A declaração da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, sobre a possibilidade de revisão de penas para condenados pelos atos do 8 de Janeiro provocou reações imediatas no Supremo Tribunal Federal (STF). Durante entrevista na noite desta quinta-feira (10/4), Gleisi afirmou considerar "plenamente defensável" discutir no Congresso a redução de penas para civis envolvidos nos ataques antidemocráticos de 2023.
Apesar de ter reforçado sua oposição ao projeto de anistia em tramitação na Câmara — por entender que ele beneficiaria o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e militares —, a fala foi recebida com desconforto por ministros do STF. Eles avaliam que o comentário pode ser visto como uma tentativa de interferência no Judiciário. Segundo apuração, ao menos três magistrados reagiram negativamente e procuraram auxiliares do presidente Lula para expressar contrariedade. Um deles classificou a declaração como "suicídio político" e alertou que o governo poderá ser responsabilizado por eventuais desdobramentos.
Em resposta, assessores do Palácio do Planalto tentaram minimizar a crise, argumentando que Gleisi foi mal interpretada e que Lula não apoia a revisão de penas. Interlocutores próximos à ministra sugeriram que a declaração teria sido influenciada por pressões do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que busca apoio para destravar o projeto de anistia.
O tema ganhou urgência após o líder do PL, Sóstenes Cavalcante, anunciar a coleta das 257 assinaturas necessárias para votação em regime de urgência. Se aprovado, o texto poderá ir direto ao plenário, aumentando a pressão sobre o governo.
Gleisi se retrata, mas mantém crítica à anistia
Após a repercussão, a ministra publicou uma nota no X (antigo Twitter) para esclarecer seu posicionamento:
Entendo sim que esse debate pode e deve ser feito na sociedade, inclusive no Congresso (...), mas sem interferir na autonomia do Poder Judiciário.
Ela reiterou suas críticas ao projeto de anistia, argumentando que a proposta atual visa absolver os principais articuladores dos ataques.
O episódio expõe a sensibilidade do tema no governo, que tenta equilibrar a defesa da democracia com pressões políticas no Congresso. Enquanto isso, o STF mantém seu alerta: qualquer sinal de flexibilização pode ser interpretado como afrouxamento no combate ao extremismo.