Uma imagem rara resgata um momento decisivo da redemocratização brasileira: governadores eleitos em 1982, ainda sob regime ditatorial. Na fotografia histórica, um grupo de políticos que assumiu o comando dos estados naquele ano posa lado a lado. Com informações da TV Senado.
Entre os nomes, está o do piauiense Hugo Napoleão, eleito governador do Piauí pelo então PDS (Partido Democrático Social). Ele aparece em pé, ao lado de outras figuras que viriam a desempenhar papéis relevantes na história política brasileira.
Da esquerda para a direita, em pé, estão:
• Hugo Napoleão (PI),
• Iris Rezende (GO),
• Jader Barbalho (PA),
• Divaldo Suruagy (AL),
• Gerson Camata (ES),
• João Alves Filho (SE),
• José Agripino (RN),
• Senador Marco Maciel (PE),
• José Richa (PR).
Sentados:
• Nabor Júnior (AC),
• Amazonino Mendes (AM),
• Gonzaga Mota (CE),
• Franco Montoro (SP),
• Deputado Ulysses Guimarães (SP),
• Tancredo Neves (MG),
• Vice-Presidente José Sarney (MA),
• Roberto Magalhães (PE).
Ausências na foto, por diferentes motivos:
• Luís Rocha (MA),
• Wilson Braga (PB),
• João Durval Carneiro (BA),
• Júlio Campos (MT),
• Leonel Brizola (RJ),
• Esperidião Amin (SC),
• Jair Soares (RS).
A POSSE EM 1983
No dia 15 de março de 1983, tomaram posse os primeiros governadores eleitos pelo voto direto desde o golpe militar de 1964. As eleições haviam ocorrido em 1982 e marcaram o início de uma nova fase no país, que estava saindo aos poucos do regime ditatorial. Esse processo abriu caminho para o movimento Diretas Já, que mobilizou milhões de brasileiros pela volta das eleições diretas para presidente.
Naquela época, o Brasil estava há 18 anos sob o comando dos militares. Nesse período, a população só podia votar para cargos do Legislativo. A situação começou a mudar em 1979, com a criação da Lei da Anistia e o fim do sistema bipartidário. Essas medidas ajudaram a fortalecer a oposição e preparar o terreno para as mudanças que viriam.
O resultado das eleições de 1982 mostrou que a oposição estava ganhando espaço. O PDS, partido que apoiava os militares, venceu em 12 estados. Já o PMDB e o PDT, que faziam oposição, conquistaram 10 governos (nove e um, respectivamente). Mesmo assim, tanto os governadores ligados ao regime quanto os oposicionistas evitaram confrontos diretos com os militares. A maioria buscava manter um tom moderado para não prejudicar o processo de abertura política.
CAMPANHA NA TV
A campanha naquela época era bem diferente das atuais. Na TV, os candidatos podiam apenas exibir uma foto, um breve currículo e participar de debates. Boa parte das campanhas acontecia nas ruas, por meio de discursos. Ainda assim, havia preocupação com possíveis fraudes. O PT e o PMDB se uniram para fiscalizar a apuração, que era feita manualmente. Os votos eram vinculados, ou seja, o eleitor tinha que votar em todos os cargos para o mesmo partido.
Um dos episódios mais marcantes foi no Rio de Janeiro, onde Leonel Brizola, candidato do PDT, acusou a TV Globo e o instituto Proconsult de tentarem manipulá-lo durante a apuração. A projeção inicial dava a vitória ao candidato do PDS, Moreira Franco. Brizola venceu, mas a denúncia virou um símbolo das tensões daquela eleição.
Mesmo após a posse, os governadores eleitos em 1982 ainda tinham que lidar com o controle dos militares, que indicavam nomes para cargos importantes nos governos estaduais. Em São Paulo, por exemplo, havia receio de que qualquer protesto popular fosse usado como desculpa para interromper a transição democrática.
DIRETAS JÁ
Foi nesse cenário que nasceu o movimento Diretas Já. Em 1983, os primeiros protestos começaram em Pernambuco e se espalharam pelo país. A pressão cresceu com a proposta da emenda Dante de Oliveira, que previa eleições diretas para presidente. A emenda foi derrotada no Congresso, mas a mobilização popular continuou forte. Em abril de 1984, mais de 1 milhão de pessoas foram às ruas só em São Paulo.
Mesmo sem conseguir as eleições diretas naquele momento, o movimento resultou na eleição de Tancredo Neves como presidente pelo Colégio Eleitoral, em 1985. Tancredo havia sido eleito governador de Minas Gerais em 1982, ao lado de nomes como Franco Montoro, em São Paulo, e Leonel Brizola, no Rio de Janeiro — todos líderes importantes da redemocratização.
As eleições de 1982, portanto, foram muito mais do que uma simples disputa estadual: representaram o primeiro passo rumo ao fim da ditadura militar e à retomada da democracia no Brasil.