SEÇÕES

Amor à Vida: Projeto transforma vidas de ex dependentes químicos na zona rural de Teresina

Associação atua há dois anos no povoado Trabalhosa ofertando cuidado e assistência social para a comunidade local

Acolhidos participando de uma das atividades do projeto | Foto: Arquivo pessoal
Siga-nos no

Em uma região de difícil acesso e quase esquecida, nasceu um projeto fruto do desejo e da necessidade de ajudar aqueles que sempre estiveram à margem da sociedade.

Assim surgiu a Associação Beneficente Amor à Vida, que há dois anos presta assistência a pessoas em processo de recuperação no povoado Trabalhosa, zona rural de Teresina.

A iniciativa é do ex-dependente químico e motorista de aplicativo, Lincoln Cavalcante, que, ao ter sua vida transformada em uma casa de recuperação, decidiu ser ponte para aqueles que também precisam de cuidados.

Lincoln Cavalcante, fundador da associação, entregando cesta básica para uma moradora (Foto: Arquivo pessoal)

"Por escolhas erradas, fui morar na rua, perdi emprego e família. Mas um lugar como esse abriu as portas para mim e me deu uma oportunidade de vida”, relatou Lincoln. A partir dessa experiência, ele decidiu usar o que aprendeu para ajudar o próximo.

Mesmo sem recursos, se arriscou e, aos poucos, o projeto ganhou forma.

“Fui batendo de porta em porta e conseguindo uma coisa ou outra, até que consegui o sítio e paguei o primeiro mês de aluguel. Vim para cá apenas com duas pessoas. É um local de difícil acesso, mas muito tranquilo”, completou.

O IMPACTO NA COMUNIDADE

Lincoln reforça que a chegada do projeto transformou completamente a região, antes esquecida. Hoje, os moradores contam com um ponto de apoio que oferece abrigo, alimentação, cursos profissionalizantes e, principalmente, acolhimento para quem busca uma segunda chance.

A comunidade local também recebe assistência social e ajuda humanitária (Foto: Arquivo Pessoal)

A moradora da região, Bruna Araújo, afirmou que a associação para a comunidade representa muito mais do que apenas um acesso a comida, mas também uma nova etapa para o progresso da comunidade local.

"Esse projeto veio para agregar mesmo. A gente precisa de visibilidade por conta que como vocês puderam observar há uma dificuldade de acesso. Acredito que agora com a associação podemos ter benéficos para a comunidade. Não só alimentícios, mas também ornamentação e ressocialização de pessoas", explicou.

PONTE SOCIAL

Além de atividades práticas, como a capoeira, cuidados com a saúde e fornecimento de uma alimentação adequada. Na Associação, há uma valorização do convívio coletivo e uma busca frequente em trazer os acolhidos para o centro da sociedade novamente.

A população recebe cestas básicas doadas pela ONG. Alessandra Borges ( à esquerda) - Foto: Arquivo Pessoal

O espaço também conta com o auxílio da assistência social, Alessandra Borges, que trabalha diretamente com os ex- depende químicos. O acolhimento dessas pessoas é feito através de mapeamento e identificação do histórico individual de cada um.

"A gente faz um levantamento individual. Existe uma conversa individual, assim, buscamos indentificar os problemas de cada um. Como também no coletivo, fazermos ações pedagógicas justamente para haver uma socialização entre eles mesmos com o intuito de promover uma aceitação individual e inserção no coletivo", explicou a profissional.

UMA SEGUNDA CHANCE

Uma das frases mais ouvidas por lá é: “Todo mundo merece uma segunda chance”, princípio que norteia a associação. 

José Neres, acolhido da associação (Foto/ Reprodução)

José Neres, um dos acolhidos, teve a vida transformada após sua família conhecer o projeto pelas redes sociais.

“A associação nos acolhe em um momento difícil. Aqui, todos passamos por problemas parecidos e buscamos paz para seguir em frente. Sou muito grato, porque é aqui que estou aprendendo a recomeçar”, contou.

Cuidar também é um ato de cura. Macione Nascimento, colaborador e um dos diretores da associação, está há três anos sóbrio e hoje dedica seu tempo a ajudar outros em recuperação.

“Já estive onde esses irmãos estão hoje. É gratificante ajudar e mostrar que, para quem acredita, a sobriedade tem jeito. Estamos aqui para apoiar, seja com um corte de cabelo ou uma cesta básica”, destacou.

LUGAR DE RESSOCIALIZAÇÃO

De acordo com o Ministério da Saúde, em 2021, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou mais de 400 mil atendimentos a pessoas com transtornos mentais e comportamentais decorrentes do uso de álcool e outras drogas, a maioria homens entre 25 e 29 anos.

Na Associação Amor à Vida, a capoeira é uma das ferramentas usadas no enfrentamento da dependência química e símbolo de esperança para uma vida melhor.

Contramestre Mineral leva a capoeira para ajudar da ressocialização dos acolhidos (Foto/ Reprodução)

Com mais de 40 anos de atuação, o contramestre Mineral leva arte e propósito aos acolhidos por meio da prática.

“A capoeira é dança, arte e luta. É um dos maiores instrumentos de ressocialização que existe, porque traz um leque de oportunidades para quem busca mudança através da cultura. Eu sou um grande exemplo disso”, afirmou.

Cerca de quase 2 mil pessoas vivem nas ruas no Piauí. Sendo 73% desse número apenas em Teresina. Associações, como o Amor a Vida, são importantes para retirar esses indivíduos da rua e de ambientes propícios ao vício. Atualmente, o projeto se sustenta por doações, sem vínculo com o poder público e luta diariamente para que o trabalho seja continuado sem que as portas se fechem.

Tópicos
Carregue mais
Veja Também