Em colaboração com Ananda Soares e Saymon Lima
O delegado Danúbio Dias, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) detalhou a dinâmica do assassinato de Bartolomeu Gabriel Gomes, o Bartô, de 17 anos. Nesta sexta-feira (28), uma operação entre o DHPP e o Departamento de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) cumpriu mandados de busca e apreensão na região do Torquato Neto, onde a polícia acredita atuar o grupo criminoso envolvido na morte do adolescente.
Sequestro dentro do clube do River
Segundo a investigação, o crime teve início na tarde de 29 de setembro de 2024, quando Bartô frequentava o clube do River, no bairro Torquato Neto. Integrantes do Bonde dos 40, que consideravam a área dominada pela facção, reconheceram o jovem como suposto rival. Ele foi detido no local e levado para um banheiro, onde ocorreu o primeiro interrogatório.
Ligação para a família
A polícia confirmou que, ainda no clube, Bartô foi autorizado pelos suspeitos a ligar para o pai, pedindo ajuda e afirmando temer que não retornaria caso fosse levado. A mãe tentou impedir que o adolescente fosse retirado do local, mas foi impedida com violência por um dos envolvidos, identificado como Samuel dos Santos Siqueira Torres, o Cara de Mal ou Maguin, que está foragido.
"Ele pediu ajuda ao pai, pediu para que o pai interferisse e não deixasse que ele fosse levado, porque ele sabia que se ele fosse levado, provavelmente ele não retornaria. A mãe interviu, a mãe apelou para eles, para que eles não levassem a vítima ou o filho dela. No entanto, um deles, um que está foragido, o Samuel, agiu com violência contra a mãe, impedindo-a de forma violenta e ameaçadora para que ela não interferisse no que eles estavam fazendo com a vítima, ou seja, no que eles chamam de raio X, nesse interrogatório", relatou Danúbio Dias.
Após a detenção, Bartô foi retirado do clube por Elianderson de Souza Silva, o Piloto, que o conduziu de moto até um apartamento no próprio Torquato Neto. A polícia afirma que o imóvel foi cedido por Gutenberg Pereira da Silva, o Magão ou Gugu. Nesse local, o adolescente foi mantido por horas, sendo torturado e interrogado pela célula criminosa.
Execução e enterro na Vila Babilônia
Com a decisão de executá-lo, o grupo levou Bartô até a Vila Babilônia, área situada atrás do conjunto Torquato Neto. Ele foi assassinado e enterrado em uma cova improvisada. O corpo permaneceu ocultado por cerca de um mês.
Após a operação do DRACO em 22 de outubro e o avanço das apurações do DHPP, os criminosos decidiram remover o corpo. Eles retornaram à Vila Babilônia, desenterraram o cadáver, já em decomposição, e obrigaram um morador, sob ameaça, a fornecer o carro usado no transporte.
"Em seguida, eles pegaram esse morador, levaram até o corpo, colocaram o corpo dentro do cadáver da vítima, dentro desse veículo do morador, e o morador, juntamente com eles, levaram o cadáver da vítima até a BR-316. É importante ressaltar que se trata de uma célula dessa facção, que atua no que eles se autodenominam tribunal do crime", disse Danúbio Dias.
Suspeitos e funções dentro da facção
A operação identificou e responsabilizou integrantes do Bonde dos 40 que atuaram em diferentes etapas do crime:
• Elianderson de Souza Silva (Piloto) – preso; conduziu a vítima do clube ao apartamento.
• Carlos Alberto Ferreira Filho (Pônei / Chocolate) – preso; apontou Bartô dentro do clube como suposto rival.
• Gutenberg Pereira da Silva (Magão / Gugu) – preso; teria fornecido o apartamento onde ocorreram torturas.
• Samuel dos Santos Siqueira Torres (Cara de Mal / Maguin) – foragido; considerado violento e responsável por impedir a mãe de intervir.
• Jardielson Araújo Soares – também foragido; apontado como responsável pelo núcleo financeiro da facção.
Motivação
O grupo afirma que Bartô integrava uma facção rival, o que teria motivado o “julgamento” e a execução. A família nega essa informação. A dinâmica violenta do caso reforça, segundo o DHPP, a atuação do grupo como um “tribunal do crime” na região.