Pertencer a uma cidade, a um bairro ou a uma casa é mais do que apenas morar: é vivenciar o que o lugar oferece e contribuir para que ele se torne cada vez mais acolhedor, garantindo que seu desenvolvimento signifique bem-estar coletivo. Inspirada no poeta Torquato Neto, que questiona “É uma cidade que habita os homens ou são eles que moram nela?”, uma iniciativa busca devolver ao Centro de Teresina o sentido de habitação, pertencimento e permanência das pessoas.
Em apenas dez anos, a região central da capital perdeu cerca de 23 mil moradores, apesar da infraestrutura consolidada com acesso a escola, saúde, cultura e transporte. O crescimento urbano avançou para os extremos da cidade, onde o custo habitacional era menor, e o comércio acompanhou esse movimento. Com a pandemia da Covid-19, o esvaziamento do Centro se agravou. Um levantamento da Secretaria Estadual da Administração (Sead) apontou que a vacância de imóveis na região aumenta, em média, 5% a cada seis meses, indicando a necessidade de estratégias para retomar a circulação de pessoas e revitalizar o coração da cidade.
Moradora do Centro e design de interiores, Henriqueta Castelo Branco lembra de um passado diferente. “Passei grande parte da minha vida vivendo e ainda moro no Centro. Nas décadas de setenta, oitenta e noventa, a região tinha vida: comércio, residências, cultura, segurança, transporte, lazer, tudo acontecia aqui. É natural que a cidade busque novos espaços e que shoppings e centros comerciais surjam, mas é preciso preservar a identidade e a história do lugar”, afirmou. Ela mantém seu ateliê artesanal na rua Desembargador Freitas.
Uma das estratégias do governo é repovoar o Centro. O levantamento identificou imóveis públicos sem função, e um deles foi escolhido para receber o primeiro empreendimento habitacional de interesse social na região, com recursos do programa Minha Casa, Minha Vida. O prédio, onde funcionava o Instituto de Identificação, em frente à Praça Saraiva, será transformado em moradia.
“Estamos conduzindo uma estratégia inteligente para que o Centro volte a ser um espaço vivo, com circulação de pessoas, serviços e oportunidades. Nosso objetivo é dar uso adequado a imóveis públicos, transformando o que está em desuso em locais de impacto positivo, seja em cidadania, educação, inovação ou habitação. O projeto habitacional em frente à Praça Saraiva simboliza essa integração entre moradia social e revitalização urbana, tornando o Centro mais dinâmico, inclusivo e sustentável”, explicou o secretário da Administração, Samuel Nascimento.
Para os que permanecem na região, a chegada de novos moradores é vista como essencial. “Vejo com bons olhos a retomada das moradias. É uma ótima maneira de reverter o abandono. Não se trata de retrocesso, mas de preservar a identidade cultural e arquitetônica que conta a história da nossa comunidade. Manter moradores no Centro é uma das melhores estratégias para manter viva a nossa memória”, reforçou Henriqueta.
Além das habitações, a Sead avalia dar função social a outros 75 imóveis públicos na região, seja por cessão ou reocupação. O objetivo é ressignificar esses espaços e integrá-los à dinâmica urbana. Um exemplo já em funcionamento é o Espaço da Cidadania Digital, na rua Clodoaldo Freitas, onde antes havia um prédio ocioso. Hoje, o local abriga o Instituto de Cidadania Digital Félix Pacheco e o Piauí Gov Tech, promovendo a integração entre governo, universidades e startups, com foco em inovação e modernização da gestão pública. A proposta é oferecer serviços mais ágeis e tecnológicos em um espaço central e de fácil acesso.