática para fazer as provas. Eu fazia e não passava, porque eu não alcançava a média, então tinha que repetir a série novamente. Mas um dia eu consegui”, lembra Eloíza ao ressaltar que as conquistas dependem do querer de cada pessoa.

“Me orgulho muito da minha trajetória, de ter passado por tudo que passei. Essa história de trauma não existe. Sou muito resolvida nas minhas situações psicológicas e grata a Deus por todas as oportunidades”, disse.

Determinação 

A vida de Eloíza estava apenas começando aos 20 anos. Com ensino fundamental completo, ela precisava e sentia a necessidade de trabalhar. Com a cara e coragem, veio a Teresina pedir emprego a um conhecido de seu avô.

“Vim na Secretária de Educação do Estado e conversei com o secretário da época, que não me deu nenhuma esperança, mas pediu que eu aguardasse. Dias depois recebi um recado para que eu comparecesse à secretaria e trouxesse todos os meus documentos. Foi quando assumi o cargo de auxiliar de escritório, que era o que o meu grau de estudo permitia”, comenta.

Já morando em Teresina e estando empregada, a professora foi informada de que no município Campo Maior teria o ensino médio aos finais de semana, também na modalidade supletivo. Como essa era uma boa oportunidade, já que daria para estudar e trabalhar, não pensou duas vezes, pegou o ônibus e foi fazer sua matrícula.

“Eu trabalhava de segunda a sexta, viajava todos os sábados para a cidade. Assitia às aulas o domingo inteiro e somente no final do domingo retornava para casa, porque precisava trabalhar na segunda”, declara Eloíza.

Depois de um certo tempo, ela passou de auxiliar para professora. Foi dar aula numa escola de ensino infantil e logo depois se tornou diretora.

Aprovação no vestibular só aconteceu aos 34 anos

Após muita luta e dificuldades enfrentadas é chegada a hora de dar mais um passo: o tão sonhado ensino superior. Como em todos os momentos de sua vida, a conquista deste não foi fácil, a começar pela aprovação no vestibular.

Eloíza tentou vestibular três vezes. Na terceira tentativa foi selecionada no curso de Pedagogia da Universidade Federal do Piauí.

“Com 34 anos conseguiu passar e começar o curso na Ufpi em 2001. Ainda tive sorte que a escola em que eu trabalhava era no Plantalto Ininga, então dava para trabalhar e estudar ao mesmo tempo”, recorda.

Mesmo pagando disciplinas apenas no período da noite, porque trabalhava durante todo o dia, ela concluiu o curso em quatro anos. “Me lembro das chuvas, das dificuldades de ir embora da Universidade tarde da noite. Mas hoje me orgulho de tudo que conquistei com meu esforço”, comenta Eloíza.

Em 2007, Eloíza foi aprovada no concurso da rede municipal para professora. No ano seguinte, fez outro concurso na área de pedagogia e foi aprovada novamente.

Ela então pediu exoneração do cargo de professora, devido a problemas na garganta, e hoje é pedagoga. Além deste emprego, ela trabalha ainda na Coordenação de Ensino de Jovens e Adultos da Seduc, desde 2003.

“Sempre repasso minha experiência para os alunos do EJA, porque geralmente eles têm dificuldades. Digo a eles que estão no lugar certo, que é o conhecimento que promove a gente”, finaliza.

Fotos: Luiz Fernando Gonzaga



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