Sterling Anderson, executivo responsável pela área tecnológica da General Motors (GM), desponta como principal nome para suceder a CEO Mary Barra quando a executiva deixar o cargo. Anderson, de 42 anos, assumiu a função de Chief Product Officer (CPO) em junho, após passagem pela Tesla e pela cofundação da empresa de caminhões autônomos Aurora Innovation.
Segundo pessoas familiarizadas com o assunto, o entendimento no momento da contratação foi de que, caso Anderson consiga entregar avanços em software e tecnologia de condução autônoma para os veículos da GM, terá chances de assumir o comando da empresa no futuro. A eventual sucessão, no entanto, ainda não está definida.
Mary Barra, que completará 64 anos na próxima semana, não tem obrigação estatutária de se aposentar e pode optar por permanecer no cargo. O presidente do conselho da GM, Mark Reuss, de 62 anos, também pode ter papel relevante no processo sucessório.
ESTRATÉGIA DE SOFTWARE E AUTONOMIA
Entre as atribuições de Anderson está a ampliação do poder computacional dos veículos da GM, com maior controle de funções mecânicas por software, como direção e frenagem, além do desenvolvimento de serviços que possam gerar receitas recorrentes por meio de assinaturas.
O executivo também participa dos esforços para tornar os veículos elétricos da montadora financeiramente viáveis. Atualmente, o segmento acumula prejuízos, em meio à desaceleração das vendas e ao fim de incentivos federais nos Estados Unidos.
Foto: Jeff Kowalsky/Bloomberg
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Antes de ingressar na GM, Anderson foi diretor de produtos da Aurora Innovation, onde liderou a transição da empresa do foco em robotáxis para o transporte autônomo de cargas. Anteriormente, atuou na Tesla, onde liderou o desenvolvimento do Model X e do sistema de assistência ao motorista AutoPilot.
Ele deixou a montadora após divergências sobre a condução do projeto, que passou a ser investigado pela National Highway Traffic Safety Administration em razão de acidentes envolvendo a tecnologia.
Questionado sobre a possibilidade de assumir o comando da GM, Anderson evitou comentar o tema. “Meu foco está no que estou fazendo. Tenho muito trabalho a fazer onde estou”, disse em entrevista
DESAFIOS TECNOLÓGICOS
A GM tem enfrentado obstáculos em sua estratégia tecnológica. O encerramento da unidade de táxis autônomos Cruise ocorreu após um acidente envolvendo um pedestre e elevados custos operacionais. Além disso, a empresa registrou perdas de US$ 1,6 bilhão no segmento de veículos elétricos no terceiro trimestre e prevê aumento desse valor no quarto trimestre.
O primeiro esforço da GM em veículos definidos por software também enfrentou dificuldades, como falhas no lançamento do Chevrolet Blazer elétrico, que teve as vendas suspensas por três meses.
Apesar disso, a montadora planeja lançar, em 2028, um sistema integrado de software veicular desenvolvido com apoio de executivos vindos da Apple, permitindo condução autônoma em rodovias, com planos de expansão para ambientes urbanos.
RECONSTRUÇÃO DA ÁREA DE SOFTWARE
Uma das principais missões de Anderson é reestruturar o grupo de software da empresa, após a saída de executivos e a demissão de cerca de mil engenheiros no último ano. Ele também retomou a contratação de ex-funcionários da Cruise para fortalecer o desenvolvimento da tecnologia autônoma.
“A contratação de Anderson mostra a ênfase que damos à autonomia. E esse é um grande foco da empresa no momento. E, francamente, não temos todo esse talento internamente. Ninguém tem. Temos que recrutar pessoas de fora", afirmou Kurt Kelty, vice-presidente de baterias e propulsão da GM.
PRIORIDADE NOS VEÍCULOS ELÉTRICOS
Anderson afirmou que a GM aposta em baterias de manganês-lítio (LMR) para reduzir custos dos veículos elétricos em até US$ 10 mil por unidade, com lançamento previsto para 2028. Apesar da desaceleração nas vendas e de políticas que favorecem veículos a combustão, ele defende a continuidade da estratégia elétrica.
“Entendemos que, a longo prazo, as plataformas de veículos elétricos provavelmente serão as dominantes”. Seria uma visão míope para nós recuarmos no interesse da lucratividade de curto prazo e nos concentrarmos apenas em veículos com motor de combustão interna”, disse Anderson.
ADAPTAÇÃO
Ciente das dificuldades históricas enfrentadas por executivos externos nas montadoras de Detroit, Anderson afirmou ter levantado a preocupação ao assumir o cargo.
“Essa foi a minha maior preocupação que eu disse a Mark quando cheguei: será que vou ser rejeitado aqui?”, relatou. Segundo ele, a estratégia tem sido compreender a estrutura interna da empresa antes de promover mudanças. “A pessoa simplesmente não pode se dar ao luxo de quebrar uma empresa e esperar juntar as peças novamente em uma empresa como a General Motors”, afirmou.
“O que se quer fazer é entender como a empresa funciona e, em seguida, começar a fazer mudanças cirurgicamente em toda a empresa.”